sábado, 2 de janeiro de 2010

A cestaria

Outra actividade artesanal que foi do agrado deste povo. A cestaria é uma das mais antigas actividades artesanais, já que os seus produtos eram indispensáveis, principalmente para a lavoura e pesca.

A cestaria consiste no entrelaçar cruzado de vários tipos de vegetais, dando-lhes a forma adequada ao destino dos objectos.

Vários são os vegetais utilizados, dependendo fundamentalmente da sua existência na zona. No sul, entre outros, usa-se a cana, material fresco e de entrelaçado largo, a permitir arejamento dos produtos e a testemunhar a presença de séculos árabes. (1)



Tinham fama no País os cestos, cabazes e canastras algarvios.

As margens do Guadiana e dos seus cursos afluentes e subafluentes criavam muitos canaviais que abasteciam a arte.

Faziam canastras (reparar na origem do nome - de cana) de variadíssimos tamanhos, cabazes, cestas, cestos e condessas, mas qualquer outro se lhe for indicado o fim, pois depressa era idealizado o modelo.

Na altura, os cestos de papéis nas repartições públicas eram todos de cana, com o pé e receptáculo, o que nunca tínhamos visto. Hoje, certamente que não há nenhum, será tudo mais “fino”, tudo metálico, apesar de se pretender defender o artesanato. Por outro lado, os tabuleiros para a roupa passada a ferro constituíam bonitos cestos baixos de forma elíptica. Também vimos cestos próprios para a roupa suja e até gaiolas para pássaros.



Como nas outras artes, a sua beleza depende da habilidade do artesão.

Eram objectos de grande utilidade, servindo para transportar tudo, desde peixe aos produtos agrícolas e encontravam-se em todas as casas.

Quem estivesse em Lisboa, numa época festiva, pela carga dos tejadilhos das camionetas, facilmente reconheceria as que provinham do Algarve – eram todas as que traziam amontoados cestos e canastras de cana.

Dizem os entendidos que a principal “ciência” está no rachar das canas. Aqueles que faziam desta arte o seu meio de vida executavam a cestaria com uma rapidez surpreendente.



Segundo dizem, não é arte de fácil aprendizagem, pelo menos para se obter bom nível.

A fase mais importante do trabalho é o debruar.

Saber fazer cestos era comum a toda a região, mas a maioria aqui, no concelho de Alcoutim, fazia-o para consumo próprio. Fazia parte da cultura local. Um homem para ser homem tinha, entre outras coisas, de saber fazer um cesto e uma cadeira, incluindo tecer o fundo com junça ou tabua.

A aldeia de Odeleite, que há cerca de cinquenta anos, era considerada a “capital” da cestaria de cana, pertenceu, ainda que esporadicamente, a este concelho.

A vizinha Sanlúcar, ao contrário de Alcoutim, foi grande centro cesteiro, actividade que ainda era intensa na década de sessenta do século passado, vendo-se sair dali camionetas carregadas exclusivamente de cestaria. O Sr. Manuel Francisco, cesteiro da Corte da Seda, e considerado um bom artesão, aprendeu a arte ali.

Hoje, está praticamente extinta.



O aparecimento do plástico deu grande machadada neste e noutros tipos de artesanato, mas hoje nota-se uma vivificação da arte não para a utilização convencional que tinha, mas sim como objectos decorativos e de embalagem, pois são considerados símbolos de arte.

Além da cana, os artesãos alcoutenejos utilizavam a oliveira e o marmeleiro para os covos de pesca usados no rio.

NOTA

(1)-Cestaria Tradicional Portuguesa, Rui de Abreu Lima, - Feira Internacional de Artesanato - 1993.