Pequena nota
São passados quase 17 anos que escrevi este pequeno texto que como se indica foi publicado no Jornal do Algarve, de Vila Real de Santo António. Apesar disso e se passássemos os 623 para 640, o texto podia ser publicado integralmente no próximo dia 31 de Março, já que toda a situação, pelo que conhecemos, é a mesma.
JV
(PUBLICADO NO JORNAL DO ALGARVE DE 31 DE MARÇO DE 1994)
[Alcoutim visto por Duarte de Armas, Séc.XVI]
Saindo o jornal às quintas-feiras, acontece que o dia 31 de Março coincide com aquele dia da semana.
Algum alcoutenejo se lembrou do significado da data?
Não é fácil já que estes dias só são normalmente lembrados quando deles beneficiamos de alguma coisa. E Alcoutim até tem um feriado municipal sem data e sem qualquer significado!
Acontece que a pequena vila raiana é muitas vezes só conhecida da História, por este facto!
O prof. Doutor José Hermano Saraiva, conhecido historiador e homem de T.V., confessa que só conhecia Alcoutim da História, como refere no “Itinerário Português – O Tempo e a Alma”, pág. 372. Afinal, acontece o mesmo com muita gente na qual estivemos incluídos.
Alcoutim só ficou ligada ao resto do país, por estrada, nos meados deste século e mesmo assim constituía um beco sem saída.
Na esteira desta afirmação, dois pequenos episódios.
Quando fui colocado em Alcoutim, em 1967 e apresentei os meus cumprimentos de despedida ao dirigente máximo do distrito onde servia, afirmou-me que agora tinha sorte, pois ainda há pouco só se chegava a Alcoutim pela via fluvial. Ficámos admirados.
O outro episódio parece anedota, mas não é.
Na época invernal as enchentes do Guadiana provocavam algumas vezes a suspensão das carreiras fluviais. Então, o Presidente da Câmara para comparecer às reuniões que se realizavam em Faro, tinha que seguir via Espanha, isto é, atravessava o rio para Sanlúcar, seguindo dali para Aiamonte, apanhando o barco para Vila Real de Santo António! Depois era o normal.
Não vamos aqui esmiuçar a Paz de Alcoutim. Quem o quiser saber procurá-lo-á, na Crónica de D. Fernando, de Fernão Lopes. Lá encontrará a descrição histórica de que não consta… aqui encontraram-se no meio do rio, em engalanadas embarcações, os reis D. Fernando I de Portugal e D. Henrique II de Castela para celebrarem a Paz de Alcoutim em 1371, que veio pôr termo à guerra entre os dois países.Esta descrição encontrei-a em Um Pouco de História, texto englobado num folheto turístico emitido pela Região de Turismo do Algarve, em 1988.
Nem as conversações se teriam realizado no meio do rio e muito menos teriam aqui estado, pelo menos nessa altura, os monarcas em conflito. É o que deduzimos da leitura do capítulo LIII da referida crónica, que pensamos ser o mais fidedigno documento histórico do evento.
Se não vamos referir as cláusulas do Tratado, os seus intervenientes e os resultados obtidos, então porque pegámos na efeméride?
Como dissemos, há pessoas que só conhecem Alcoutim da História, mais propriamente por este Tratado (já várias vezes o ouvimos questionar em concursos televisivos). Todos os historiadores que escreveram Histórias de Portugal, não o ignoraram e referem-no sempre.
[Alcoutim visto de Espanha num desenho de Hilary Payton]
A “Paz de Alcoutim”, já o escrevemos, é certamente o facto histórico mais importante passado nesta vila, até aos nossos dias mas… nada na vila o faz lembrar ou conhecer aos forasteiros. E é por isso que aqui estamos. Se um dos caminhos apontados para o desenvolvimento local é o turismo, seria bom, no nosso modesto entender, que algo fosse feito para lembrar tal acontecimento.
Mas o quê? Como fazê-lo? São capazes de aparecer algumas ideias – é preciso debatê-las e optar por aquela que seja considerada mais positiva.
Preservar o núcleo histórico onde têm sido cometidos vários “crimes” e enriquecer o Alcoutim Novo, pensamos que seriam pontos de partida para o equilíbrio desejado.
Aqui deixamos o alvitre às Entidades responsáveis, na passagem de mais um aniversário da Paz de Alcoutim.