terça-feira, 9 de novembro de 2010

Vicentes do Pereiro para distinguir de outros



Saindo da sede de freguesia pela E.M. nº 507, alcatroada e cerca de oitocentos metros percorridos, encontramos à direita um ramal cuja placa nos indica Vicentes. Este caminho foi beneficiado e pavimentado em 1988. (1)

Fizemos o desvio e cerca de 1200 metros após encontrámos a pequena povoação.

Casas típicas. Duas ou três chaminés dão nas vistas.

Estação elevatória da água com data de 1988. Existiam oito fontanários espalhados pelo monte. Em 2003 foi levada a água ao domicílio. (2) Dois furos artesianos privados. Os arruamentos foram pavimentados em 1993. (3)

Pelo Censo Populacional de 1991 são-lhe atribuídos vinte e sete habitantes, para em fins do ano seguinte só serem vinte e quatro, incluindo-se duas crianças.

Em 1839 havia vinte e cinco fogos.

No recenseamento escolar do sexo masculino, em 1881 e 1882, este monte contava seis crianças, número que em 1888 era de dez, o que certamente hoje não há em toda a freguesia e de ambos os sexos!

É preciso tomar em consideração que segundo as Memórias Paroquiais (1758) esta povoação igualava a sede de freguesia em número de vizinhos (fogos) que era de 45.

Em redor do monte notavam-se algumas árvores de fruto em pequenos hortejos:- oliveiras, limoeiro, alfarrobeiras e laranjeiras foram algumas que anotámos.

[Monte dos Vicentes, casas típicas. Foto JV, 2006]

O Capitão (de Ordenanças) João Manuel Teixeira, fazia em 29 de Junho de 1771 o manifesto dos seus gados na Câmara, e em 1772/73 era membro da comissão fabriqueira. João Afonso igualmente fazia o mesmo manifesto, mas em maior número, nomeadamente de cabras. (4)

Uma das vítimas do desabamento de terras ocorrido no dia 11 de Julho de 1878, pelas seis da manhã, nos trabalhos da estrada Alcoutim-Pereiro, próximo da eira do Garrocho, freguesia de Alcoutim, foi José Gonçalves, de 39 anos, casado e morador neste monte. Era filho de Manuel Gonçalves e de Catarina Martins, também natural da freguesia do Pereiro. Deixou um filho. (5)

O Anuário Comercial de 1934 indica José Teixeira como tendo depósito de adubos, sendo o mesmo negociante de frutos secos e membro da Comissão Administrativa da Câmara onde em Sessão de 11 de Julho de 1935 apresenta a proposta, que é aprovada, da criação do Imposto Municipal de Prestação de Trabalho, abolido em 1975, como já referimos.

Em 1947 havia uma mercearia pertencente a José Brás.

O topónimo terá por base o antropónimo Vicente? A família dos Vicentes teria dado origem ao monte? O que ainda hoje acontece é que o antropónimo é muito vulgar na região, havendo mais povoações com o mesmo nome, quase todas no sul do País, como acontece nos concelhos de Alandroal, Loulé, Mértola e Ourique. (6)

No dia 25 de Junho de 1874 houve um grande incêndio nas eiras deste “monte” que reduziu a cinzas todo o pão que nelas havia, causando a desgraça de quase todos os seus moradores, não havendo suspeita de ter sido fogo posto. (7)

Por aqui foram encontradas sepulturas quadradas, machados e percutores de pedra. (8)

Em 1997 instalaram-se caixas de recepção do correio.

A importância do “monte” a nível de freguesia manifesta-se ainda pelas figuras de Manuel Roiz Mesquita que em 1766/67 exercia o lugar de “fabriqueiro” (tesoureiro) da Igreja do Pereiro, onde a mesma possuía uma cerca arrendada pelo Capitão (de Ordenanças) Manuel Dias Vilão e que rendia anualmente, dois alqueires de trigo.

Em 1753/54 e depois em 1782/83, exerceu o lugar de provedor da Santa Casa da Misericórdia de Alcoutim, um indivíduo com o mesmo nome e que poderá tratar-se da pessoa aqui referida pois as datas aqui referidas encaixam-se bem.

Em 1770/71 o mesmo lugar era desempenhado por Joaquim da Palma, e em 1774/75 por Manuel Afonso, também eles considerados deste “monte”.

A nível da Confraria do Senhor Jesus da Paroquial Igreja do Pereiro, o lugar de mordomo é desempenhado em 1808/09 por Manuel Vaz, aqui residente.

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NOTAS

(1)–“PEDAP ajuda Alcoutim a melhorar caminhos rurais”, Jornal do Algarve de 12 de Novembro de 1987.
(2)–Alcoutim, Revista Municipal, nº 10, de Dezembro de 2003.
(3)–Boletim Municipal nº 2, de Abril de 1993, pág. 6.
(4)–Tomo de Manifeztoz e Arolamto da Camera doz Gadoz, com folhas a partir de 1771, pág. 104.
(5)–Assento de Óbito, freguesia e concelho de Alcoutim, daquela data, Arquivo Distrital de Faro.
(6)–Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, José Pedro Machado, Livros Horizonte, III Vol. 1993.
(7)–Of. Nº 61 de 26 de Junho de 1874, do Administrador do Concelho.
(8)–“Potencialidades Turísticas do Nordeste Algarvio – I”, Susana Faísca, em Jornal do Algarve de 15 de Maio de 1986.