quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A rifa das laranjas na aldeia do Pereiro



Tive conhecimento deste costume, hoje completamente caído em desuso e que só os mais velhos recordarão, num “monte” da freguesia de Alcoutim, não haverá muitos anos.

Mas afinal o que é a rifa das laranjas?

Aquilo a que vulgarmente se chama a fruta era e é pobre na freguesia do Pereiro. Figos, marmelos, algumas romãs e uvas provenientes de “parrões”, eram o que se podia produzir nos lugares de melhor terreno e normalmente situados junto de ribeiras e barrancos.

O fruto proveniente do enxerto de um pereiro bravo e o dado pelas tunas (opúncias) constituíam as alternativas.

O homem, procura, entretanto criar frutos mais apetecíveis, mais finos, mais atractivos, pelo que, nos locais mais propícios, planta a sua laranjeira. Com redobrados cuidados consegue que se vá desenvolvendo e algumas conseguiram portes assinaláveis.

E agora o que fazer aos apetecíveis frutos tornando o investimento rentável?

Nessas alturas não havia dinheiro disponível para comprar um quilo ou dois de laranjas! Mesmo quem o tivesse, faria um mau governo, para utilizar uma expressão local.

O que fazer então?

O proprietário, apanhando uma canastra de laranjas, promovia a sua “rifa”, isto é, fazia constar no povo que nesse dia haveria rifa de laranjas na sua casa ou na casa de fulano, muitas vezes numa casa comercial.

A notícia corria célere e à hora marcada juntavam-se os jogadores, que iam dos mais idosos aos adolescentes enviados por familiares.

O produtor de laranjas lá estava a um canto da casa, sentado na sua cadeira de tabua e tendo ao lado a canastra de laranjas.

Cada pretenso jogador comprava umas tantas. Ao iniciar-se a rifa, quem pretendesse entrar no jogo colocava no bolo a sua parte, isto é, uma laranja. Munido de um baralho de cartas, um dos jogadores, depois de previamente embaralhadas e partidas, dava três cartas a cada jogador e tirava o trunfo. Quem tivesse o maior trunfo, arrecadava a totalidade do bolo e nova jogatana se realizava, rodando naturalmente o jogador que dava as cartas. As laranjas iam desaparecendo e quem já não tinha, voltava a abastecer-se. Enquanto uns deixavam de jogar pois já tinham laranjas suficientes, outros iam aparecendo e tentando a sua sorte.

Com esta maneira simples, o produtor conseguia vender a produção, assegurando o seu rendimento.
Era assim a rifa das laranjas!

Nota
Extraído com adaptação de "A Freguesia do Pereiro (do concelho de Alcoutim) «do passado ao presente»", Edição da Junta de Freguesia do Pereiro, 2007, p. 191