A postagem de etnografia de hoje tem a ver com dois objectos que se completam e hoje se não desaparecidos, pelo menos inábeis e que como o título indica são a roca e o fuso.
A roca era constituída por uma vara de madeira com alguma espessura aberta próximo de uma das extremidades, que possibilitava a introdução de uma peça (madeira, cortiça, etc.) redonda ou facetada que provoca um bojo e que nalguns casos pode aproximar-se a uma forma quase esférica.
Tal formato permite prender a pasta de lã ou de linho que o fuso, peça de ferro aguçada numa das extremidades, vai no seu movimento circular e ritmado transformando em fio e enrolando com o auxílio da mão da fiandeira.
A este trabalho chama-se fiar e até princípios do século passado era actividade conhecida e praticada por muitas das mulheres de vilas e aldeias do norte ao sul do país, constituindo umas das fases de preparação da lã e do linho para originar a tecelagem.
Confesso que nunca vi fiar a não ser de passagem, pois ia de automóvel, a uma mulher do monte do Marmeleiro que o fazia próximo da vila, enquanto guardava umas tantas cabeças de gado.
A roca (madeira de loendro) e o fuso apresentados adquiri-os em 1989, no monte de Alcaria Queimada, freguesia de Vaqueiros, a um artesão local.
Não posso deixar de referir um facto que mantenho com contornos bem definidos na minha memória. Teria eu cerca de cinco anos quando encontrei um objecto de madeira, que reconheço hoje, era bem torneado, numa gaveta de um móvel em casa de minha avó paterna.
Levando-o na mão, fui perguntar-lhe o que era aquilo e ela que já era bem velhinha disse-me que era um fuso e explicou-me para que servia, mandando-me pô-lo onde estava.
Nunca me esqueci disto e parece-me até que estou a ver o dito objecto.
A minha avó era natural da região centro do País e também ela fiou.