domingo, 17 de abril de 2011

Centenário do alcoutenejo, José Gaspar Patrocínio





Escreve


Gaspar Santos





Tive a honra de receber um amável convite do meu primo Zé Gaspar para participar na festa dos seus 101 anos que se perfazem hoje dia 17 de Abril. Este primo irmão de meu Pai reside no Lar de Alcoutim há mais de 20 anos. De inicio, acompanhado de sua mulher que entretanto faleceu. A festa do seu centenário esteve aprazada para se realizar no ano que passou, não se tendo realizado devido a acontecimentos imprevistos.

Motivos de força maior para me reter em Lisboa impedem, com muita pena minha, de comparecer a esta sua festa. É um dos primos mais novos do meu Pai. Talvez por isso, sempre gostei muito dele, pois havia uma maior proximidade etária e uma estima recíproca. Não esqueço as atenções que dele sempre recebi. Sobretudo quando eu estava na tropa, várias vezes me convidou para almoçar na sua casa na Rua Gonçalves Crespo. Era mesmo juntinho ao Hospital Miguel Bombarda, onde nessa data se encontrava internado o Romão, tocador de acordeão da freguesia do Pereiro, que mantinha uma espécie de namoro platónico com uma empregada da casa de meu primo.

Nasceu em Alcoutim em 1910, ano da implantação da República, filho de Gaspar Francisco Peres e de Maria da Felicidade. Muito novo, com 14 anos, começou a trabalhar nos escritórios do irmão Manuel Gaspar Patrocínio um industrial de conservas de sucesso em Portimão. Desse irmão costumava comentar: “foi ele que me acabou de criar”. Depois, já como guarda-livros serviu o Grémio da Lavoura de Moura e Barrancos. Casou mais tarde e, empregou-se em Lisboa numa Empresa Rodoviária de Transportes, que muito carvão e cal transportou e retornou com enxofre, quase no fim da laboração da Mina de São Domingos.

É uma pessoa que mantém uma boa disposição, grande lucidez e espírito crítico, qualidades que sempre possuiu. Era muito activo e tinha muito boa capacidade de memória que faziam dele um bom contador de episódios por si vividos. Recordo uma inteligente observação que me fez quando o visitei em Fevereiro: - “ Não sei, mas preocupa-me a economia do País, em especial do Algarve, por estar tudo dependente do turismo. Então e a agricultura não é a base de tudo? Se há uma guerra, cataclismo, ou dificuldades financeiras no estrangeiro, de repente o turismo pode sofrer grande quebra, e o que vai ser de nós?”.

E esta outra observação a seu respeito: “ aqui estou com esta idade, mas não me sinto mal. Não tomo medicamentos, nem para a tensão arterial nem para dormir. Não me dói nada. Canso-me um pouco se ando demais e tenho falta de forças nas pernas. Podia ir mais vezes à Vila tomar um café e ler o jornal, como fazia dantes, mas não me apetece ir.”

Também não quero deixar de referir um desabafo seu das saudades que tinha duma açorda com bastante azeite. Não perdeu o seu gosto tradicional e apurado pelos pratos da sua infância!

Quero deixar esta nota. Regozijar-me e felicitá-lo por ter atingido tão linda idade e com tanta saúde e desejar que não faltem as oportunidades de nos abraçarmos muitas mais vezes e com a boa disposição e saúde de sempre. Não poderei comparecer, mas na hora estarei com ele em espírito e beberei uma taça de champanhe em sua intenção.




Pequena nota

É com imenso prazer que o ALCOUTIM LIVRE se associa aos 101 anos do alcoutenejo, Sr. José Gaspar do Patrocínio, festejado hoje no Lar de Alcoutim.
Que seja do meu conhecimento já são três os “centenários” que lá têm lugar, o que é significativo.
Segundo o que refere no texto o nosso colaborador Gaspar Santos, seu familiar, o primo encontra-se de boa saúde, não toma medicamentos nem mesmo para a tensão arterial!
Esperamos e desejamos-lhe mais uns bons anos de vida.
Não esquecemos que de idade já bem avançada não deixava de assistir às Assembleias Municipais para poder estar a par da vida política do seu concelho natal, um dos poucos que o fazia.
As nossas felicitações pelo acontecimento.


JV