sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
O Ensino Primário na aldeia de Vaqueiros
No concelho de Alcoutim, a aldeia de Vaqueiros foi a última sede de freguesia para quem foi pedida uma escola, o que aconteceu em 1860.
Num relatório elaborado nos primeiros dias de Fevereiro de 1876, pelo Administrador do Concelho, José João Viegas Teixeira, natural da aldeia, diz-se que a casa da escola pertence à Fábrica (da Igreja) e tem as seguintes medidas:- 4,42 m de comprimento, 2,70 m de largura e de altura 2,50. Tem falta de soalho, pouca luz e é de telha vã. No dia da visita foi frequentada por onze alunos e três alunas. Era regida pelo professor temporário, Francisco de Sousa Valente. Em 1874 era professor da mesma escola Ernesto Ribeiro Mendes.
Em 1880 o Presidente da Junta de Paróquia é informado que é “única e exclusivamente da escolha da Junta de Paróquia” o local para a escola, tendo, contudo, em consideração o mais próprio para a construção da casa, podendo ser, se as condições forem boas, na casa onde a mesma escola já se acha. (1)
Nesta altura, o professor de instrução primária é nomeado para servir por mais três anos. (2)
Em 1887 a Câmara diz que devido à “fria concorrência de alunos” a escola podia ser mista em dias alternados.
Dois anos antes, foi informado superiormente que em Vaqueiros existiam em idade escolar cinquenta e oito crianças, sendo trinta e cinco do sexo masculino. Em grande parte não podem frequentar a escola pela sua extrema pobreza. (3)
Em 1914 é nomeada professora da escola masculina, Francisca Rosa Guerreiro, funções que, pelo menos, já tinha exercido no ano anterior e Isaura da Conceição Palma de nomeação interina na escola feminina. (4)
No ano de 1933, possivelmente a escola mista continuaria no mesmo local, já que se pagava de renda à Junta de Freguesia 216$00 anuais.
O último edifício escolar, de uma só sala e situado à esquerda de quem sai da aldeia, tomando o sentido Sul, tinha um logradouro apetrechado de baloiço e escorrega e foi construído na década de sessenta dos nossos dias.
Em 1990 a Câmara Municipal de Alcoutim manifesta-se contra o encerramento de várias escolas no concelho, entre as quais a desta aldeia, a do Zambujal e da Traviscosa, o que acontece devido ao número de alunos ser de 10 ou inferior e isto em conformidade com o decreto-lei nº 25/88 de 4 de Fevereiro.(5)
Os alunos existentes passaram a frequentar a escola de Martim Longo tendo sido integrados na Escola Básica Integrada daquela localidade.
Relacionado com este assunto, tenho dois factos a contar.
Em 1968, encontrando-me na vila, no exercício da minha profissão, fui visitado, como então era normal, pelos serviços de inspecção. Fiquei admirado quando o inspector me disse ser natural do concelho, freguesia de Vaqueiros.
Pela mesma altura, lendo a necrologia de um jornal diário que já não existe, deparei com a notícia do falecimento de um general, natural de Vaqueiros, o que também muito me admirou, já que o nome de família também não era conhecido por ali.
O “mistério” acabou por se deslindar - eram filhos de professoras do ensino primário que no exercício das suas funções tinham passado esporadicamente por ali.
NOTAS
(1) - Ofício nº 20 de 28 de Fevereiro de 1880 ao Presidente da Junta de Paróquia de Vaqueiros.
(2) - Ofício nº 175 de 21 de Dezembro do Professor da Escola de Vaqueiros
(3) - Ofício nº 151, de 26 de Setembro de 1885 ao Inspector da 10ª Circunscrição Escolar do Distrito de Faro.
(4) - Acta da Sessão da C.M.A. de 2 de Julho de 1914
(5) – Boletim Municipal, nº 7 de Abril de 1990, p. 2