quinta-feira, 14 de julho de 2011

Alcoutim perdeu um poeta

(PUBLICADO NO JORNAL DO ALGARVE DE 15 DE SETEMBRO DE 1994)



O nosso modesto trabalho, Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (…) 1984, contou com a preciosa colaboração de dois poetas populares que nos confidenciaram a sua poesia.

João Madeira finou-se em 1987 com oitenta e dois anos e nessa altura fizemos publicar nestas páginas meia dúzia de palavras em sua homenagem.

Na sexta-feira passada, dia 2, o telefone tocou e voz embargada e soluçante de “velha” e comum amiga dava-nos a triste notícia do passamento do outro poeta e nosso querido amigo, Leonel Mariani Lorador que usava o pseudónimo de Luneta.

Leonel Lorador iniciou a sua vida como actor de teatro popular, percorrendo vilas e aldeias do sul do País. Tentou depois a carreira na capital onde não conseguiu singrar por falta de apoio e da sua maneira de ser.

Leonel era um idealista que nunca abdicou dos princípios que considerava básicos na formação do indivíduo.

Alheio ao “material” preferia alimentar-se das ideias.

Vimo-lo pela última vez há cerca de um ano e já se encontrava debilitado pela pertinaz doença que o veio a vitimar. Dificuldades de visão obrigavam-no ao uso de uma lente para ler o jornal. No nosso fugaz encontro não podia faltar a poesia, dizendo-nos alguns dos seus últimos poemas.

Todas as crianças tinham no seu coração sensível um lugar muito especial.

Data de 19 de Outubro de 1984 esta quadra muito simples. Sei que sou pessimista / Eu sei que nada sou / Eu sei que tenho vista / Mas não sei p`ra onde vou.

Leonel Mariani amava a natureza e é ela que consome a maioria da sua poesia.

Não sendo alcoutenejo pelo nascimento, era.o pelo coração e a poesia que lhe dedicou mostra-o claramente.

Finou-se no passado dia 30, com oitenta anos, em Lisboa, onde ficou sepultado.
Aqui desfolho, sobre a sua tumba, as pétalas da minha saudade.