terça-feira, 18 de novembro de 2008

Algumas curiosidades politico-administrativas do concelho de Alcoutim

Até à reforma administrativa preconizada pelo regime liberal, o termo de Alcoutim abrangia as actuais cinco freguesias, mais a de Cachopo que por Decreto de 6 de Novembro de 1836 passa a fazer parte do concelho de Tavira.

Com a publicação do 1º Código Administrativo (Governo de Passos Manuel), em 31 de Dezembro de 1836, as até aí chamadas províncias e comarcas foram substituídas por distritos e o designado “Termo” por concelho. Por outro lado as freguesias que por vezes eram repartidas por dois ou mais termos, passaram a pertencer exclusivamente a um concelho.

As Memórias Paroquiais de 1758 dão-nos a conhecer situações próprias da época e que entretanto foram banidas como já referimos.

À distância de 250 anos, será interessante conhecer o que se passava em relação ao concelho de Alcoutim.

As indicações por vezes não são muito precisas e quando as pomos em comparação tomando em consideração as respostas dadas pelos párocos das respectivas freguesias aos questionários formulados, encontramos diferenças que penso residiram no melhor ou pior conhecimento que tinham das paróquias pelas quais eram responsáveis.

Da vizinha freguesia de Odeleite, termo de Castro Marim, o importante monte das Furnazinhas, com 50 vizinhos, as Cortes de Antomé (São Tomé), actuais Corte Velha e Corte Nova, Monte Novo e Zambujeiros pertenciam ao termo de Alcoutim. Em contrapartida e segundo o pároco de Alcoutim, esta freguesia tinha junto ao rio os sítios de Laranjeiras, com 20 vizinhos, Guerreiros com17 e o do Álimo (Álamo) com 15 que faziam parte do termo de Castro Marim

Em relação a Tavira, Alcoutim “cedia” da sua freguesia de Cachopo, a parte que ficava a sul da ribeira de Odeleite e que englobava entre outros os “montes” da Cortelha, Ceroles, Garrobo, Mercador, Cabeça Gorda, Azinhosa, Mealha e Peralva. (1)

Da sua freguesia de Cachopo, Alcoutim cedia ao termo de Faro o monte de Pêro Chumaço e parte do lugar da Feteira. (2)

A freguesia do Ameixial pertencente ao termo de Loulé fazia cedências a Faro e a Alcoutim. Eram doze os montes que estavam afectos a este termo e de uma maneira geral de poucos fogos. Penso que alguns teriam desaparecido completamente.

Eram eles, indicando-se o número de fogos que na altura possuíam : Colmeias do Boi (1), Corte de Ouro de Cima (8), Corte do Meio (14), Corte de Baixo (7), Corte de João Marques (18), Vale da Moita (4), Almarginho (3), Revezes (15), Pereirinha (3), Boloteira (3), Mestras (1) e Lourencinho (2).

Treze anos depois das informações prestadas pelos párocos, temos conhecimento que alguns dos habitantes dessas pequenas povoações manifestaram o seu gado na Câmara de Alcoutim a que pertenciam ou fizeram-no por meio de interposta pessoa, muitas vezes com residência na vila.

É o que faz Manuel Afonso das Furnazinhas e Gaspar Vaz do Zambujeiro.

O maior número é registado na freguesia de Ameixial, vindo da Corte João Marques, o Capitão (de Ordenanças) André Roiz (Rodrigues) Contreiras, António Estevens, João Roiz (Rodrigues) e João Manuel, enquanto da Corte do Ouro o fizeram José Fernandes, Gregório e Domingos da Costa e Amaro Pereira. Do monte de Revezes manifestaram gado, António Pereira e António Afonso.
Do pequeno monte da Pereirinha veio José Fernandes e do Vale da Moita, dos primeiros a fazê-lo, João Alves.

(Ass, do Cap. André R. Contreiras)
Quase todos os manifestos comportaram reses, mas nunca ultrapassando a dezena, que eram acompanhados de poucas dezenas de gado miúdo representado por ovelhas e cabras, aparecendo algumas vezes as designações de borregos e chibatos. Os porcos apareciam em menor número. (4)

Tudo indica que se tratavam de pequenos proprietários que tinham na criação do gado um meio de realizar o indispensável para despesas prementes.

Pensamos que a divisão das freguesias por mais de um termo tinha a ver além das distâncias verificadas e postas em confronto com as dificuldades em vencer os acidentes naturais, nomeadamente as ribeiras que nalguns meses do ano, mais invernosos, não davam passagem a pessoas e a animais. Se as estradas eram uma miragem, o que dizer de pontes, problema só resolvido depois do 25 de Abril de 1974.

Referimos alguns aspectos politico-administrativos antes de 1836. Numa próxima abordagem, referiremos outro período.


NOTAS
(1) – Tavira e o seu Termo – Memorando Histórico, Arnaldo Casimiro Anica, Tavira, 1993, pág. 43.
(2) – “A Freguesia de Cachopo em 1758, Leitura da Memória Paroquial”Arnaldo Casimiro Anica in Jornal do Algarve de 16 de Dezembro de 1993.
(3) - Dicionário Portugal, Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, Edição Romano Torres, pág. 175, Iº Volume
(4) – Tomo de Manifeztos e Arolam toz da Camera doz gâdoz, iniciado em 1771 (faltam folhas)