[O monte visto do Sul. Foto JV, 2010]
Já visitámos por três vezes este pequeno monte da freguesia de Vaqueiros.
Durante alguns anos lemos e escrevemos muitos vezes este topónimo e a informação que recebíamos a quem a solicitávamos era que se tratava de um pequeno monte lá para a freguesia de Vaqueiros onde se chegava com dificuldade de burro e ainda com maior a pé.
Antes do 25 de Abril, poucos presidentes da Câmara teriam conhecido esta pequena povoação, talvez algum originário da freguesia mas de lugar próximo, como aconteceu a António Gonçalves, em meados do século XIX e que era lavrador residente no Monte das Madeiras, o mais próximo do Monte do Galego.
Após a República, duvido muito que algum presidente da Câmara (até ao 25 de Abril) tivesse conhecido tal povoação, esta e todas as outras que estavam na mesma situação, distantes e sem acessos, completamente isoladas. Tomando em consideração que ainda hoje, para lá se chegar, a espécie de estrada que temos que seguir não é asfaltada e tem subidas bastante inclinadas sendo-se obrigado a utilizar a 1ª velocidade!
Saindo da aldeia de Vaqueiros, a cuja freguesia pertence, pela estrada 506, ao primeiro cruzamento cortamos à direita. À 506 só lhe faltam duas faixas para ser auto-estrada, mas como o movimento é quase nulo, funciona como isso, a que tomamos, 505, é asfaltada e tem algumas curvas acentuadas. Poucos quilómetros andados, somos obrigados a parar sempre que lá passamos pois desfrutamos talvez o melhor panorama serrano do concelho de Alcoutim, isto do lado esquerdo da estrada. Ao vale largo e profundo que a Ribeira de Odeleite origina, opõem-se cerros atrás de cerros numa progressão equilibrada. Sem dúvida que é a prova provada do que disse um conceituado geógrafo português, a Serra Algarvia é um mar de cerros.
Apanhamos à esquerda a estrada municipal nº 1049 hoje já asfaltada, pois quando lá passámos pela primeira vez talvez ainda não fosse estrada municipal, mas sim caminho.
A estrada é sempre a descer e vai levar-nos ao Monte das Madeiras, um dos primeiros que aqui referimos com os elementos que então possuíamos.
Atravessamos a ribeira de Odeleite por um pontão e seguimos o caminho a que já nos referimos quanto à sua inclinação e dificuldade em o vencer. À nossa direita desenvolve-se o profundo vale da Ribeira de Odeleite que na altura e apesar de Inverno era pouco caudalosa pois a chuva tinha sido pouca, contudo, notava-se grande quantidade de cascalho que a água inunda quando cai mais forte e devido aos fortes declives rapidamente se junta no seu leito e corre impetuosa. Nos melhores locais ainda se notam algumas árvores e os terrenos limpos, apesar de serem diminutas as gentes das redondezas.
Em todo este trajecto vimos uma cabra e um burro aparelhado mas não vislumbrámos o seu dano. Nem vivalma! Veículos, nem um.
[Ribeira de Odeleite próximo do monte. Foto JV, 2010]
Fomos observando a Ribeira à esquerda e ao mesmo tempo a serra à direita onde apesar de todas as dificuldades oferecidas plantaram amendoeiras e onde não é fácil apanhar o seu fruto. Hoje, ficará lá todo, mas quando o local era povoado e o preço da amêndoa era compensador, não ficava lá nenhuma.
Após cerca de dois mil e quinhentos metros, sempre a subir e já no alto, à direita encontrámos na primeira visita uma rústica e velha placa toponímica de chapa pintada com a indicação de GALEGO. Cinquenta metros depois estávamos no monte.
Vamos agora recuar no tempo.
A referência mais antiga que encontrámos e como quase sempre acontece é a que nos fornece as “Memórias Paroquiais de 1758” e isto se a indicação de Alcarias Galegas for sinónimo de Monte do Galego ou simplesmente Galego. Não nos parece oferecer grandes dúvidas pois que o monte das Alcarias já existia com esse nome.
[Antigo forno, possivelmente comunitário. Foto JV, 2010]
Era, como sempre foi, um monte pequeno pois atribuíam-lhe 3 vizinhos ou seja, três fogos habitados. As Madeiras, nessa altura, tinham apenas dois e as Taipas, que são dois montes, 10. Havia nessa época, na freguesia, variadíssimos montes com o mesmo número de vizinhos.
Numa acta da Câmara Municipal de meados do século XIX, encontrámo-lo designado por Casa do Galego.
Silva Lopes, no anexo final da Corografia e em que fornece o número de fogos existentes no Algarve em 1839, não refere este, pois só indica oito desta freguesia.
Em 1998/99, a primeira vez que lá estivemos, ainda tinha quatro moradores. Falámos então com dois velhotes muito trémulos.
Ainda não havia energia eléctrica ,o que agora encontrámos, pelo menos os postes, embora não conseguíssemos localizar quando tal se realizou. Existiam dois poços, um na parte alta e apetrechado de bomba elevatória, mas que segundo os informadores era água de má qualidade e outro na parte mais baixa de água melhor e de onde bebiam os moradores.
Disseram-nos que ainda por lá iam passando de vez em quando alguns vendedores ambulantes.
[Chaminé e telhado novo. Foto JV, 2010]
Os fogos desabitados ainda existentes são próprios da região. Casas de xisto e grauvaque, quase todos caiados. Pelo menos dois fornos de cozer pão e o mais antigo devia de ser forno comunitário como era próprio da zona. O outro já com telheiro é muito mais recente. Telhados de telha de canudo, mas encontrámos um com telha moderna e de recente colocação, segundo o aspecto da telha. Palheiros e pocilgos em declínio também se podem ver.
[Amendoal junto ao monte. Foto JV, 2010]
Apesar do que descrevemos, os terrenos circunvizinhos encontram-se desmatados e até pudemos apreciar um amendoal tratado, o que hoje raramente acontece e com as árvores em floração.
Quanto ao topónimo, poderá ter várias explicações e por vezes nenhuma é verdadeira, tal a complexidade da toponímia.
Uma das hipóteses é a circunstância de que terrenos galegos ou terras galegas têm o significado de fracos, pobres e pouco produtivos e isto vai no sentido do primitivo topónimo ou seja Alcarias Galegas, o que se ajusta aos terrenos locais.
Se tomarmos em consideração a outra designação que encontrámos na acta da Câmara ou seja, Casa do Galego, orienta-nos totalmente para um fundador do monte, um galego, com a variante que isso significa: natural da Galiza, nortenho para os homens do sul, escravo do trabalho e utilizado na nossa língua para muitas mais situações, como é do conhecimento geral.
[Ruínas e Poço com bomba elevatória. Foto JV, 2010]
Ou estará no fruto de uma casta de oliveira a que chamam azeitona galeguinha ou simplesmente galego?
Nos últimos mapas publicados do concelho, é monte que já não é referido.
Aqui fica o que conseguimos reunir sobre este despovoado monte.