[Monte da Estrada. Vista parcial. Foto JV, 2011]
Situa-se esta pequena povoação, habitada esporadicamente a cerca de 46 km de Alcoutim, sede do concelho a que pertence e a 17 de Martim Longo, sede de freguesia.
É a última povoação pertencente ao concelho por este lado, situa-se na margem esquerda da Ribeira da Foupana, melhor dizendo do braço que nasce nas proximidades da Corte de João Marques, freguesia de Ameixial, concelho de Loulé.
Sempre a descer desde a estrada asfaltada, a ela se chega pelo C.M. nº 1032 de terra batida.
Visitámo-la a primeira vez em 1997 e ainda que fosse habitada, não conseguimos ver ninguém.
Na ribeira, que no local tem um curso sinuoso e largo, foi construído em 1989 pela Câmara Municipal um pontão que possibilita o seu atravessamento por veículos automóveis e no qual se gastaram cerca de 3 000 contos. (1) O mesmo veio a beneficiar de reparação e ampliação em 2000. (2)
[Pontão na Ribeira da Foupana. Foto JV, 2011]
Tem energia eléctrica e distribuição de água por fontanários e hoje ainda é visível o antigo poço que dava água à população e apetrechado de bomba elevatória.
Em 1992 a Câmara adjudicou as obras de arruamentos em vários “montes”, nas quais se encontravam as deste.
Só em 1995 e também por interferência da autarquia se obteve o telefone fixo. (3)
A população era de 52 habitantes em 1911 mas em 1970 já tinha descido para 36. No censo de 1991 não sabemos, pois o seu número foi incluído nos fogos isolados, possivelmente não chegariam a uma dezena. Segundo nos consta, os dois últimos habitantes (permanentes) foram duas senhoras idosas que enviuvaram e foram recolhidas por familiares.
O topónimo Estrada é muito vulgar em Portugal e anotámos, isolado, cento e vinte casos e composto mais de meia centena.
Estrada provém do latim strata, que significa caminho calcetado.
Nas Memórias Paroquiais (1758) o pároco que respondeu ao questionário indica-o como Monte da Estrada, designando igualmente todas as outras povoações por “montes”excepto a sede de freguesia.
As povoações que lhe ficam mais próximas são os Zorrinhos de Cima a 3,5 km e as Mestras a 4,5. O “monte” dos Relvais que lhe ficava próximo deixou de ser habitado em meados do século passado, mas onde em 1865 ainda nascia uma criança, filho do casal de lavradores José Lopes e Maria Rosa. Também nesse ano e em 16 de Junho nasceu no Monte da Estrada, Manuel, filho dos lavradores Manuel Dias de Brito e de Maria Guerreiro. Neste mesmo ano falece com 76 anos, Manuel de Brito, viúvo, lavrador, pensamos que talvez fosse da mesma família do anteriormente referido e que deixou seis filhos.
Em 1999 foi descoberto o Tholos do Malhanito, monumento funerário constituído por um corredor de acesso e uma câmara, pertencente ao período Calcolítico (3000 – 2000 A.C.).
Posteriormente escavado sob a responsabilidade do Prof. Doutor João Cardoso da Universidade Aberta de Lisboa, foram encontrados dois enterramentos humanos de que restavam alguns ossos o que permite através do método do carbono 14 determinar a idade. Entre outros materiais foram encontradas duas contas de colar de grandes dimensões e um escopro de pedra polida, encontrando-se o monumento em bom estado de conservação. (4)
[Tholos do Malhanito]
Ainda que a pequena povoação possua casas ao gosto antigo e em ruínas, outras estão bem conservadas e é interessante notar-se a influência alentejana contrapondo-se à algarvia.
Existe uma Zona de Caça Turística. (5)
Não queremos deixar de referir um pequeno facto acontecido connosco por volta de 1990.
Encontrando-nos no exercício da nossa profissão, recebemos a visita de um amigo da área profissional que com ele traz um colega e que tinha gosto de nos apresentar pois era natural de Alcoutim.
Ficámos satisfeitos com tal surpresa dizendo e estando convictos que, se não o conhecíamos a ele, conheceríamos a família.
Puro engano.
O apresentado era efectivamente natural do concelho de Alcoutim, mas do Monte da Estrada!
Na altura e segundo nos informou, só uma ou duas vezes tinha ido à vila que quase não conhecia. Conseguimos encontrar, contudo, pessoas que ambos conhecíamos, como foi o caso do Senhor Mateus Martins Silva, saudoso amigo já desaparecido.
NOTAS
(1)- Boletim Municipal nº 5 de Set./89.
(2)- Alcoutim, Revista Municipal nº 7, Março/2000, p.12
(3)- Alcoutim, Revista Municipal nº 1 de Maio/Junho de 1995
(4)- Alcoutim, Revista Municipal, nº 9, Dezembro de 2002, p. 35.
(5)- Alcoutim, Revista Municipal nº 10, de Dezembro de 2003, p. 27