domingo, 25 de setembro de 2011

Festas de Alcoutim, 60 Anos

TEXTO ESCRITO E LIDO POR

JOSÉ MADEIRA SERAFIM

NO DIA DO MUNICÍPIO

[Recinto das Festas engalanado em 1985. Foto JV]

Exmo. Senhor Presidente da Assembleia Municipal
Exmo. Senhor Presidente da Câmara
Exmos. Senhores Vereadores
Excelentíssimas autoridades presentes
Minhas senhoras e meus senhores


Eu era uma criança de 6 anos quando elas começaram.

De pouco me lembro, embora uma ou outra situação apareça na minha memória como se fosse uma fotografía.

Já mais tarde, as reuniões anuais na antiga sala de sessões da Câmara, presididas pelo Senhor professor Amaral e Presidente da Edilidade, onde eram delineados os objectivos e escolhida a Comissão de Festas. Eu e meus amigos ficávamos junto à porta ou nas escadas de acesso, tanta a afluência de pessoas.

Muito jovem ainda, íamos à Câmara buscar os papelinhos que enrolados seriam os bilhetes vendidos na kermesse. O tal bichinho das festas começava a funcionar.

Nas noites quentes de Agosto juntavam-se quase todos os rapazes e raparigas para colar as bandeirínhas em grandes cordas de sisal, que serviam para ornamentar o recinto. Eram noites muito animadas e de grande confraternização.

E as raparigas remendando a cobertura da kermesse que já era muito velha. Recordo perfeitamente, à porta da Bia Martinho.

Depois foram os peditórios pelos montes, muitas vezes com sacos de trigo às costas, porque esse era o produto que as pessoas tinham mais disponível para oferecer. Nestes peditórios aconteciam sempre as mais diversas peripécias. Para nós jovens eram autênticas aventuras. Ainda hoje é comentado entre os intervenientes, quando porventura nos encontramos, um peditório que fomos fazer aos montes do rio, na lancha do Manuel Balbino.

Aos poucos íamos, de uma ou outra forma, colaborando com as organizações. Na bilheteira, nas mesas, nas portas, onde fazia falta.

A tal divertida madrugada de ir à Lourinhã apanhar canas e loendros par enfeitar o palco e os paus que suportavam as bandeirinhas e a iluminação. Eram jangadas de canas ao sabor da maré e com os barcos a remos fazendo o controlo.

Um rancho folclórico foi constituído especialmente para actuar nas Festas.

Lembro-me com toda a certeza que a ideia partiu da Drª Maria Luiza Anselmo, que aqui foi Notária durante alguns anos, e que nessa altura fazia parte da Comissão de Festas.

Tanto quanto sei continua a ser uma grande dinamizadora na área da cultura, na sua zona de origem. Lagoa/Silves.

Como já havia sido constituído outro rancho, anos atrás, não seria possível se não fosse a concordância do mestre João Ricardo, ensaiador do rancho anterior. Tudo estava ligado e assim aconteceu.

Para a altura foi uma experiência entusiasmante e em que participei. O meu par era a Maria Antonieta.
Naturalmente a esta distância temporal é difícil recordar todos, mas lembro-me perfeitamente do António Antunes, Arnaldo, Lizete, Maria de Fátima (salvo erro), Senhorinha, Amilcar Felício, Bia Martinho, Eleutério Fabião, Maria do Anjos, Chiquinha, e muitos mais que já não consigo recordar.

Posso dizer que tivemos sucesso, infelizmente sem continuidade.

Passando à organização das festas, alguns anos mais tarde chegou a nossa vez.

Por um ou dois anos as festas haviam dado prejuízo, ficando algumas dívidas por saldar, como gasóleo para o gerador, ao Sr. Gomes da Costa, etc.

E o mês de Agosto ia passando e não se ouvia falar em nada. Parecia que as festas iam acabar.

E aí, a juventude da minha geração, alguns com 16/17 anos, e digo éramos muitos e decididos, mas para ser justo o António do Rosário foi determinante, tendo sido mesmo ele que liderou toda a organização. Falando com Presidente da Câmara da altura, foi dada a indispensável cobertura.

Foi avançada uma proposta aceite por todos. Par viabilizar as festas todos pagamos bilhete de entrada, desde porteiros, bilheteiros, organizadores, todos pagamos. E com exploração directa do bar.

Assim as festas desse ano deram lucro, pouco, mas deram.

Nos anos seguintes fiz parte de várias Comissões de Festas, umas sendo um dos organizadores, outras como colaborador.
Em festas deste tipo os colaboradores tinham que ser muitos. E foram realmente muitos.

Quase toda a Vila se mobilizava, e quase todas as pessoas colaboravam de uma ou outra forma.

A kermesse que dava imenso trabalho a montar. A sua organização que era muito complexa e difícil. Aí apareciam sempre os mais velhos com muita tarimba nessa tarefa.

Quando o bar era explorado por nós, o trabalho era imenso. Os bidões com o gelo que vinha de Vila Real de Santo António, para refrescar as cervejas e refrigerantes, o atender tanta gente, era um trabalho extenuante. E tanta gente que o fez sem qualquer contrapartida a não ser a sua satisfação pessoal por ter colaborado.

Nas mesas, eram quase sempre os mesmos, que tinham experiência e sabiam como actuar.

Nas bilheteiras foram tantos. Nas portas foram muitos mais. É difícil enumerar tanta gente.

Mais tarde começou-se a investir. Compram-se as primeiras mesas e cadeiras, sem nunca esquecer a Santa Casa da Misericórdia. Mandou-se fazer um palco, que com uma armação com calhas metálicas e telhas de fibra, Já dava alguma dignidade a quem nele actuava. Também se comprou uma aparelhagem sonora.

Quando acabava uma festa, nos dias seguintes já estamos idealizando e tentar melhorar a seguinte.

O que eu penso em relação ao grande sucesso que estas festas tiveram, foi em função de tantas espanholas e espanhóis que a ela afluíam.

O ambiente criado não tinha paralelo com mais nenhumas. Com a sua alegria e improvisação, era comum ver grupos, principalmente de mulheres e também alguns homens que espontaneamente dançavam as sevilhanas. Muitos com uma guitarra e uma pandeireta faziam um grupo de animação.

Onde em Portugal havia isto?

Só nas Festas de Alcoutim.

Muitas e boas amizades se construíram que perduram até aos dias de hoje.

Na vertente económica, principalmente nos seus primeiros 20/30 anos dinamizaram, e de que forma, o comércio em Alcoutim, pela procura do café e de tanta coisa que faltava em Sanlúcar e povoações vizinhas.
Espanholas chegavam magras e regressavam gordas com tanto café escondido no corpo. Isto que eu digo foi real.

E aqui eu tenho algum conhecimento para falar.

Hoje o benefício comercial é de outra índole mas continua a ser importante.

POSSO E QUERO DIZER QUE ESTAS FORAM E SÃO AS MINHAS FESTAS.

Obrigado.