Até meados dos anos 70 do século passado passaram por Alcoutim muitos funcionários, principalmente com funções de chefia que ali eram colocados por promoção.
As regras de então obrigavam a um certo tempo de permanência após o qual era permitido pedir a transferência.
Aconteceu isso com funcionários de finanças, nomeadamente chefes de secção, tesoureiros da Fazenda Pública e aspirantes, verificando-se o mesmo com a chefia da Câmara Municipal, tal como os serviços de Registo Civil e Notariado no relativo aos conservadores-notários e mesmo ajudantes.
Comandantes da Secção da Guarda Fiscal, sargentos, cabos e muitos soldados vindos de todas as partes do país, principalmente do norte.
A esmagadora maioria, depois de cumprir o seu tempo, rodou para outras paragens, mesmo quando aí constituíram família.
Muitos deles nunca mais tiveram qualquer ligação com a Vila por onde passaram, com outros assim não aconteceu.
José António Duarte Moura, que presumo fosse oriundo do Alentejo, em 1939/40 esteve destacado em Alcoutim como responsável da Federação Nacional de Produtores de Trigo (FNPT), vulgo Celeiro, pois havia sinais de prática de irregularidades.
[Antigo edifício da FNPT (Celeiro) onde Duarte Moura exerceu funções e hoje degradado. Foto JV]
O nosso Amigo e Colaborador, Eng. Gaspar Santos, que iniciou naquele departamento ainda bem jovem a sua vida profissional, teve oportunidade de ouvir da boca do então responsável os maiores elogios feitos a Duarte Moura e leu alguns dos relatórios que ali estavam arquivados muito bem organizados e redigidos.
Gaspar Santos revela a grande consideração com que era tido na vila e até a utilização de alguns aparelhos que eram verdadeiras novidades para os alcoutenejos.
Vim a conhecer Duarte Moura numa festa de confraternização (15 de Junho de 1988) que então se fazia entre os alcoutenejos residentes na cintura industrial de Lisboa, teve lugar no Seixal e penso que extinta há uns anos por falta não sei de quem.
Eu e ele fomos convidados pela organização, no meu caso por intermédio do Sr. Eng. Gaspar Santos , para estarmos presentes, o que efectivamente aconteceu, tendo eu proferido uma pequena palestra, o que não foi possível a Duarte Moura por falta de condições de saúde, problema que o veio a vitimar algum tempo depois.
Foi para mim uma grande honra conhecer uma pessoa de tão fino trato, com postura própria de uma geração. Teve a amabilidade de me oferecer com autógrafo uma colectânea de contos que tinha sido acabada de publicar.
Esse trabalho reuniu treze contos, alguns distinguidos com 1ºs prémios e outras distinções em Jogos Florais a que se apresentaram nos anos 50 e 60 do século passado.
O trabalho comporta 123 páginas A/5, foi composto e impresso na Associação de Municípios do Distrito de Beja e numa edição de autor. Não é referido o ano da publicação mas deve ser de 1985/87.
Penso que a Câmara Municipal de Alcoutim teve conhecimento da publicação do trabalho visto Duarte Moura ter tido a amabilidade de enviar como oferta uns tantos exemplares.
Alguns dos contos retratam através do grande poder de observação e escrita bem elaborada as vivências alcoutenejas que não lhe passaram despercebidas, apesar de ter sido curto o tempo que passou em Alcoutim.
Porque considerei importante este trabalho para o conhecimento alcoutenejo, lembrei o Senhor Presidente da Câmara para o facto, sendo de todo o interesse que a Câmara Municipal viesse a adquirir um certo número de exemplares, ao preço de capa, para oportunas ofertas.
Consultado o autor respondeu nos seguintes termos:
... informo que o meu livro “Guadiana” não tem preço e solicito que o aceite como uma oferta a Alcoutim.
Os 500 exemplares que refere estão à Vossa ordem aqui em minha casa.... .
Motivos de saúde impedem-me de me deslocar a Alcoutim para os entregar pessoalmente.
...
A Câmara fez o obséquio de me enviar uma cópia da carta e foi ao revê-la que me lembrei de escrever este texto em HOMENAGEM A UM HOMEM DE GRANDE ESTATURA MORAL E INTELECTUAL.