quinta-feira, 7 de julho de 2011
Os moinhos queimados
Transmitido pelo que escreveu o prof. Tindade e Lima em 1973 num semanário regional, anotámos o seguinte no nosso trabalho, Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (Subsídios para uma monografia), 1985, p.91: Dos Moinhos Queimados, próximo da vila, dizem que várias vezes tinham sido reconstruídos mas que os raios sempre os fulminavam, naturalmente atraídos pela natureza do terreno onde estavam erguidos.
Quando neste blogue publicámos em 5 de Julho de 2010 “Os moinhos de vento”, além de referirmos o que o alcoutenejo escreveu, acrescentámos o que obtivemos por via oral: Estes moinhos são (ou eram) também conhecidos pelos moinhos do Cerro dos Cadavais ou dos Escrivães. À roda deles ainda gira uma estória diferente da que acabámos de referir e que procura justificar a razão por que “ardiam”.
Dizia o povo... que o escrivão Manuel Torres (1) criou um imposto que era denominado popularmente por lágrimas das viúvas. Com o seu produto foram construídos os ditos moinhos, mais tarde destruídos por um raio. Reconstruídos, vieram a ter a mesma sorte.
O povo explicava o caso por castigo de Deus devido à origem do dinheiro, que consideravam não justa e ilegal.
Mas afinal, porque voltámos aos moinhos queimados, haverá alguma coisa a acrescentar?
Em recente pesquisa encontrámos um assento de óbito lavrado pelo P. António Madeira de Freitas (tio) de que respigámos: Às 6 da tarde de 21 de Junho de 1865 no moinho de vento extramuros desta vila, faleceu José Mateus, de 13 anos, solteiro, jornaleiro, morador na vila de Alcoutim, filho de Mateus Xavier (2) e de Josefa Martins, sendo vítima de um raio.
Admitimos que este moinho extramuros da vila seja um dos designados depois por moinhos queimados já que não conhecemos outros nas suas proximidades.
Significa isto que estas estórias/lendas acabam por ter algum fundamente, que com o decorrer dos tempos se vai deturpando, porque quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto, como diz a sabedoria popular.
Notas
(1) - Manuel (António) Torres, foi Presidente da Câmara e depois seu secretário durante muitos anos, exercendo também as funções de Provedor da Santa Casa da Misericórdia e figura de destaque no concelho no século XIX. É possível que por essas alturas tivesse sido criado qualquer imposto, não pelo escrivão, que não tinha competência para isso, mas pelo órgão executivo municipal de onde o mesmo teria feito parte. O povo ligou estes assuntos procurando encontrar uma justificação para o acontecido.
(2) – A família Mateus Xavier ainda existe na vila, admitindo tratar-se da mesma.