terça-feira, 5 de abril de 2011

O cemitério da Freguesia do Pereiro

[Cemitério da Freguesia do Pereiro. Foto JV, 2006]

Quando se erguiam igrejas, começavam a enterrar-se no interior dos templos os cristãos de mais alta condição local, social e monetária, ficando o povo no adro que rodeava o templo.

Advindo daí perigos para a saúde pública, começa a fazer-se uma campanha contra os enterros nas igrejas até que em 1835 é publicado o decreto proibindo os enterramentos em tais locais o que veio a originar a revolta popular da Maria da Fonte, manobrada por políticos que exploravam a falta de conhecimento do povo e o pouco senso de alguns párocos.

Esta situação dos enterramentos veio a pouco e pouco a ser resolvida mas entrou bem pelo século XIX.

O Regulamento de Saúde Pública de 3 de Setembro de 1868 deu-lhe a última machadada.

É bem cedo que a municipalidade alcouteneja se preocupa com a criação de cemitérios públicos, pois em sessão de 26 de Julho de 1836 é deliberado oficiar às Juntas de Paróquia do concelho para que de 16 de Agosto em diante começassem a obra dos cemitérios, visto ser o tempo mais próprio.

Além do choque psicológico que os menos preparados sentiam, reagindo negativamente perante a mudança, os cofres das Juntas não possuíam fundos suficientes para tal.

Em 1840 a Câmara volta a insistir mas os resultados positivos não aparecem.

Como aconteceu na maior parte dos casos, também aqui o cemitério não se afastou muito do lugar sagrado. Junto à igreja, tiveram que cumprir as obrigações legais, vedaram o local por muros altos, capela, casa mortuária e largo portão de acesso.

[Portão do cemitério da freguesia do pereiro. Foto JV, 2006]

O portão de ferro, virado para o adro da igreja, foi colocado a enquadrar trabalho de argamassa e alvenaria.

Uma interessante cruz de ferro forjado, tal como a da igreja, certamente de feitura local (em 1844 havia pelo menos um mestre ferreiro na aldeia) ostenta a era de 1863 que deve ser a do ano da sua fundação.

Em 1864 (1) foi apresentado na Sessão da Câmara um requerimento da Junta de Paróquia do Pereiro expondo a conveniência de ultimar a obra do cemitério e de fazer alguns reparos no telhado da sua igreja (...) que a Câmara autorize por Postura uma derrama de cinquenta mil réis para as despesas que há a fazer, o que veio a ser autorizado.

A Junta de Freguesia sente-se na necessidade de lançar uma “finta” para fazer face ao pagamento do coveiro (2) que dois anos depois apresenta um requerimento à Junta pedindo aumento de ordenado. Não dispondo esta de recursos para o efeito, convoca dois cidadãos de cada monte e aldeia para serem ouvidos acerca do ordenado que o coveiro pede. Ponderado o assunto foi aprovado por todos que se lançasse a cada fogo da freguesia a “finta” de cinquenta centavos a pagar durante o mês de Janeiro de cada ano. (3)

Em 1937 fazem-se as seguintes actualizações de preços:- os jazigos passam para cinco escudos (trabalho do coveiro), as sepulturas de adulto para vinte e a de menores para dez. Estas verbas eram divididas em partes iguais pela Junta e pelo coveiro.

Fixavam-se ao coveiro as seguintes obrigações:-
1º - Tratar do asseio do cemitério,
2º - Proibir a entrada de qualquer animal;
3º - Cumprir as ordens da Junta;
4º - Avisar a Junta de qualquer abuso que encontrasse;
5º - As sepulturas terem um metro e meio de profundidade e oitenta centímetros de largura;
6º - As ossadas vão para a carneira;
7º - No caso de ausência ou doença do coveiro as sepulturas que tiverem de se abrir são por conta do coveiro. (4)

Três quartos de século após a sua construção, (5) houve necessidade de o ampliar. O Presidente da Câmara, Prof. Trindade e Lima, submeteu à apreciação da vereação o projecto de ampliação do Eng. António Guerreiro de Brito, que foi aprovado por unanimidade, sendo solicitada a comparticipação do Estado.

Em 1967 o coveiro vencia cento e vinte escudos por mês e a compra do terreno de uma sepultura, custava mil escudos. (6)

Em 1969 construiu-se um bloco de nove catacumbas que custou oito mil, seiscentos e oitenta e cinco escudos. (7)

Actualmente o cemitério possui cerca de oitenta sepulturas e noventa catacumbas. Não faltam desde sempre os ciprestes que simbolizam a imortalidade.

No conjunto das sepulturas sobressai a da família de João Gomes Alves e que acompanhámos à sua última morada em 1976


NOTAS
(1) - Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim de 2 de Outubro de 1864
(2) - Acta da Sessão da Junta de Freguesia do Pereiro de 2 de Janeiro de 1919
(3) - Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim de 25 de Junho de 1938
(4) - Acta da Sessão da Junta de Freguesia do Pereiro de 29 de Março de 1937.
(5) - Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim de 25 de Junho de 1938
(6) - Acta da Sessão da Junta de Freguesia de Pereiro de 8 de Junho de 1967
(7) - Acta da Sessão da Junta de Freguesia do Pereiro de 28 de Agosto de 1969

N.B.
Extraído de A Freguesia do Pereiro (do concelho de Alcoutim) «do passado ao presente», Junta de Freguesia do Pereiro, 2007, ps. 123 a 126.