A festa do nascimento de Cristo é comemorada desde o século IV, no dia 25 de Dezembro, por decisão do papa Júlio I. (1)
Penso que este dia nunca foi muito significativo para as gentes alcoutenejas - nunca o senti enquanto tive contacto directo com as populações - e quando procurei recuar nos tempos e ouvir as pessoas mais idosas, a minha opinião manteve-se.
O Natal de hoje e apesar da situação do concelho em vários aspectos, principalmente no geográfico e económico, perdeu as características que tinha e pauta-se muito pela informação que chega através dos meios de comunicação social e dos próprios familiares que trazem “coisas” novas.
Do Natal antigo, já pouco ou nada se usa, persistindo contudo “coisas” na lembrança dos mais idosos.
É no mês de Dezembro que os alcoutenenses matam o “sovão”, porquito de engorda, hoje quase desaparecido e muitas vezes aproveitavam para o fazer no dia de Natal ou nas vésperas para assim terem a casa mais farta. Moleja servida com sopas de pão e grandes fritadas nas sertãs eram um regalo.
Pessoas saudosas dos antigos tempos e que a vida já não lhes permite criarem o “sovão”, compram-no para matar.
Na chaminé era colocado um grande madeiro (tronco avantajado de boa madeira para brasas) que pudesse chegar até ao dia de Reis. Era o “cepo do Natal” que protegia contra os malefícios. Havia mesmo quem guardasse o tição para voltar a arder em ocasião de perigo. (2)
Também havia o hábito de fazer searinhas para adornar o presépio.
Cerca de quinze dias antes do Natal colocavam-se em pequenos recipientes sementes de trigo ou de outro cereal ligeiramente húmidas. A germinação fazia-se com rapidez dando origem a uma espécie de tapete, uma seara em miniatura. Havia quem, com os seus resultados previsse as futuras colheitas do ano.
Ainda recentemente (1996) uma avó preparava para os netos verem no presépio, as searinhas do Natal que certamente não conheciam mas que se tratava de uma reminiscência dos seus natais de criança. No seu tempo de criança as searinhas eram colocadas num pequeno altar onde se encontrava a figura do menino e a presença de várias laranjas dispostas em patamar.
A missa do galo era etapa indispensável e a que assistia muita gente.
O regresso a casa dava origem à tradicional ceia de Natal.
Na doçaria imperavam os “fritos”, como as empanadilhas, filhós de joelhos e de canudo e bolinhóis. Faziam-se também nógado, estrelas de figo e amêndoa e bolos de figo.
NOTAS
(1) - Lello Universal - Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro , 1975.
(2) –“ Um Natal Algarvio”, Carlos Guerreiro, Magazine Regional, nº 0, de Dezembro de 1992.