[Esteva florida. Foto JV, 1990]
Há muito que pensava escrever algo sobre este arbusto que domina como mato os solos xistosos do concelho de Alcoutim.
É planta espontânea e própria de locais incultos do sul de França, Espanha e Portugal, sendo mais vulgar no sul nosso do País. Nasce com frequência nos intervalos das rochas, rasga o chão através das fendas dos xistos, conseguindo sobreviver onde poucos o fazem.
Procura solos ácidos não calcários de xisto, granito e quartzo. É um arbusto perene.
Da família das cistáceas (cistus ladanifer) é também conhecida por xara, havendo uma espécie de esteva a que se chama roselha.
[Roselha]
Atingindo até cerca de 2,5 m de altura, as folhas são persistentes e lanceoladas, de verde-escuro na face superior e um pouco mais claro na inferior.
As flores de cinco a oito centímetros de diâmetro compõem-se de cinco pétalas brancas, com um ponto de vermelho sangue a castanho na base de cada uma, sendo os estames amarelos.
Principalmente as folhas apresentam-se recobertas de uma espécie de resina aromática.
Os frutos constituem cápsulas globosas.
Uma das funções da resina é a de proteger a planta contra a acção do calor.
Quando cortada no estado de adulta resiste com dificuldade secando na maioria das vezes, mas quando jovem rebenta no ano seguinte com muito mais força.
É conhecida a utilização da esteva em vários campos: as folhas libertam uma espécie de resina (ládano) usada na perfumaria principalmente como fixador.
O médico português, João Rodrigues de Castelo Branco, mais conhecido por Amato Lusitano (1511-1568) já o utilizava como unguento.
O seu óleo também é utilizado para combater doenças de pele e acredita-se que tem propriedades sedativas.
Sabe-se que a esteva constitui um anti-séptico, anti-bacteriano e anti-viral.
Popularmente nalgumas regiões era utilizada para desinfectar feridas e aliviava as picadas do insectos. Igualmente era usada para combater a queda do cabelo.
É também utilizada na tinturaria para obter um tom verde-escuro.
O que acabámos de referir nem tudo é aplicável ao concelho de Alcoutim, pelo menos que seja do meu conhecimento.
A grande utilidade da esteva prendia-se à sua utilização como bom combustível. Era arrancada a pulso, no Inverno, pois é quando o terreno está mais brando. Atava-se, com a ajuda de outras plantas, como o loendro, aos molhos formando faxinas que umas sobre outras ficavam a secar para na altura própria serem carregadas nos burros que as levavam aos montes, por isso, ao lugar onde as pessoas viviam.
["Arreigota" de esteva. Foto JV]
Eram com elas que se aqueciam os fornos onde se coziam as amassaduras semanais do indispensável pão, base da alimentação. Por outro lado era a esteva que alimentava o fogo em que se faziam as refeições, muitas delas confeccionadas em panelas de barro.
Por estes dois pontos compreende-se facilmente a utilidade da esteva na vida comunitária.
Mas não fica por aqui a sua utilidade .
O seu uso como prego em várias situações, por exemplo, cortiços para abelhas e para fazer agulhas.
Na feitura de pequenas paliçadas para protecções de vários tipos, principalmente de carácter agrícola, na cobertura de abrigos para animais e ainda protegendo árvores novas do dente nocivo dos animais.
Com a modificação da vida e o abandono dos campos, os estevais vão naturalmente desenvolvendo-se. Hoje, protegem os coelhos e lebres, perdizes e javalis dos seus predadores. Tendo-se desenvolvido de um e de outro lado dos caminhos, muitos deles já não dão passagem ao homem que hipoteticamente poderia passar por lá.
Os veados que já vão existindo no concelho de Alcoutim encontram neles um bom refúgio e segundo afirmam os entendidos, as cápsulas do fruto da esteva proporcionam às mães fornecerem melhor leite aos cervatos.