[O monte do Pêro Dias visto da estrada de terra batida. Foto JV]
Penso que seja um dos “montes” mais próximos da aldeia de Martim Longo, sede de freguesia a que pertence e de que dista 3,7 km, situando-se a 33 da vila de Alcoutim, sede de concelho.
Esta pequena povoação foi das últimas a possuir um acesso condigno, o que só veio a conseguir em 2002 (1) e que constituiu o CM nº 1038 asfaltado e que tem uma pequena obra de arte sobre o barranco Grande.
Além deste acesso há outro de terra batida que parte da EN 124 à esquerda após a Barrada e no sentido norte/sul.
Tem outro caminho que não conheço e se dirige à ribeira da Foupana que lhe fica próximo.
Foi construída uma passagem submersível sobre a ribeira e que serve o caminho para Pão Duro da freguesia de Vaqueiros. (2)
[Estrada de Pero Dias. "Ponte" sobre o barranco Grande. Foto JV]
Os característicos cerros que correm como ondas e definem o Nordeste algarvio podem observar-se dos locais mais altos e chamam a atenção.
Numa das últimas vezes que por ali passei (1997) à saída e em direcção a Martim Longo, num sítio baixo, por onde passa um barranco, vi um pequeno hortejo trabalhado por um casal que já passou a meia-idade.
Ainda era possível ver uma ou duas searas.
Como pequena referência histórica posso dizer que em Maio de 1844 pairou sobre esta região uma horrível trovoada que devastou as searas. (3)
Como era norma nestas pequenas povoações um ou outro lavrador era o centro de gravitação de toda a população. Hipoteticamente teriam sido os ascendentes longínquos destes lavradores que teriam dado origem à pequena povoação, mas isto só no campo das suposições, viso desconhecer documentação que o justifique.
Com funções comunitárias existiam dois fornos de cozer pão. Ainda que ambos se mantenham já não têm essa função que foi extremamente importante na primeira metade do século passado. O “forno de cima”, sem telheiro, ainda que de pé, está necessitado de obras de conservação afim de não desaparecer. O “de baixo”, com telheiro, foi recuperado e está em condições de funcionamento.
[O recuperado "forno de baixo". Foto cedida por A.A.]
Sendo muitas as famílias a utilizá-los, havia necessidade de se fazer uma marcação prévia e que todos respeitavam. Quem pretendia cozer no dia seguinte colocava à porta do forno um feixe de lenha.
Encontrei nos anos setenta do século passado um sistema idêntico nos Guerreiros do Rio, com a diferença de a marca ser constituída por um ramo de esteva sobre o qual se colocava uma pedra.
Como o poço velho já era insuficiente para abastecer a necessidade da população e tendo em consideração a existência de muitos animais indispensáveis a toda uma vida agrícola, animais de carga, sela e de tracção, houve falta de se abrir um novo, o que terá acontecido, segundo informação recebida, na década de vinte do século passado. Tenho conhecimento através de documentação consultada que na década de 30 com a Comissão Administrativa da Câmara a ser presidida pelo professor Trindade e Lima que foram abertos muitos poços em todo o concelho com pequenos subsídios municipais e principalmente com a disponibilidade das populações.
Naturalmente que começou a ser conhecido pelo poço Novo que produzia e produz, segundo o nosso informador, água em abundância e de excelente qualidade, acreditando o povo nas suas qualidades terapêuticas.
Está apetrechado de bomba elevatória.
Conforme informação, trata-se de uma pequena obra de engenharia hidráulica, baseada no princípio dos vasos comunicantes e feita por artesãos locais.
[Vista aérea de Pêro Dias. Foto cedida por A.A.]
Quando as pessoas enchem as vasilhas perde-se alguma água, a mesma cai numa espécie de bacia situada num plano mais elevado, segue um percurso em forma de “U” e desliza num canal que antigamente era de telhas sobrepostas situado sobre um muro, desaguando num tanque onde os animais bebiam. Não havia desperdícios!
Em 1998 a água começou a ser distribuída por fontanários (4) e em 2003 foi levada aos domicílios.(5)
A electrificação só chegou em 1984. (5) A pavimentação dos arruamentos foi adjudicada em sessão da Câmara de 22 de Julho de 1992 e o telefone chegou em 1995. (7)
Em 2005 e possivelmente por causa da abertura de valas para colocação de tubagem devido ao transporte de água ao domicílio o pavimento das ruas é reposto. (8)
Quanto ao topónimo, é por demais evidente que tem origem no antropónimo, a complexidade está em saber quem foi o Pêro Dias. Certamente pessoa importante em haveres e regalias que lhe pudessem estar associadas.
Em relação a Diogo Dias encontrei uma pessoa com alguma importância no concelho no século XVI, quanto a Pêro isso não aconteceu.
[Outro aspecto aéreo da povoação. Foto cedida por A.A.]
Enquanto o povo diz que Diogo e Pêro eram irmãos e quando herdaram os avultados bens cada um ficou no seu “monte”, o que não tem o mínimo de fundamento visto por essas alturas só herdar o primogénito, outros pretendem que Diogo e Pêro Dias eram dois irmãos navegadores que viram os seus feitos na descoberta de novos mundos ser premiados pelo rei português com a oferta de terras distantes e inóspitas paragens que hoje pertencem ao concelho algarvio de Alcoutim. (9)
Pêro é forma antiga de Pedro que se manteve como topónimo, pelo menos em vinte e nove povoações, em situação composta como aqui acontece.
Apesar de ser indicado por Pêro Dias, em 1758 o padre da freguesia, que preencheu o questionário daquilo que ficou conhecido por Memórias Paroquiais, escreveu PEDRO Dias e não Pêro Dias.
Em Julho de 2010 naturais e residentes reuniram-se no 1º Almoço-Convívio que decorreu com muita animação e que juntou cerca de 150 pessoas.
Para terminar apresento um gráfico populacional onde se verifica uma queda abrupta de população a partir de 1960.
NOTAS
(1) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 9 de Dezembro de 2002, p. 5
(2) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 5 de Novembro de 1997
(3) – Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim de 3 de Novembro de 1844.
(4) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 6 de Janeiro de 1999, p. 11
(5) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 10 de Dezembro de 2003, p 6
(6) – “Alcoutim em luta contra o isolamento”, Jornal do Algarve de 20 de Janeiro de 1984.
(7) - Alcoutim, Revista Municipal nº 1 de Maio – Junho de 1995
(8) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 12 de Dezembro de 2005, p.11
(9) – “ Histórias e Simpatias no Nordeste Algarvio - De Pêro Dias ao Pão Duro”, Elisabete Rodrigues, Diário de Notícias de 11 de Maio de 1996.
Pequena nota
Esta é a primeira nota monográfica que organizo com a colaboração de um natural da povoação que a isso se prestou e daí haver um maior desenvolvimento. Trata-se do Sr. António Augusto da Palma Afonso a quem agradeço as informações prestadas.
Tenho tido, contudo, um Amigo que conhece bem a sua freguesia e a quem de vez em quando recorro para tirar uma ou outra dúvida ou solicitar algum esclarecimento, o que presta sempre de boa vontade.
JV