quinta-feira, 15 de abril de 2010

O "correio" na aldeia de Vaqueiros

[Vista aérea da aldeia de Vaqueiros, 1994]

A transmissão de missivas escritas ou orais começou por ser feita através do homem, primeiro a pé, depois a cavalo e que acompanhou naturalmente os meios de comunicação até aos nossos dias.

Foram utilizados almocreves, criados, escudeiros, barqueiros, caminheiros para transporte de cartas e afins.

Esta situação manteve-se praticamente até meados do século XIX, ainda que haja notícias que D. Manuel tivesse criado em 1520 o cargo de correio-mor.

Em 1833 inicia-se a distribuição domiciliária de correspondência.

O uso do selo na correspondência é iniciado em 1853. (1)

Depois desta brevíssima nota sobre a evolução do correio, vamos entrar propriamente no assunto que pretendemos abordar.


Ao quesito 20 do I questionário das “Memórias Paroquiais” de 1758, o pároco respondeu:- Não tem correio e quando é necessário alguma correspondência precisa ou vai mesmo (...) ou manda próprio à sua custa e a tem mais próximo de correio é a Vila de Mértola que dista deste lugar quatro léguas e a cidade de Tavira que dista seis léguas.
Nesta altura nem a Vila de Alcoutim tinha correio, servindo-se dos almocreves ou do correio da Vila de Mértola, para onde mandavam as cartas. Aqui a distância era calculada em cinco léguas.

Em finais do século XIX, todas as freguesias do concelho tinham garantido a recepção de correspondência, excepto a de Vaqueiros que mais uma vez ficava esquecida.

Reage a esta situação a Junta de Paróquia que apresenta um requerimento solicitando à Câmara que lhe seja concedida uma gratificação para pagar a um estafeta que conduza as malas do correio de Martim Longo para a aldeia, pelo menos, duas vezes por semana, alegando ser aquela freguesia a única do concelho que está privada de tal regalia. A petição foi atendida (mesmo assim) só por maioria.

A condução desta mala teve início em 28 de Abril de 1883 e feita por Francisco Rodrigues Alberto, daquela aldeia, que recebe por cada carreiro, 120 réis. (1)

Do auto da arrematação de 1891, respigámos o seguinte:- Arrematante - José António Gonçalves, de Vaqueiros. Valor da arrematação - 17 980 réis.

Condições - Fazer três carreiros na semana; estar na estação do correio à hora em que chega o estafeta desta vila (Alcoutim) para depois lhe entregar a mala e a conduzir logo para Vaqueiros recebendo a que foi entregue também. Por cada carreira a que faltar, sem motivo de força maior, pagará a multa de 200 réis.

Só a partir de 1974 é que a freguesia começou a ser servida, em parte, por distribuição ao domicílio.

Em meados do século passado, as notícias de carácter urgente nas aldeias, como por exemplo as mortes, eram transmitidas através de homens que, se dedicavam a estas tarefas, montando bons machos e percorrendo caminhos e veredas que conheciam bem.

À grande maioria dos montes da freguesia de Vaqueiros, o telefone fixo só chegou por volta dos anos oitenta, como várias vezes temos referido quando abordados individualmente os montes.

NOTAS

(1)–Dicionário Ilustrado da História de Portugal, Publicações Alfa, Vol. I, 1982, pp 160, 161.
(2)–“Coisas Alcoutinenses - Correio, Telégrafo e Telefone”, José Varzeano, O Distrito de Faro, de Janeiro de 1997.