A povoação de Alcaria Alta, e que por não ser sede de freguesia é designada por “monte”, situa-se no concelho de Alcoutim, de onde dista cerca de 25 km e na freguesia de Giões ficando a uma distância de aproximadamente 4 km a Sul da sede de freguesia.
A partir de Alcoutim alcançamo-la através das estradas nº 122-1 e nº 124 no sentido Alcoutim-Barranco do Velho e percorridos cerca de 23 km encontramos à esquerda uma placa que nos indica, Alcaria Alta, 2 km.
Em 1987 (1) aparece-nos referido que se acaba de aprovar, entre outros, o concurso de um caminho rural da estrada nacional 124 a Alcaria Alta.
Desde há muito que havia uma vereda por onde se passava com dificuldade e que chegámos a utilizar.
O caminho é asfaltado e os estevais dominam. Notava-se o traçado telefónico pois um posto público foi lá instalado em 1989. (2) O piso, então de terra batida, encontrava-se (1977) em muito mau estado. Algumas amendoeiras e um ou outro eucalipto.
Depois de uma curva pronunciada, aparece-nos uma placa toponímica indicando a povoação que se vê no cimo de um cerro. À esquerda, deixámos a escola primária há muito desactivada por falta de alunos, encontrando-se muito mal tratada com vidros partidos e outros estragos (1987).
Presentemente (2009), tal como a foto mostra, encontra-se pelo menos reparada no exterior, talvez resultante da remodelação efectuada em 2002. (3)
A criação de um posto de ensino escolar é solicitada em 1932 (4), pedido reforçado dois anos depois. (5)
Entrámos num monte de dimensão razoável, podendo classificar-se, a nível de número de construções, um dos grandes montes do concelho. Destaca-se do conjunto uma edificação ao gosto regional, dos anos vinte e propriedade de lavrador local.
Será altura de referir o topónimo muito vulgar em Espanha e em Portugal, principalmente a sul no Tejo, Alentejo e Algarve.
Alcaria deriva do árabe al-qariâ, aldeia, vila, pequena povoação (6). Temos conhecimento de doze povoações assim designadas e podemos-lhe juntar mais quatro no plural, contudo, à grande maioria juntou-se-lhe um qualificativo para a distinguir das outras, nomeadamente as mais próximas. A esta, devido à sua posição topográfica, juntaram-lhe Alta. Encontramos duas no país, a outra situa-se no concelho de Almodôvar, freguesia de Gomes Aires.
Os qualificativos têm origens diversas como Branda, Ruiva, Cova, Cume, Fria, Fernão Vaz, etc. (7)
Na freguesia de Cachopo, existe Alcarias Baixas.
Os arruamentos vieram a ser pavimentados conforme adjudicação que teve lugar em reunião da Câmara de 22 de Julho de 1992. (8) Mais tarde (1999) veio a verificar-se uma nova intervenção neste sentido. (9)
A par de recentes edificações e que por vezes nada têm a ver com a região, ainda se vêem velhas construções de xisto, resquícios de velhas e desactivadas pilheiras, tal como fornos de cozer pão.
Até se pode observar uma interessante chaminé ao gosto alentejano, ou não seja a freguesia de Giões aquela que assimilou mais características daquela região.
A possibilidade da recolha de água potável foi sempre uma preocupação destas povoações que tinham muitas dificuldades para receber um pequeno subsídio municipal ou estatal.
Assim, em 1933, é concedido pelo Estado, um subsídio para a abertura de um poço, (10) mas não se conseguem arranjar homens a menos de 130$00 por metro de profundidade, apesar da Câmara fornecer dinamite e fulminantes. Devido à muita necessidade do mesmo foi autorizado pagar mais 10$00 por metro, sendo encarregado de fiscalizar os trabalhos a efectuar o proprietário local, Manuel Tomás Lourenço. A abertura do poço veio a custar a quantia de 1.540$00
Mais tarde, na década de 60 os poços foram cobertos e apetrechados de uma bomba elevatória manual o que foi um melhoramento considerável.
Era um trabalho diário e árduo ir à água ao poço que ficava sempre em local baixo, ao passo que as habitações se situavam normalmente em posições altas e de uma maneira geral a distâncias consideráveis.
Depois do fornecimento de água por fontanários, em 2002 já tinha sido feita a ligação aos domicílios. (11)
Nas redondezas, algumas árvores vicejam, principalmente alfarrobeiras e amendoeiras.
Em 1851 (12) foi concedido terreno no rossio do monte para se construirem umas casas para habitação.
No século XIX, Silva Lopes identifica uma “estrada” que saindo de Tavira, pela ponte de Almargem, vinha atravessando a serra passando já nos domínios de Alcoutim por Balurquinhos, Zambujal, Alcaria Queimada, ribeira da Foupana, Alcaria Alta, Cacelinha e Giões. (13)
Da povoação avistam-se Cachopo, Martim Longo e alguns “montes” do concelho de Mértola.
A pastorícia e a cerealicultura foram as actividades principais e em 1997 ainda existia um rebanho de 1100 ovinos.
O Pároco da freguesia que respondeu ao inquérito formulado pelas Memórias Paroquiais (1758) e ao contrário do que todos os outros do concelho fizeram, não indica por montes a sua população, mas sim no seu conjunto. A sede de freguesia tinha 377 pessoas enquanto os montes possuíam 412.
Em 1839 Silva Lopes atribui-lhe 43 fogos, seguindo-se Farelos com 30 e Clarines com 20.
Nas proximidades de Alcaria Alta foram identificados vários locais arqueológicos, como no sítio, Vila do Lavajo e no Curralão, situado a cerca de 1km, numa zona rodeada pelos barrancos da Laginha e do Bem Parece.
A actividade mineira está representada pela mina da Couraça, a céu aberto e com vestígios de exploração antiga. (14)
Em 1976 tinha 81 habitantes e em 1991 tinha descido para 42, sendo ultrapassado por Farelos com 87 e Clarines com 65.
Presentemente (2009), são pouco mais que uma dezena! Não está longe a desertificação.
Terra pobre, a sua rudeza não deixa de ser bela. É face de um outro Algarve que não conhece o turismo e que ainda vive à espera do dia dos prodígios.
Porém, este isolamento, este silêncio que nos envolve, esta gente que nos escancara a porta com generosidade para nos oferecer aquilo que produz, como o mel, o presunto, as azeitonas, o pão caseiro ou o chá para a saúde, tudo isto são as raízes esquecidas da nossa essencialidade.
(...)
Ouve-se o assobio do camponês e o cântico dos pássaros. O gado descansa em currais de pedra solta.
São estas algumas das palavras que Luís Monteiro Pereira escreveu sobre “Um fim-de-semana em Alcaria Alta”. (15)
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Notas
(1)-“Abertura de mais quatro caminhos rurais”, in Boletim Municipal nº 1 de Outubro de 1987, pág. 5.
(2)Boletim Municipal nº 5, de Setembro de 1989, pág.2
(3)Alcoutim, Revista Municipal nº 9 de Dezembro de 2002, pág. 10
(4)-Acta da Sessão da C.M.A. de 12 de Janeiro.
(5)- Acta da Sessão da C.M.A. de 7 de Janeiro.
(6)–Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, José Pedro Machado, Horizontes/Confluência, 2ª Edição, 1993.
(7)Novo Dicionário Corográfico de Portugal, A. C. Amaral Frazão, Editorial Domingos Barreira, Porto, 1981.
(8) Boletim Municipal nº 11, de Setembro de 1992, pág. 4.
(9)Alcoutim, Revista Municipal nº 6 de Janeiro de 1999, pág. 10.
(10)Acta da Sessão da C.M. Alcoutim de 27 de Julho.
(11)Alcoutim, Revista Municipal nº 9, de Dezembro de 2002, pág. 10
(12)Acta da Sessão da C.M.Alcoutim de 12 de Janeiro.
(13)Corografia ou Memória Económica, Estatística e Topográfica do Reino do Algarve, Algarve em Foco, Editora, Edição 1988 (fac-similada), pág.496.
(14)– “O Algarve Oriental durante a ocupação Islâmica”Helena Catarino, in al-‘ulyã, Revista do Arquivo Histórico Municipal de Loulé, nº 6, 1997/98.
(15)In Jornal do Algarve de 25 de Abril de 1991.