Pequena nota
Mais um interessante texto saído da pena do nosso saudoso amigo. Aquilo que nele preconiza há 42 anos, é hoje uma realidade, não no castelo mas junto ao Guadiana, já que o castelo acabou por ter um destino talvez mais adequado. O “elefante branco” é hoje uma referência de Alcoutim.
JV
Escreve
Luís Cunha
Para sair da longa e debilitante letargia em que se encontra, Alcoutim tem muitos problemas a enfrentar: uns de desenvolvimento a ritmo lento e outros a requererem explosão instantânea, a todos se tornando necessário lançar mecha cedo e a um tempo, para conseguir frutificação imediata e continuada.
Se o viajante vagabundo, para escapar ao ramerrão diário da vida sedentária, em cata do natural, da carne em sangue, põe a deambular o espírito nómada e aventureiro do avô caçador-pastor, e, se por outro lado, temos de evitar-lhe o bocejo de enfado que a monotonia provoca, se é assim, esta região, esta região de Alcoutim a 30 km de Monte Gordo, com tudo o que tem de diferente, de sempre diferente, constitui, sem dúvida alguma, o complemento ideal e indispensável para fazer dessa estância balnear o todo turístico, o tal triângulo turístico.
O passeio fluvial Guadiana acima, que até para os que diariamente o percorriam aparecia como coisa sempre nova, e o salutar exercício físico da caça que aqui abunda e que para saciar esse velho espírito de caçador do Norte poderia reservar-se-lhe, seriam a sobremesa, os “figos maduros” que Alcoutim põe gratuitamente à disposição desses exploradores das estâncias balneares para mimosear seus hóspedes.
Pasma-se do seu total e desconcertante alheamento nesta colheita de “figos maduros”, sem planto.
Se as praias deste lado oferecem indubitavelmente muito melhores condições climáticas e espaciais, e o turista as deserta em favor do Barlavento, parece dever concluir-se logicamente que lhe não basta a excelência dessas condições, quando solitárias, quando desacompanhadas de elementos complementares contrastantes.
É isto que Alcoutim, tal qual é, oferece sem outro preparo, aquilo que é diferente e capaz de satisfazer a procura curiosa, mas porque o sempre belo também cansa, se o mesmo caçador e o próprio gavião pousam para descansar, Alcoutim precisa de uma pousada no velho castelo0 com panorâmica grandiosa sobre o rio.
A hipótese foi aventada em 1965, a quando, nesse mesmo local, Sua Excelência o Venerando Chefe do Estado repousava para merendar, mas não teve até hoje seguimento. Por isso se requer para o alvitre a atenção generosa das entidades competentes.
N.I. O autor intitulou o artigo de “FIGOS MADUROS” mas que o jornal substituiu.
(PUBLICADO NO DIÁRIO POPULAR DE 17 DE MAIO DE 1968)