Os responsáveis de quatro das cinco paróquias que constituíam o concelho de Alcoutim, informa o Juiz de Fora que o “Sistema Constitucional” está a ser sabiamente explicado todos os dias em que há missa.
São lidos os decretos do “Soberano Congresso” que analisam com toda a clareza, fazendo ver os resultados que originam tais leis.
Têm-no feito o Prior de Alcoutim, José Joaquim Cavaco, o Pároco de Cachopo (então pertencente ao concelho de Alcoutim) Frei Joaquim de Lagos e igualmente os Párocos de Giões, José Rodrigues Teixeira, o de Vaqueiros, Frei António do Carmo e Azevedo e o de Pereiro, Francisco de Paula.
Os três últimos, no dia do aniversário da instalação das Cortes, juntaram-se nas suas igrejas e fizeram festas Constitucionais, pregando em todas elas o Padre Frei Francisco Bento, na altura coadjutor de Vaqueiros e em que mostrou o quanto está possuído do Sistema actual. (1)
Verifica-se assim que o pároco de Martim Longo não aparece referido mas pensamos que o lugar não estaria vago até porque teria coadjutor.
Nestas alturas a classe eclesiástica era numerosa e se existiam aderentes ao regime constitucional (liberal), a grande maioria era contrária alinhando a favor do absolutismo.
O Prior José Joaquim Cavaco, que era natural de Loulé, é nosso “conhecido” pelas posições que tomou a favor do liberalismo, vindo a ser Cónego na Sé de Faro. Foi pronunciado com muitos mais na devassa aberta no Algarve para conhecimento dos eclesiásticos envolvidos na rebelião (Maio de 1828). Foi acusado de reunir na sua residência, na vila, indivíduos conhecidos pelas suas ideias liberais e revolucionárias que procuravam a anulação da aclamação de D. Miguel. Por acórdão de 8 de Julho de 1831 foi condenado a dez anos de degredo para a ilha de S. Tomé e a 10 mil réis para as despesas da relação, o que julgo não teria cumprido devido ao desenvolvimento dos acontecimentos políticos. (2)
Também o Pároco de Giões, de onde era natural, ficou referido pelas posições firmes que tomou nesta área, acabando por ter fugido e morrido em Lisboa como já aqui referimos numa pequena nota biográfica que organizámos sobre ele. (3)
Com D. Miguel no poder naturalmente que em Alcoutim também aparecem os seus apoiantes. A nível de auxílio monetário para a luta a travar (donativos), a Gazeta de Lisboa de 15 de Janeiro de 1829 refere as seguintes contribuições em relação à freguesia de S. Mamede (4) de Alcoutim: [*]
Ver. Vigário, José Joaquim Soares de Barros, 2$400 réis
Cap. Manuel José Teixeira Rebelo, 248 réis
José António Marques, lavrador, 240 réis
José António do Pinhão, 480 réis
José Teixeira, lavrador, 240 réis
Cristóvão de Almeida Soares Gavião, 24 mil réis
O Vigário José Joaquim Soares de Barros também não o “conheço”nem o vejo referido em assentos de baptismo, casamento ou óbitos da época. Em assentos de baptismo de 1831 já aparece o Padre António Madeira de Freitas que admito o possa ter substituído.
O Cap. Manuel José Teixeira Rebelo já não aparece referido na listagem das Companhias de Ordenanças do Algarve de 1 de Março de 1831. (5). Possivelmente tem a ver com a numerosa família Teixeira ou hipoteticamente com os Rebelos da Revelada ou Rebolada.
José António do Pinhão, o Pinhão deve estar aqui como zona rústica que se seguia ao quartel da extinta Guarda-Fiscal
A verba subscrita por Cristóvão de Almeida Soares Gavião é muito elevada pelo menos em relação aos outros donativos. Estará relacionado familiarmente com o padre igualmente subscritor? Estará relacionado com a família Almeida, oriunda de Loulé e que se fixou em Alcoutim durante muito anos? Não sei mas a verdade é que não o “conheço” das lides alcoutenejas dessas épocas.
Mais tarde, em 1833, numa nova ronda, os participantes foram:
Capitão.Mor, Sebastião José Teixeira, 2$880 réis
Ver. Prior, Pedro Palma (?)
Afonso Guerreiro Drago e outros 19$870 réis (6)
Sebastião José Teixeira é figura “conhecida” ainda que se possam fazer confusões com outras figuras com o mesmo nome ou muito semelhante, sabe-se que em 1821 era Major Comandante das Ordenanças. (7)
Em 1823 aparece um Sebastião José Teixeira detido na cadeia devido a certas “alterações” por ele efectuadas nos livros da sisa e uma controversa eleição para a edilidade local realizada no ano anterior. (8)
Por sua vez, José de Brito Magro teve um filho chamado Sebastião José Teixeira, cujo avô materno, de Martim Longo, tinha o mesmo nome.
Em 1831 há um capitão-mor da Capitania – Mor de Ordenanças de Alcoutim com o mesmo nome, sendo a autoridade máxima nesta área no concelho que possuía 8 Capitanias.
Não é fácil desmanchar esta teia.
Afonso Guerreiro Drago deve estar relacionado com uma família que aqui possuiu pelo menos uma grande propriedade rústica.
Aqui fica algo para se juntar ao que já se conhecia sobre este assunto.
_________________________________________
NOTAS
(1) - Suplemento nº 30 do Diário do Governo de 3 de Junho de 1822
(2) – “O Reinado de D. Miguel e Alcoutim”, Jornal do Baixo Guadiana, nº 78, de Setembro de 2006, p. 16
(3) – José Rodrigues Teixeira (P.dre), “Postagem” de 11.06.2009, in Figuras do Baixo Guadiana
(4) – Não me consta que alguma das freguesias de Alcoutim tivesse por patrono tal Santo. Que a de Alcoutim tivesse sido de Santa Maria, sim, S. Mamede nunca encontrei tal.
(5) – Notas soltas de História do Algarve – http://algarveantigo.com
(6) – Gazeta de Lisboa de 18 de Maio de 1833.
(7) – Estudos de História do Algarve, José Carlos Vilhena Mesquita, AJEA Edições, 2002, p. 112.
(8) – Idem, ibidem, p. 105
[*] Foi-me chamado hoje a atenção 2013.11.10) pelo Sr. Cristiano Cardoso que a freguesia não é São Mamede de Alcoutim mas sim de Alentém (freguesia extinta pertencente ao antigo concelho de Unhão, e hoje incorporado na freguesia de Vilar do Torno e Alentém, concelho de Lousada onde os nomes são conhecidos na antroponímia local.
O erro tipográfico levou a isto.
Mais uma vez agradeço a informação.
JV