sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Bemposta, como o nome indica, abrigada na falda de um cerro e próximo de um curso de água
Um dos muitos “montes” que constituem a serrana freguesia de Vaqueiros, situado para além da Ribeira de Odeleite e que antes de 1836 pertencia ao termo de Tavira, ainda que já pertencesse à freguesia de Vaqueiros.
Pertence ao grupo de pequenas povoações que se espalham por todo o concelho e nomeadamente nesta freguesia, pois o isolamento obrigou o homem a construir o seu fogo no local onde possuía terrenos cujo amanho lhe proporcionava a subsistência e tomando em consideração a existência próxima da indispensável água.
Já é referida com este nome nas Memórias Paroquiais (1758), contando na altura com três vizinhos, o mesmo apresentado pela Várzea, Montinho da Várzea, Preguiça, Alcarias Galegas (Monte do Galego?) e Jardos, enquanto Monchique, Monte Novo, Malfrade, Madeiras e Casa Nova só tinham dois. Ferrarias, Mesquita e Galachos estavam num patamar superior pois tinham quatro vizinhos cada.
De todos estes montes só Malfrade avançou consideravelmente, ainda que em decréscimo, é dos montes mais populosos da freguesia.
Após vencermos a ponte dos Bentos sobre a Ribeira de Odeleite, no sentido norte/sul , tomamos a estrada da esquerda que é a subir para novamente descer depois de vencida a altitude. Passamos por uma pequena ponte de um pilar, construída para vencer um barranco de dimensões razoáveis. Na sua área os terrenos propiciam pequenos hortejos e na altura podia ver-se um bonito batatal.
Voltámos naturalmente a subir e depois de passarmos o desvio de terra batida para o Vale da Rosa, aparece-nos à direita esta pequenina povoação aconchegada na falda do cerro e à direita da estrada.
Bemposta, o seu nome, é topónimo muito frequente em Portugal e na Galiza havendo mesmo no Estado do Rio de Janeiro uma vila assim chamada. De bem posta em referência à topografia da vila, aldeia, povoação, herdade, quinta, etc. (1)
No dicionário que habitualmente consultamos para o efeito, encontrámos referidas 37, incluindo a da freguesia de Vaqueiros. (2)
Após anos de completo abandono, que em parte ainda se nota, aconteceu o regresso de um dos seus filhos que sozinho fez reviver o pequeno monte, notando-se a recuperação de dois ou três fogos.
Em 1996 a Câmara pretendia electrificá-lo (3) o que hoje se verifica como demonstra a foto apresentada. Neste mesmo ano é instalada uma caixa de recepção do correio. É igualmente feita a recolha do lixo.
Do outro lado do barranco o indispensável poço apetrechado de bomba elevatória e que fornece o precioso líquido.
Na última visita que fizemos ao monte, notámos um fogo em franca actividade, possivelmente por ter recebido visita de familiares.
[O poço do monte apetrechado de bomba elevatória. Foto JV, 2011]
Ainda que só o tivéssemos conhecido após a possibilidade de passagem de um veículo automóvel, no caso um jipe, desde os primórdios da nossa chegada a Alcoutim conhecêmo-lo bem e fixámos o seu nome.
Mensalmente atendíamos o Sr. Silvino Domingos que saindo de madrugada do monte só regressava a altas horas da noite fazendo o percurso em animal de sela, a pé e em transportes públicos. Ia receber uma diminuta pensão de sangue proveniente de um filho, vítima da guerra colonial em 1967, na Guiné e que era o 1º cabo António da Silva Domingos.
Apesar de tantos anos passados nunca nos esquecemos do seu nome e da sua figura meã, andava vestido de preto e quando recebia os míseros escudos deixava sempre escapar uma lágrima acompanhando-a com a seguinte frase: “este dinheiro queima-me as mãos”. E o que aconteceu ao Sr. Silvino, aconteceu a milhares de pais e outros familiares espalhados pelo país.
O Sr. Silvino tinha dez filhos sendo dois do sexo masculino. Só na sua casa seriam dez pessoas.
É um seu descendente que ainda dá vida ao monte.
NOTAS
(1) - Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, José Pedro Machado, Horizonte/Confluência, Vol. I p. 239
(2) - Novo Dicionário Corográfico de Portugal, de A.C.Amaral Frazão, Editorial de Domingos Barreira, Porto, 1981, p 99
(3) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 4 de Dezembro de 1996, p 12