terça-feira, 21 de julho de 2009

José Manuel Pereira



Nasceu em Vila Real de Santo António a 17 de Junho de 1922 tendo falecido no Hospital Distrital de Faro no dia 29 de Março de 1998, vítima de doença que nos últimos anos o vinha afectando.

Iniciou a sua vida profissional na antiga Tipografia Socorro, como aprendiz de tipógrafo, por isso numa actividade ligada à escrita e à leitura.

Ao cumprir o serviço militar, foi mobilizado para os Açores, como furriel-miliciano.

Convivendo com oficiais americanos e empresários britânicos, estudou o inglês de que se tornou um profundo conhecedor, tendo fama de bom explicador para os alunos do ensino liceal.

Vocacionado para as línguas e com o sentido de melhor compreender as grandes obras da literatura europeia, levou-o a estudar, pelos seus próprios meios as línguas francesa, espanhola e alemã, além da inglesa entretanto assimilada.

Com o advento do Turismo, servindo desinteressadamente como cicerone para visitantes ilustres interessados no passado histórico da então vila pombalina, o que lhe deu grande traquejo e cimentou os seus conhecimentos.

Quando o jornalista profissional José Barão, em 1957 decidiu fundar o Jornal do Algarve, convida-o para nele colaborar.

Em 4 de Setembro de 1965, assume o cargo de editor que José Barão justifica “... pela sua devoção ao jornalismo, um somatório de predicados normais e intelectuais que o recomendam para o cargo em que foi investido”.

Com o falecimento de José Barão ocorrido em 1966, assume a direcção do Jornal.

Com o 25 de Abril passaram-se em todos os jornais diários e regionais algumas contradições que levaram ao enfraquecimento do seu dinamismo, acabando por se extinguirem muitos. José Manuel Pereira afasta-se voluntariamente devido ao rigor e independência como dirigia o jornal não cedendo a pressões nem a interesses politico -partidários.

Com novos proprietários em 1983, José Manuel Pereira volta à direcção do semanário regional para lhe dar credibilidade.

Em 1986 e quando o jornal já sentia estabilidade, José Manuel Pereira regressa, por vontade própria,a simples colaborador mantendo as suas apreciadas crónicas, “Brisas do Guadiana” que escreveu até à morte.

José Manuel Pereira era um autodidacta que possuía uma apreciável cultura. Gostava do debate das ideias e interessava-se pelos movimentos artísticos e culturais.

Era conhecido pelo seu carácter de homem sério e honrado. A fraternidade foi sempre uma palavra que nunca descurou pois aplicava-a a todo o instante.

Colaborou como dirigente de várias associações locais, como a Associação Humanitária dos Bombeiros de Vila Real de Santo António, do Glória Futebol Clube, Cine Clube e ao Grupo de Escuteiros de que era chefe.

Colaborou em vários jornais e revistas tendo sido correspondente de alguns diários.

Em 1991 aceitou que a Câmara Municipal lhe publicasse o seu único livro, “Rimas de Quando Jovem” no qual se revelou um apreciável poeta.

Foi um homem que procurou passar sempre sem ser notado.

É sempre possível dizer mais sobre um homem desta estirpe.

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“Faleceu um dos “históricos” do Jornal do Algarve”, F Reis, in Jornal do Algarve de 2 de Abril de 1998.
“José Manuel Pereira, o jornalista e o cidadão”, Post de 2 de Julho de 2009 http://algarvehistoriacultura.blogspot.com


Pequena nota.

Conheci pessoalmente José Manuel Pereira com quem falei muito poucas vezes mas as suficientes para reparar que estava ali um grande homem, tanto na sua estatura física como intelectual e moral.

Guardo no meu arquivo pessoal uma série de cartas que teve a amabilidade de me escrever e em que revela todo o interesse nos escritos que lhe ia enviando para publicação.

Ainda que já tivesse escrito para outros jornais, as suas palavras tiveram grande influência para que o continuasse a fazer e não esqueço que um dia, com a sua voz calma suave e compassada, ouvi-lhe dizer:- Os seus textos já começam a ultrapassar o âmbito do jornal, tem que começar a pensar num livro – um livro, é sempre um livro.

Ainda que na altura não me sentisse com tal aptidão, a verdade é que essas palavras não caíram em saco roto e no primeiro livro que apareceu em 1985 não podia deixar de referi-lo nos meus agradecimentos.

Tive muitíssimo gosto em oferecer-lhe um exemplar. Nas suas “Brisas do Guadiana de 6 de Fevereiro de 1986 comentou e analisou o trabalho em parâmetros que muito me sensibilizaram, o que igualmente veio a fazer com outras publicações.

A minha colaboração no jornal esteve sempre ligada à sua presença.