quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O Ensino Primário na aldeia de Martim Longo

[Martim Longo. Um aspecto da Rua Antero Cabral, antiga Rua Direita. Foto de JV, 2010]

A escola masculina desta aldeia é tal como a da vila anterior a 1840, mas desconheço a data da sua fundação.

Em fins de 1874 o Administrador do Concelho informa que apesar dos professores cumprirem regularmente os seus deveres, nem por isso os alunos tiveram grande aproveitamento, o que é devido à frequência irregular, pois os chefes de família só mandavam os filhos à escola quando não tinham com que os ocupar em casa. Mais se informa que os professores que exerciam funções no concelho não possuíam o curso das duas Escolas Normais de Lisboa.

No relatório que elaborou nos primeiros dias de Fevereiro de 1876, depois de visitar as escolas do concelho, o Administrador, João José Viegas Teixeira, concluiu que nenhuma delas tem as condições que a lei recomenda mas, fazendo-se-lhe os melhoramentos de que careciam, podiam servir pois não havia melhores por estes sítios.

Podemos informar que das seis existentes, segundo o relatório, nenhuma era assoalhada, a maioria de telha vã e a do Pereiro nem janela tinha!

A primeira referência que dela apanhei, é a do relatório que já referi e que me informa que a casa é alugada, tem de comprimento 5,18 m de largura, 4,83 e de altura, 2,33 m. Tem pouca luz, não tem soalho e é de telha vã. No dia da visita, foi frequentada por vinte alunos, sendo regida pelo professor vitalício, José Guerreiro Cotta, que pede a aposentação em 1881 e é substituído interinamente por João Francisco Gomes Delgado.

Neste ano, a 9 de Outubro, a Junta de Paróquia deliberou requerer à Câmara a criação de uma escola de ensino primário para o sexo feminino, tendo em conta a muita população daquela aldeia, com o que a edilidade acordou. (1)

Não vendo satisfeitas as suas pretensões, a Câmara, em 11 de Agosto de 1883, volta a deliberar, por ser de grande utilidade pública, pedir a criação da referida escola.

Um surto de febres tifóides que grassou em Martim Longo e que já tinha atacado quatro alunos, obrigou o professor, Pedro Severiano Teixeira a fechar a escola depois de ordem superior recebida. (Sessão de 31.07.1884).

A Câmara, em sessão de 9 de Fevereiro de 1882, para evitar abusos e haver igualdade, fixa o seguinte horário para as escolas do concelho.

“Desde Outubro até Março, inclusive, a entrada para a escola será às 8 horas da manhã e a saída às 11 horas e de tarde às 2 e a saída às 5 horas para todos os alunos de 8 a 12 anos. Nos outros meses do ano a entrada será de tarde uma hora depois da marcada.
Aqueles que forem menores de 8 anos só frequentam a escola por tempo de três horas por dia. Isto é, hora e meia de manhã e hora e meia de tarde.
O senhor professor dará aos alunos um quarto de hora de descanso hora e meio depois da entrada, para refrescarem as forças de espírito e designará a entrada para a escola aos menores de oito anos ou a quem tenha dado descanso.”

Em 1887 a escola continuava sem ser criada e a Junta de Paróquia voltou a insistir na sua criação. No pedido formulado, a Câmara lançou o seguinte despacho: - “Acordam em vereação indeferir a presente petição por não poder ser criada mais escola alguma neste concelho, pois para a sustentação das existentes está sendo subsidiada pelo Governo”. (2)

Com a entrada em funções da Escola Básica Integrada, em Setembro de 1999, os alunos do 1º Ciclo foram nela integrados ficando o edifício escolar devoluto.

Segundo informação recolhida tornou-se a sede social da Associação Inter-Vivos.

NOTAS
(1) - Acta da Sessão da C.M.A. de 17 de Novembro de 1881
(2) - Acta da Sessão da C.M.A. de 22 de Abril de 1889