segunda-feira, 18 de abril de 2011

Cortes e Alcarias, topónimos abundantes no concelho de Alcoutim

Ao abordarmos em pequenas notas monográficas já publicadas nestes espaço, algumas dezenas de “montes”, sempre que nos é possível, referimos uma explicação para o topónimo.

Já referimos várias vezes os dois topónimos de uma maneira simples e sucinta. Hoje, iremos apresentar o que conseguimos reunir nas leituras e pesquisas que temos efectuado ao longo dos anos.

As “ (...) alcarias e cortes repetem-se ao longo dos caminhos e dizem-nos que o cultivo das terras e a criação de gado são a forma de ganhar a vida de que os habitantes podem lançar mão”. À medida que nos aproximamos do Guadiana a altitude diminui e as Cortes substituem as Alcarias”. (1)

O topónimo Corte, normalmente associado, aparece principalmente no Baixo-Alentejo e Alto-Algarve e tem merecido a atenção de vários especialistas.

[Corte da Seda. Rua típica. Foto JV]

Na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira diz-se que entre os topónimos mais dignos de nota contam-se as várias Cortes, designando prédios, certamente em substituição dos casais de acourelamento efectuado com o repovoamento nacional.

Pinho Leal (2) expressa-se assim: (...) se em algumas povoações significa curral de gado, na maior parte delas significa cohorte (corpo militar dos romanos) e depois, à imitação deles - sobretudo desde o tempo de Sertório, também os lusitanos se organizaram por cohortes. Também se dava o nome de cohorte ao sítio em que ela fazia o seu assentamento ou acampamento.

Alberto Sampaio (3) escreve: Cohors, Cortis, Curtis - o recinto fechado em volta do qual estavam as construções agrícolas incluindo os estábulos, aos quais agora a linguagem popular chama Cortes, de que cortelho é também diminutivo no mesmo sentido. De Curtis, significando o conjunto das edificações com um pátio, derivou literalmente Corte.

[Corte Tabelião. Vista parcial, 2009. Foto JV]

Corte, de Cohors - Ortis - Cortis, Curtis, em latim clássico significava o recinto das construções rústicas, passou entre nós, nos tempos antigos (...) a ter várias significações como subunidade de cultivadores - courela murada ou cercada de sebes, mas predominantemente o lugar onde se criam ou recolhem animais domésticos (...) . Vêm depois, num ou noutro destes sentidos, para várias povoações que com este nome, no singular ou no plural, se encontram espalhados pelo nosso País – é o que afirma Amadeu Ferraz de Carvalho. (4)

Noutra ocasião, o mesmo autor diz que corte significa – casal, vila, exploração agrícola. (5)

Viterbo (Fr. Joaquim de Santa Rosa de) no conhecido Elucidário, diz:- Para com os bons latinos cors ou cohors era, propriamente, um pátio rústico e descoberto, cercado e guarnecido de currais, manjedouras ou cobertos, em que os animais e criações de campo se recolhem, guardam, multiplicam e cevam. Na baixa latinidade, cortis e curtis se tomaram por um casal, vila, quinta, abegoaria, prédio rústico, horta, quintal e também alcaria com tudo o preciso e necessário para a lavoura.

Também significaram o arrabalde de uma grande povoação: o pavilhão, tenda ou barraca de príncipe ou general do exército.

José Pedro Machado (6)... indica “lugar em que se criam animais domésticos e certa extensão de terreno lavrado”.

[Cortes Pereiras, Monte de Baixo. Foto JV]

Depois de todas estas explicações sobre o topónimo Corte, que está representado seis vezes a nível do concelho, passemos ao outro topónimo igualmente frequente na região.
Alcaria, para o qual existe consenso, é um topónimo de origem árabe, muito frequente no sul do País. Tem por origem Al-Qariâ que significa “pequena povoação, a aldeia” (7).

[Alcaria Queimada, 2010. Foto JV]

A palavra Alcaria foi usada pelos escritores muçulmanos para designar uma pequena povoação não protegida por muralhas. (8)



NOTAS

(1) - Algarve - Novos Guias de Portugal, J.V. Adragão, Edições Presença.
(2) - Portugal Antigo e Moderno, A.S. Barbosa de Pinho Leal, 1874.
(3) - As Vilas do Norte de Portugal, Alberto Sampaio, 1979., p 82
(4) - A Terra de Besteiros e o actual concelho de Tondela, Amadeu Ferraz de Carvalho, 1981.
(5) – “ Subsídios para a Toponímia no Concelho de Tondela”, Amadeu Ferraz de Carvalho, jornal Notícias de Viseu de 3 de Dezembro de 1922.
(6) - Dicionário Onomástico-Etimológico, José Pedro Machado, Edições Horizonte/Confluência - 1993.
(7) - Vocabulário Português de Origem Árabe , José Pedro Machado, Editorial Notícias, 1972.
(8) – “Toponímia Algarvia – Alcarias e Malhadas” Arnaldo Casimiro Anica, Jornal do Algarve de 14 de Janeiro de 1993.