quarta-feira, 20 de julho de 2011
A figueira, uma referência do Algarve
A figueira dá-se bem em terras áridas mas onde haja sol.
Foi da melhor “fazenda” que o algarvio do litoral teve e alcançou determinada expressão económica no concelho de Alcoutim durante alguns anos onde foi árvore de certa preferência.
O figo algarvio sempre teve grande nome, principalmente seco.
Os figos poderão dividir-se em dois grandes grupos, os brancos e os pretos ou “pintos”.
Comem-se frescos ou secos e com eles fabrica-se também aguardente.
O primeiro figo a aparecer é o lampo sendo a primeira camada pelo São João e só se come fresco. Em meados de Agosto amadurecem os que se conservam pela secagem.
Reconhece-se o momento em que se devem colher pela inclinação que toma o fruto pois que o figo que até então se mantinha numa posição sensivelmente horizontal, inclina-se quando está maduro.
A figueira é uma árvore que pouco sofre com as variações atmosféricas, mas o seu fruto pode ser destruído pelas chuvas. Por outro lado, requer algum cuidado, sendo indispensável a cava para a sua manutenção. Reproduz-se por estaca e enxertia de borbulha.
A apanha do figo efectua-se de meados de Agosto a meados de Setembro, o que corresponde à da amêndoa e da alfarroba. Varejam-se igualmente com canas e põem-se ao sol a secar em caniços ou “passeiras” feitas de palha de centeio ou junco.
Punha-se água a ferver em tachos grandes de zinco onde se deitava funcho. Os figos secos acamavam-se numa canastra e assim entravam e saíam quantas as vezes necessárias no caldeiro quando a água fervia.
Após os escaldões escorrem-se, armazenando-se em caixotes, arcas ou canastras. Entre as várias camadas põe-se funcho e ervas doces. Sobre a última assenta pesada pedra para que os figos fiquem bem acamados e não se estraguem.
O figo seco era muito utilizado como alimento, principalmente quando se saía para o campo. Os de inferior qualidade davam-se às bestas.
À época da secagem chamavam os mouros, alacil. (1)
As margens do Guadiana eram o local privilegiado para a plantação de figueiras e havia exemplares de grande porte. Hoje ninguém planta uma.
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Nota
(1) – Elucidário, Frei Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, Porto, 1965, p.289