[Tacões, vista parcial. Foto JV, Agosto de 2010]
Publicámos em tempos num jornal regional um escrito sobre este “monte” (1) e que republicámos neste espaço (2), além do que escrevemos na “monografia da Freguesia do Pereiro”. (3)
Entretanto, mais alguns dados foram adquiridos, pelo que iremos formalizar um novo texto.
Como repetidamente temos escrito, as povoações do concelho de Alcoutim que não sejam sedes de freguesia são designadas e conhecidas por montes termo que pode ter várias explicações conforme abordagens feitas nesse sentido.
Esta designação vem pelo menos do século XVIII mas será muito anterior.
O “monte” dos Tacões pertence à freguesia do Pereiro de cuja sede dista cerca de 4 km, sendo servido pela estrada nº 124 e da qual parte um ramal de 1 500 m que o serve.
Este troço foi executado por administração directa da Câmara Municipal e consistia na sua pavimentação com uma camada betuminosa, montando o seu custo a cerca de seis mil contos. (4)
[Interessante casa típica. Foto JV, 2010]
A povoação, de tipo concentrado, situa-se numa pequena elevação, ainda que estejamos na antiga zona cerealífera do Pereiro constituída por achadas.
Quanto ao topónimo, José Pedro Machado (5) interroga se não alude a pessoas de família local com o apelido Tacão. É nome de família que não existe na freguesia e que nunca encontrámos em documentação do século passado e do anterior. O singular também existe. Quererá significar uma alcunha proveniente do substantivo masculino tacão e que deu origem a um antropónimo? Ou terá a ver com o adjectivo tacanho?
O topónimo não é inédito, visto existir outra povoação com o mesmo nome na freguesia de S. João dos Caldeireiros, concelho de Mértola. (6)
Segundo Pedro Machado, o topónimo já aparece em 1258. Na área deste topónimo existem Tacoal, concelho de Moura e Tacoaria (Ourém).
Localmente nada encontrámos, nem as tão tradicionais lendas, que mais ou menos bem arquitectadas, tentam explicar os nomes.
A designação no século XVIII obedecia à seguinte escrita: Tacoenz.
A pastorícia era uma actividade importante já em 1771, Afonso Vilão, fazia na Câmara o manifesto dos seus gados e em 1767/68 exercia o lugar de fabriqueiro (tesoureiro) da Igreja do Pereiro e nessa altura Gaspar Lourenço pagava de foro à mesma Igreja dois alqueires de trigo.
Mais tarde, exercem as mesmas funções de fabriqueiro, Francisco Dias (1785/86) (7), Tomé Vilão (1787/88) e Marcos Rodrigues (1797/98)
Numa zona de terrenos muito pobres, toda a actividade das suas gentes se baseava numa agricultura de subsistência, representada pela cerealicultura, nomeadamente o trigo, base da alimentação. A isto se acrescentava a pastorícia, principalmente de gado miúdo, que possibilitava a obtenção de uns escudos para fazer face às despesas mais prementes.
Estas duas actividades originavam a produção de lã e de linho que por sua vez davam lugar à tecelagem artesanal de grande qualidade e que ainda se fazia sentir em finais da década de sessenta do século passado. Havia pelo menos um tear de onde saíam interessantes colchas de carapulo. Foi dos últimos centros a extinguir-se no concelho.
Foi o último monte da freguesia a manter um estabelecimento comercial misto, propriedade de Eusébio Romeira Marques. O Anuário Comercial de 1947 indica a existência de uma mercearia pertencente a António Marques Romeira que presumo ter sido pai do referido anteriormente.
Em 1883 havia na povoação doze crianças do sexo masculino em idade escolar (8) e possivelmente outras tantas ou mais do sexo feminino, que para o efeito, na altura, não eram contabilizadas.
Na sessão da Câmara de 2 de Dezembro de 1939 deliberaram pedir a imediata criação de um posto de ensino escolar, o que veio a acontecer.
[A antiga escola em 1974. Foto JV]
Segundo informação verbal que me forneceu o pároco da freguesia, nessa altura, o povo acabou por construir um edifício que serviu de escola até à sua extinção que deve ter ocorrido na década de oitenta do século passado.
Entretanto, o edifício recebeu obras de beneficiação em 1996 para funcionar como capela e casa mortuária. (9)
Referiremos agora alguns dados soltos que fomos obtendo através da leitura.
Assim, em 1840 os moradores pedem à Câmara para serem considerados coimeiros para o gado miúdo, até 15 de Agosto, os restolhos situados entre o sítio da Eira d`Anna Dias (10) e a Fonte do Serro Gordo, o que foi deferido. (11)
O monte tinha um rossio em 1850 e Manuel Cavaco pediu terreno dele para fazer um curral, o que lhe foi concedido.(12)
Em 1864 a Herdade da Misericórdia estava aforada a Manuel Gato, residente na localidade.
É curioso o facto passado em 1880, em que José Bárbara (ou Barbosa) possui um boi que investe com todas as pessoas que se lhe aproximam, como sucedeu há pouco com duas mulheres que ficaram muito maltratadas. Neste sentido, o Regedor da freguesia é mandado intimar o possuidor do animal para que num prazo curto o faça retirar do concelho.(13)
A nível populacional, as Memórias Paroquiais de 1758 atribuem-lhe 31 vizinhos (fogos) e 96 pessoas (habitantes). Nesta altura só era ultrapassado pelos Vicentes que tinham o mesmo número de fogos da aldeia do Pereiro e apenas menos dois habitantes.
Em 1839 Silva Lopes na sua Corografia do Algarve, 1841, atribui-lhe 29 fogos, sendo na altura o monte da freguesia com maior número.
Segundo os elementos recentemente recolhidos no censo de 1991, possuía 36 edifícios onde se alojavam os 62 habitantes.
No censo seguinte (2001) o número de edifícios passou para mais dois, enquanto a população diminuiu cerca de 50%, cifrando-se em 32.
[Recanto do monte. Foto JV, 2010]
Presentemente serão aproximadamente 15 os habitantes da povoação.
Após o 25 de Abril, recebeu o fornecimento de energia eléctrica, que motivou a criação de sete fontanários para distribuição do precioso líquido e nove particulares, na altura, aproveitaram para mandar abrir outros tantos furos artesianos. Entretanto e apesar de não existir saneamento básico, a água foi levada aos domicílios.
Os arruamentos foram cimentados em 1994 por proposta aprovada em reunião de Junta de Freguesia.
Caixas de recepção do correio instaladas em 1997.
Desde 2007 que se realiza todos os anos uma pequena festa-convívio juntando residentes, tacoenses ausentes e quem mais se lhe queira juntar.
Almoço e jantar, quermesse e bailarico, constituem o fundamental da reunião, não faltando igualmente a parte religiosa.
A organização tem por base uma associação recentemente criada.
NOTAS
(1) – “Tacões, monte da freguesia do Pereiro, concelho de Alcoutim”, em Jornal do Baixo Guadiana nº 76, de Junho de 2006, p. 16.
(2) – Postagem de 18 de Outubro de 2009.
(3) – A Freguesia do Pereiro (do concelho de Alcoutim) «do passado ao presente», Edição da Junta de Freguesia do Pereiro, 2007, p.239 a 241
(4) – Boletim Municipal nº 9, de Dezembro de 1991, p. 2
(5) – Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, Horizonte / Confluência, 1993, III Vol. p. 1376.
(6) – Novo Dicionário Corográfico de Portugal, A. C. Amaral Frazão, Editorial Barreira, Porto, 1981, p.767.
(7) - Nasceu nas Furnazinhas, freguesia de Odeleite, concelho de Castro Marim, sendo 6º avô de meu filho. Foi avô de Manuel João Dias, aqui nascido em 1804, que foi casar ao monte de Afonso Vicente e que veio a ser um dos tetravós de meu filho.
(8) – Livro do Recenseamento Escolar da Freguesia de Pereiro - Sexo Masculino, termo de abertura de 26 de Janeiro de 1882.
(9) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 3 de Julho de 1996, p. 9
(10)) – A título de curiosidade dizemos que uma Ana Dias, nascida na primeira metade do séc. XVIII, em Tacões, era 5ª avó de meu filho.
(11) – Alcoutim visto através das Posturas Municipais (1834-1858), José Varzeano, Peniche, 1989, pág. 6
(12) – Acta da Sessão da Câmara Municipal de 26 de Agosto daquele ano.
(13) – Of. Nº 108 de 4 de Setembro de 1880 do Administrador do Concelho ao Regedor da Freguesia.