quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Monte Argil, pequena povoação quase perdida nas serranias do Caldeirão
Como acontece com outras povoações do concelho de Alcoutim, também temos dúvidas em escrever o seu nome pois aparece grafado ora como Monte Argil ora como Montargil. Para o significado do topónimo penso que tal diferença não tem importância.
Nos Memórias Paroquiais (1758), onde já aparece referido, é escrito separadamente. Silva Lopes, no cômputo que dá dos fogos em 1839, não o refere mas quando faz as confrontações da freguesia de Martim Longo indica o Serro de Montargil (p.401).
O Novo Dicionário Corográfico (1) que habitualmente consultamos não indica a pequena povoação, ainda que o faça em relação a outras muito mais importantes, nomeadamente à do concelho de Ponte Sor que em tempos foi sede de concelho e aqui aparece numa só palavra.
José Pedro Machado (2) assinala a existência desta pequena povoação juntamente com mais quatro espalhadas pelo país, todas a Sul do Tejo e escreve o topónimo numa só palavra.
Mesmo que possa haver outras hipóteses discutíveis, penso que a origem do topónimo deve de estar na existência de algum filão argiloso, barrento.
Situa-se a cerca de 9 km de Martim Longo, sede de freguesia e a 39 de Alcoutim, sede do concelho.
Saindo de Martim Longo pela estrada nº 124, em direcção ao Barranco do Velho, vamos encontrar à esquerda a indicação de um caminho de alguns quilómetros de piso não recomendável para um veículo de automóvel normal, que nos levará à pequena povoação.
Vencemos um barranco de alguma dimensão através de uma espécie de ponte que num Inverno rigoroso temos dúvidas que dê passagem. A povoação, que se situa numa elevação e nos limites do concelho e das freguesias de Martim Longo e Vaqueiros, liga a Pão Duro, já da freguesia de Vaqueiros, a partir da qual tem caminho asfaltado.
[A "ponte" que vence o barranco. Foto JV, 2010]
Referiremos agora dois pequenos factos que situámos e que acabam por fazer parte da história desta pequena localidade.
Em 1879 um habitante do “monte”, num acto pouco dignificante, amarrou ao rabo de um cão um tiro de dinamite a que deu fogo. Acabou por ficar ferido num pé, o que lhe veio causar a morte quarenta dias depois. (4)
Num outro âmbito, nada comparável, um casal, Manuel Fernandes e Antónia Guerreiro, que aqui vivia, tinha seis filhos provenientes de três partos gemelares, sendo todos vivos em 1882. (5) Significa isto que só esta família tinha mais gente do que todo o “monte” em 1991, segundo o censo, visto lhe ser atribuído seis habitantes. Nesta altura era apontado como tendo 11 edifícios.
No censo de 2001 pelo seu número ser inferior a onze os seus habitantes foram contabilizados nos “isolados”.
Em 1911 eram setenta e dois. De 1940 a 1970 a população estabilizou à volta dos cinquenta habitantes, mas a partir daí sofreu grande declínio.
[Apesar de tudo, ainda há vida no monte! Foto JV, 2010]
Apesar de tudo, em 10 de Dezembro de 1992 é inaugurada a luz eléctrica (6) e no ano seguinte pavimentados os seus arruamentos. Igualmente, neste ano, a 29 de Dezembro, foi instalado um telefone pelo sistema de rede multicelular fixa, permitindo a instalação por feixe hertziano, não havendo assim necessidade de recorrer à colocação de postes. (7)
NOTAS
(1)– A.C. Amaral Frazão, Editorial Domingos Barreira, Porto, 1981
(2)– Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, Horizonte/Confluência, II Volume, p.1017
(3)– http:www.cm-alcoutim.pt
(4)– Of. Nº 27 de 10 de Março de 1879, do Administrador do Concelho.
(5)– Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim, de 15 de Junho de 1882
(6)– Boletim Municipal nº 12 de Abril de 1993.
(7)– Jornal do Algarve de 5 de Janeiro de 1994