sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Zambujal, um "monte" onde a oliveira foi rainha

[Vista parcial da povoação. Foto JV, 2009]


O Monte do Zambujal tem sido, no decorrer dos tempos, uma povoação incluída no grupo das mais importantes da freguesia de Vaqueiros a que pertence.

Um numeroso conjunto de montes era constituído por poucos fogos que de uma maneira geral estabilizaram ou pouco aumentaram, hoje, alguns deles estão completamente despovoados e outros perto disso.

Zambujal pertencia ao grupo de Alcarias, Preguiças, Pão Duro, Alcaria Queimada e Taipas que eram os mais populosos. Podemos mesmo dizer que em 1758, segundo as Memórias Paroquiais, era o de maior número de fogos, com 31, seguido por Alcaria Queimada com menos dez.. Era consequentemente nessa altura o grande “monte” da freguesia.

Cerca de 80 anos depois, Silva Lopes na sua Corografia do Algarve, mais precisamente em 1839, atribui-lhe 24 fogos (houve por isso um decréscimos) mas continua a ser o de maior número na freguesia, seguido de Alcaria Queimada e também das Preguiças, agora com 17 cada.

Os árabes que ocuparam esta zona deixaram vestígios nos Alcariais do Zambujal que constituiu um povoamento e junto da actual povoação foram encontradas cerâmicas e telhas decoradas. (1)

A antiga estrada Real de Tavira para Giões passava perto desta povoação.

[Construção típica desde a parede, passando pelo lintel de grauvaque até à porta de madeira com postigo e ... a na altura indispensável pilheira para colocar o tacho das papas. Foto JV, 2009]


O topónimo é muito frequente no país e de fácil explicação. É mais um que tem origem no reino vegetal. Zambujal é um terreno onde crescem zambujeiros ou zambujos de igual significado. Como povoação localizámos vinte e aparecem de norte a sul do país.No Algarve existem na freguesia de Alte e na de Boliqueime, ambas no concelho de Loulé. Outra povoação próxima é a da freguesia de Espírito Santo, concelho de Mértola.

Depois há os Zambujeiros, as Zambujeiras e derivados em número considerável. Todos sabemos que zambujeiro é uma oliveira brava e no Zambujal essas oliveiras bravas foram tornadas mansas através da enxertia de garfo ou borbulha, localmente mais conhecida por carteta.

Foi o Zambujal escolhido para a localização, primeiro de um posto escolar, possivelmente criado na década de 30 do século passado quando era presidente da Comissão Administrativa da Câmara, o professor Trindade e Lima, e depois de uma escola que ainda em 1975 dava trabalho a dois professores. Além das crianças do monte recebia as de Malfrade, Alcaria Queimada,Preguiças, Balurquinho e Galachos, ainda que este lugar tivesse uma escola mais próxima, Várzea, mas que tinha então o problema de transpor a ribeira de Odeleite onde não havia ponte. Mais tarde devido à extinção por falta de alunos da escola de Soudes (freguesia do Pereiro) as crianças deste monte e da Casa Nova recorriam igualmente ao Zambujal.

A escolha teria também a ver com a sua localização central em relação aos restantes montes.

Entretanto constrói-se um edifício de duas salas, hoje ocupado segundo informação recebida pela direcção da ZCA de Zambujal/Alcaria Queimada.

A escola foi extinta por falta de alunos em 1989, aliás, como aconteceu às de Traviscosa e Vaqueiros, na mesma freguesia. (2)


Em meados do século passado, quando a população atingiu os maiores índices, chegou a possuir um pequeno estabelecimento comercial que ia resolvendo as necessidades mais prementes.

Em 1999 a Junta de Freguesia procura recuperar o Carnaval ao gosto antigo mas naturalmente em novos moldes. Organizaram-se cinco carros sem temas específicos e as pessoas entrouxaram-se como antigamente. Reuniram-se na aldeia e um dos carros era proveniente deste monte que ainda arranjou gente com espírito para o efeito. (3)

Depois do fornecimento de água por fontanários, em 2001 é levado ao domicílio. (4)

Foram concluídos durante o ano de 1991 os arruamentos da povoação (5).

Está provida de um painel de caixas para correio, sendo igualmente construído um abrigo para esperar pelos transportes rodoviários.

[Poço recuperado e parque de merendas. Foto JV, 2009]

Em 2007 a Junta de Freguesia com o apoio da Câmara embeleza o local do poço com a construção de um parque de merendas. (6)

Em 1771 o lavrador local, André Roiz (Rodrigues) Pereira, era Alferes de Ordenanças.

No censo de 1991, já numa situação de vertiginoso decréscimo populacional, são-lhe atribuídos 56 habitantes para no seguinte (2001) passarem a ser 38.

Em finais de 2009 e numa deslocação que fizemos à zona, foi-nos informado que na altura seriam 29.

São números que não admiram e que são similares aos apresentados pelos restantes “montes”.

Conheci na vila de Alcoutim, onde se fixaram e provenientes deste monte, Manuel António Pinto, bom mestre carpinteiro/marceneiro e Francisco Rodrigues, mestre pedreiro, falecido há poucos anos e de avançada idade.

Entre os guardas-fiscais que conheci oriundos deste monte, conta-se o nosso amigo, Francisco Manuel Pereira, cabo-chefe, que presidiu à Junta de Freguesia de Alcoutim onde efectuou dois mandatos, retirando-se por livre e exclusiva vontade, o que é apanágio de pessoas de bem que têm a noção exacta das coisas e que não se deixam cair no lamaçal em que muitos acabam por cair. Afastou-se com dignidade.


NOTAS
(1)–“O Algarve Oriental Durante a Ocupação Islâmica”, Helena Catarino, in Revista do Arquivo Histórico Municipal de Loulé, nº 6, 1997/98.
(2)–Boletim Municipal, nº 6 de Dezembro de 1989, pág. 2
(3)–“ Carnaval de Vaqueiros faz renascer velhas tradições.”Elsa Neto, Jornal da Serra, Março de 1999
(4)–Alcoutim, Revista Municipal, nº 8 de Setembro de 2001, pág. 2
(5)–Boletim Municipal nº 9 de Dezembro de 1991, pág. 2
(6)–Alcoutim, Revista Municipal, nº 14 de Janeiro de 2008, pág. 17