Pequena nota
Temos hoje o grato prazer de apresentar um pequeno texto mas que encerra grande profundidade de um nosso Amigo e Colega de profissão, José Temudo de seu nome.
Conheci-o há 42 anos num jantar de homenagem ao nosso Director-Geral, em Lisboa.
Era eu o mais jovem ou dos mais jovens convivas e ainda que ele o fosse também, já se encontrava na 2ª classe.
Calhou ficarmos bem perto um do outro e quando me perguntou em que concelho exercia e lhe disse que era em Alcoutim, ficou tão entusiasmado que lhe perguntei se era de lá. Disse-me que não mas que tinha passado lá os melhores anos da sua vida!
Anos depois, quando publiquei o “Alcoutim, capital do nordeste algarvio (subsídios para uma monografia)”, tive o cuidado de lhe oferecer um exemplar que muito apreciou e o que fiz a todos os colegas no activo que passaram por Alcoutim e não foram poucos.
Tomo a liberdade de transcrever um parágrafo daquela carta, datada de Póvoa do Varzim a 8 de Abril de 1987.
É notório o encanto que Alcoutim lhe desperta, tal como a sensibilidade de poeta que eu lhe desconhecia.
O texto que se segue é bem revelador do seu sentir por Alcoutim, aqui não existem palavras balofas, não se diz isto para parecer bem, não se escreve isto há procura do que quer que seja, diz-se isto porque se sente.
O quadro descrito, devia ter tido lugar em finais da década de trinta do século passado, talvez em 1937/38.
José Temudo foi sempre para mim, pela sua capacidade técnica e verticalidade, um colega de referência.
ARRANCADO PELA RAIZ...
Escreve
José Temudo:
“Naquele dia, chorei pelos meus amigos, companheiros de tantas brincadeiras e aventuras, que não tornei a ver.
Chorei pela Loba, que cresceu comigo, fiel e corajosa amiga, que lutou até ao Limite das suas forças para continuar connosco.
Chorei, ainda por algo indefinido que, só anos mais tarde, eu viria a saber o que era. Para além dos amigos e da Loba, eu estava igualmente, a afastar-me da parte mais despreocupada, mais alegre, mais interessante e mais feliz da minha infância.
Tinha oito anos quando saí de Alcoutim, afinal, do meu Paraíso. Arrancado pela raiz, como rosmaninho.”
Extraído de “ACONTECEU EM ALCOUTIM”, de JT
[Rua Pedro Nunes em Alcoutim e onde residiu a Família Themudo]