Antes do ensino primário oficial chegar às Cortes Pereiras, apareciam os chamados mestres de escola que procuravam transmitir o pouco que sabiam a troco de alguns escudos ou de produtos agrícolas, conforme as possibilidades de cada um e o contrato formulado.
Um velho amigo, (1) nascido em 1917 nas Cortes Pereiras e que fez exame da 4ª classe, deslocava-se diariamente à vila, onde estava matriculado na escola, tendo sido aluno do prof. Trindade e Lima.
Segundo me informou outro amigo de Afonso Vicente e há muito falecido, (2) já havia escola oficial nas Cortes Pereiras em 1929, visto ele ter passado do posto de Sta. Marta, que frequentava, para a escola das Cortes que, entretanto, tinha sido criada.
[2ª lugar onde funcionou a escola, no Monte Longo. Foto JV, 2009]
Dizem-me que a escola teria começado a funcionar numas casas no Monte Longo que eram propriedade de António Gomes Alves e como este tivesse tido necessidade delas, cedeu uma divisão para a professora exercer o seu ministério, nas casas onde vivia e que recentemente foram restauradas, igualmente no Monte Longo. Exercia as funções a professora oficial, Maria José Correia.
Houve grandes confusões com esta nova mudança, pois tratando-se de uma casa agrícola havia movimento e os alunos não se concentravam, o lavrador António Gomes Alves resolveu oferecer o terreno necessário, se o povo assim quisesse, para construir uma escola onde o ensino pudesse ser praticado.
A população apoiou a ideia e com o dinheiro de uns e o trabalho de outros depressa puseram as quatro paredes de pé e que ficaram constituindo a escola por onde passaram gerações e gerações de cortes-pereirenses.
Na sua frente fizeram um pequeno pátio que constituía o recreio das crianças.
[Edifício construído pelo povo para funcionar a escola primária, hoje sede da Associação "Unidos do Monte". Foto JV, 2010]
Pelos elementos que me têm fornecido, esta escola deverá ter iniciado as suas funções em 1934 e nestes anos António Gomes Alves era vogal da comissão administrativa da Câmara Municipal de Alcoutim e foi-o por largos anos.
A professora Maria José Correia que exerceu o lugar por vários anos foi substituída pela professora Maria Celeste Martins que exercia essas funções pelo menos em 1954/1956. (3)
Em meados do século XX a população começa a descer com o abandono das terras e a procura de melhores condições de vida, primeiro com deslocações para a cintura industrial de Lisboa, principalmente na zona sul, depois para o litoral algarvio e mesmo para o estrangeiro, nomeadamente para a França e Alemanha.
As dezenas de crianças em idade escolar começam a descer a olhos vistos e é já numa situação de total declínio que se constrói o último edifício escolar. Este sim com um mínimo de condições para o efeito, até porque obedecia a um plano nacional.
Uma sala, casas de banho, uma cisterna,” hall” e amplo recreio, devidamente murado.
[O último edifício escolar, de modelo oficial e que funcionou nas Cortes Pereiras. Hoje foi adaptada a casa mortuária. Foto JV, 2010]
O número de alunos desceu tão consideravelmente que, cerca de 1980 a escola foi encerrada por falta de frequência. Os existentes começaram a ser transportados para a escola da aldeia do Pereiro, ajudando esta a manter-se por alguns anos ainda que poucos.
NOTAS
(1) – O nosso saudoso amigo, José Martins, vulgo José Coelho, que se fixou em Afonso Vicente.
(2) – António Patrício, vulgo António Pedro, que trabalhou muitos anos na extinta Junta Autónoma das Estradas, onde se aposentou.
(3) – Anuário Comercial.