terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Porta de palheiro



Neste espaço do blogue que tem por título, Câmara Escura, já nos referimos ao Boqueirão, e além da fotografia procurámos explicar a sua necessidade e as razões das suas características.

A porta, rectangular, tem um lintel semelhante à do boqueirão, ora em grauvaque, representado por pedra estreita e comprida, ora à falta deste, paus de zimbro, de chaparro ou de zambujeiro por serem as madeiras mais rijas, mas de preferência a primeira, tudo por aqui existindo com relativa facilidade.

Para a base da entrada procuravam lajes rijas, mas onde fosse possível efectuar com as suas ferramentas rudimentares um buraco redondo. Para as ombreiras procurava-se que as pedras mais facetadas se fossem sobrepondo de maneira que os lados da porta ficassem o mais direito possível.

Não existiam batentes.

Três ou quatro tábuas eram unidas através de outros tantos sarrafos transversais, mais encorpados do que as tábuas, que ficavam para o interior e onde as tábuas se pregavam. Raramente possuíam postigo, esse sim destinado às portas das casas e de uma estrutura diferente.

Sem batentes, como é que a porta girava?

O homem que pelas mais variadas razões vivia, ou vive, afastado daquilo que é hábito chamar a civilização, as suas necessidades de sobrevivência obrigavam-no (ou obrigam-no) a ser criativo, resolvendo os problemas com o pouco que dispõe.

Foi assim que o homem destas paragens pensou resolver o problema que se lhe deparava, arranjar um pequeno ramo seco de chaparreiro, (ou das outras árvores em alternariva) com uma determinada curvatura, consoante o tamanho da porta. Limpava-o com uma machadinha ou com qualquer outra ferramenta do tipo, desbastando os nós e afeiçoando um dos lados de maneira que se pudesse ajustar à porta.

Esta peça, para além de ser de uma madeira rija e durável, mantém os veios que não são cortados continuando assim com a sua estrutura natural que lhe proporciona consistência.

Se a porta é de uma folha, o que acontece na grande maioria das situações, o alcoutenejo procura arranjar duas peças destas o mais semelhantes possível, se são duas folhas, terá de arranjar quatro.

Quando os boqueirões são de portas de madeira, o procedimento é semelhante.

As peças de madeira, depois de fixas à porta através de pregos, (nos primórdios, de fabrico local) uma das pontas que fica um pouco saída, vai encaixar no buraco feito mesmo junto à ombreira, onde roda com facilidade, depois do devido afeiçoamento, constituindo assim um gonzo. Na parte superior o sistema é semelhante.
E como fechar a porta?

Recorria-se ao velho ferrolho feito nas forjas das redondezas pelo artesãos locais.
O ferrolho é uma espécie de tranca corrediça de ferro. Enquanto uma das extremidades era suportada e girava num pedaço de madeira fixado à porta, a outra ponta afiada introduzia-se num buraco da ombreira. A aldraba era imobilizada através de um cadeado muito rudimentar.

Naturalmente que os poucos e ainda existentes exemplares do que descrevemos estão a desaparecer aceleradamente na voragem do tempo.

A fotografia representa um exemplar que também já desapareceu.

É uma memória que fica para os vindouros.