quarta-feira, 19 de novembro de 2008

PÃO DURO, pequena povoação da freguesia de Vaqueiros

Logo ao sairmos da aldeia de Vaqueiros, tomando a direcção de Martim Longo, cortamos à esquerda para irmos ao encontro deste “monte”, o mais próximo da sede da freguesia de Vaqueiros, a que pertence.

Ficará a uns três quilómetros. A estrada municipal nº 1047, asfaltada, construída na década de oitenta, apresenta muitas curvas e vários declives. Nas ravinas, um ou outro pequeno hortejo e nas encostas, o mato é rei com predomínio da esteva.

Poucos metros andados, à direita, as ruínas de um moinho. Quando aparece algum terreno limpo, é o chaparreiro que domina, sendo diminuto o número de amendoeiras.

Os traçados telefónico e de energia eléctrica acompanham a estrada que é estreita mas suficiente para o movimento. À esquerda viam-se alguns cortiços que indicam a produção de mel que ainda hoje se verifica.

(Vista Geral, 1989)
É a vez de se atravessar um pequeno barranco, que dá pelo nome de Ribeirão, o que fizemos através de um pontão. Voltamos a subir e o betuminoso encontrava-se em mau estado. Um pouco mais à frente e onde o xisto mostra as suas entranhas, a indicação à esquerda, de uma barragem de terra batida a 1 km e avista-se, pela primeira vez a povoação que procuramos. Situa-se numa elevação e era notório o número relativamente elevado de antenas de televisão.

Uma curva pronunciada à esquerda, leva-nos a ponte de seis vãos pela qual atravessamos a ribeira da Foupanilha, afluente da Foupana. Daqui até ao monte, é sempre a subir.

A água era distribuída por fontanários espalhados pela povoação de tipo concentrado e os arruamentos foram asfaltados em 1989. Em 2003 a água foi levada aos domicílios (1) mas não existe sistema de esgoto, cada um resolve o problema como pode.

A par das construções típicas, existe uma ou outra moderna, mesmo tipo de vivenda e de dois pisos, proveniente do trabalho de emigrantes.


Duas fornalhas chamavam a atenção e existia um forno comunitário.

Já tem alguns anos de existência uma pequena associação, Centro Cultural e Recreativo que na altura em que o conhecemos tinha cerca de cinquenta sócios e local de encontro para beber um copo, tomar um café, dar dois dedos de conversa, jogar uma partida de três setes ou ver televisão.
(Rua Principal, 1989)

De formação mais recente é uma associação de Caçadores e Pescadores que exploram uma ZCA (Zona de Caça Associativa).

Uma cooperativa agrícola, a COOPDURO, fundada pouco depois do 25 de Abril, produzia espécies hortícolas, de carácter biológico e medronho (1.300 litros em 1997), foi visitada em 26 de Janeiro de 1990 pelo então Subsecretário de Estado da Agricultura, como atesta uma placa colocada na sua sede.

Nas Memórias Paroquiais de 1758, o pároco ao responder ao questionário, atribui ao Pamduro, oito vizinhos. Silva Lopes (2) ainda que o refira a pág. 402, não lhe atribui qualquer vizinho no quadro geral que apresenta, possivelmente por lapso.

No censo de 1991 são indicados 50 habitantes em 33 edifícios.

Em 1881 a população com o auxílio da Câmara Municipal procede à abertura de um poço pois estava bebendo da ribeira da Foupana.

Em 1934 a Câmara subsidia a abertura de um novo poço com 700$00, sendo encarregado de organizar o trabalho, José Catarino. (3)

Por esta altura inaugurou-se um posto escolar com a presença do Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal, o Prof. Trindade e Lima, que por aqui andou dois ou três dias, já que então a deslocação a estas paragens só se podia fazer de burro ou a pé!

Há várias estórias para justificar o topónimo, ainda que todas se baseiem na mesma coisa.

(Casa típica, 1989)
Diz-se que o nome do monte terá vindo de uma velha avarenta que pagava aos homens que trazia na lavoura com pão já de vários dias. Quando iam trabalhar para ali, já sabiam ir trabalhar para o Pão Duro. (4)

O povo tem sempre estórias como esta para contar.

Os topónimos de origem antroponímica têm grande representação no nosso país. Aqui poderá estar uma alcunha que veio a ser aglutinada pelo antropónimo e este poderia ter dado origem ao topónimo.

Pão aparece em numerosos topónimos compostos, como por exemplo: Pão Bolorento (Évora), Pão Branco (Faro), Pão e Água (Mértola), Pão Ralo (Elvas) e Malhapão (Tondela).(3)

Depois do encerramento do posto, as crianças iam à escola a Vaqueiros, hoje, se existir alguma terá que ir a Martim Longo.

A estrada continua para Monte Argil e Corte Serranos, ambos “montes” da freguesia de Martim Longo,

Para possibilitar a ligação entre esta povoação e a de Pêro Dias foi construída uma passagem submersível sobre a ribeira da Foupana. (6)

_________________________________________

NOTAS

(1)- Alcoutim, Revista Municipal, nº 10, de Dezembro de 2003, pág.6
(2)- Corografia do Algarve, João Baptista da Silva Lopes, 1841, pág.402
(3)- Actas das Sessões da Câmara Municipal de 8 de Março e 29 de Novembro de 1934
(4)- Elucidário Algarvio, Fernando Cabrita, 1991, pág.83
(5)- Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, José Pedro Machado, Horizonte/Confluência, III Vol.
(6)- Alcoutim, Revista Municipal, nº 5, de Novembro/1997, pág.6