quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Festa em Honra de Nª Sª da Conceição na Vila de Alcoutim

(PUBLICADO NO JORNAL ESCRITO Nº 25, DE SETEMBRO DE 2000, p. III, ENCARTE DO POSTAL DO ALGARVE DE "! DE SETEMBRO DE 2000)



A actual Capela de Nª Sª da Conceição, onde hoje funciona um núcleo museológico de Arte Sacra, é templo cujas origens se esboroam no recuar dos anos.

Teria sido no século XIV a primeira matriz com invocação de Santa Maria?

Depois de entrar em ruína, em 1534 já estava restaurada por acção dos moradores na vila e com o auxílio do Marquês de Vila Real, 2º Conde de Alcoutim, D. Pedro de Meneses, que contribuiu com “sessenta e três mil reaes”. (1)

Apesar do culto de Nª Sª da Conceição já ser milenário, foi D. João IV que o incentivou pois viu no triunfo da Revolução de 1 de Dezembro de 1640, um favor da Imaculada. No oitavo dia da sua aclamação (8 de Dezembro), foi a festa de Nª Senhora da Conceição, a primeira a que assistiu, na Capela Real do Paço da Ribeira, em Lisboa.

Um decreto de 25 de Março de 1646 jurava Nª Senhora da Conceição como Padroeira do Reino, nas Cortes que tiveram lugar naquele ano. (2)

A partir da Restauração da Independência, operou-se a um novo restauro do templo e foi instituída a Confraria de Nossa Senhora da Conceição dos Soldados, já que o culto tinha um carácter patriótico. (3)

A Festa de Nª Senhora da Conceição, em Alcoutim, talvez venha desses tempos pois como terra de fronteira que é, esteve muito ligada a tais acontecimentos.

Todos os anos, no dia da Senhora, realizavam-se grandes festejos. Por esse facto, o primeiro feriado do concelho foi o dia 8 de Dezembro e que foi substituído por outro dia logo após o 25 de Abril.

A igreja era cuidadosamente ornamentada com flores e ramagens silvestres, trabalho da responsabilidade do ermitão.

Temos notícia que em 1744 o pregador foi Frei João de S. Diogo (3) e em 1799 o sermão coube a um padre de Mértola, Pedro Feliciano Nobre. (4)

Deslocavam-se aos festejos para colaborar, os padres de Giões, Martim Longo, Pereiro, Vaqueiros, Cachopo e Odeleite, além dos Curas de Sanlúcar que habitualmente estavam presentes.



Em 1851 a Câmara, já administradora da Capela, deliberou “que se dessem providências para ela se fazer com pompa e esplendor possível, vendendo-se para isso o trigo dos foros pelo preço corrente. (5)

Os anos foram passando e em 1874 a Câmara constata que os dinheiros foram desviados para o cofre especial das estradas, pelo que havia dificuldade em fazer a festa de Nª Sª da Conceição. (6)

Nas festividades de 1907 foi servido um bodo aos pobres que assistiram às cerimónias, no qual se gastaram dezasseis mil e quinhentos reis.

Depois das solenidades era costume servirem-se refrescos aos clérigos que tomavam parte. Refrescos em Dezembro?

A Festa de Nª Senhora da Conceição, de grande devoção destas gentes, tinha grande concorrência. Pagavam-se promessas e havia quem anualmente, da sua colheita, retirasse determinada quantidade de azeite para alumiar Nª Senhora.

Solenes procissões percorriam as principais ruas da vila e eram actos que não podiam faltar.

A Implantação da República provocou alguns choques, voltando depois à normalidade e com introdução de outras actividades de carácter pagão.

Em 1913 foi deliberado mandar celebrar a festa em honra de Nª Senhora da Conceição e encarregado de a organizar o Vice-Presidente, António Maria Dias (6) e no ano seguinte houve a mesma deliberação e com a condição de ser promovida com a devida pompa. (7)

[Procissão em 1996]

Havia um pequeno pavilhão onde funcionava uma quermesse. Ainda o conheci, muito velhinho. Era obra do Dr. José Pedro Cunha, projecto e execução. Facetado, penso que hexagonal, estava muito bem concebido e com montagem prática.

A Festa de Nª Senhora da Conceição entrou em declínio extinguindo-se praticamente. Foi então, no início dos anos cinquenta que apareceram as Festas da Vila que de certo modo pretenderam substituir aquelas.

Em onze anos de permanência na vila, assisti a uma procissão.

Em 1992 pretende-se recuperar a festa religiosa. Depois da celebração da missa na Capela, a imagem percorreu em procissão as principais artérias da vila, sendo acompanhada pela Banda dos Bombeiros Voluntários de Aljezur. (8)

A partir daquele ano as manifestações religiosas em honra de Nª Senhora da Conceição têm-se mantido.

NOTAS

(1) “Visitações” da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio, Hugo Cavaco, MCMLXXXVII
(2) História de Portugal, Joaquim Veríssimo Serrão, Vol. V, 1980
(3) Livro de Contas da Real Confraria da Nª Sª da Conceição, 1744.
(4) Livro de Contas da Real Confraria de Nª Sª da Conceição, 1875
(5) Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim de 30 de Setembro de 1841
(6) Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim de 15 de Novembro de 1874.
(7) Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim de 6 de Novembro de 1913.
(8) Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim de 26 de Novembro de 1914.
(9) Boletim Municipal, nº 12 de Abril de 1993.