segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Estórias do Surf - "LEFT CITY"
Escreve
José Miguel Nunes
[O autor surfando em 1989]
Estaríamos nos finais dos anos oitenta, pois eu já fazia surf há pelo menos quatro ou cinco anos. O surf nesse dia era na Marques Neves, uma onda muito boa quando as condições de vento e“swell” se conjugam na perfeição.
O surf estava muito bom, com direitas compridas a atravessar toda a baia de pedra, vento “off-shore” fraquinho, o que fazia com que as ondas se apresentassem “glass”. Já não me lembro quem estava na água, seríamos aí uma dezena, entre eles estava o meu amigo Leopoldo, “shaper” local que me fez muitas e boas pranchas.
Numa altura em que os dois fizemos uma onda um a seguir ao outro, acabámos por nos encontrar no “inside” bem lá ao fundo até onde as ondas nos levavam, quando ele me desafia a ir apanhar umas na esquerda lá mais em baixo, a que chamamos de “Left City”, onde não estava ninguém. Fiquei um bocado indeciso, pois nunca tinha surfado lá, e naquele dia as ondas rondavam o metro e meio de altura, com a maré vazia, não me estava a sentir muito confortável, mas ele insistiu e lá fomos nós…
Left City é uma onda tubular, para a esquerda, faz lembrar os Supertubos, mas a rebentar em cima de um fundo de pedra raso. Mal chegámos ao pico, o Leo apanhou logo uma onda, e fez o respectivo tubo, volta para o pico e eu ainda não me tinha estreado. Elas passavam por mim, e eu nada, os “drops” estavam atrasados, com a água cristalina, via-se o fundo todo bem pertinho… de pedra.
Novo “set” entra e o Leo arranca novamente, outro tubo. Volta para o pico, e eu continuava em branco, a coisa não estava a correr bem. Diz-me ele: “atão” Zé, tão altas ondas…”, fiquei um pouco embaraçado, estavam altas ondas, só nós dois, e eu nada… Entra novo “set”, começámos a remar, e o Leo não parava de dizer: vai nessa, vai nessa, alta onda… não tinha outro remédio, tinha de ir… logo se via no que dava… arranquei bem posicionado, “drop” atrasado, bottom, e mete lá para dentro, tubo até ao fim, alta onda, vim a remar para o pico aos gritos: alta onda, alta onda…
Ganhei confiança, a partir daí não houve “set” em que não arrancasse numa, eu e ele claro. Foi um dia de surf inesquecível com muitos tubos, talvez um dos melhores dias de surf que tive.
Surfei mais algumas vezes, não muitas, em Left City, mas nunca mais lá apanhei ondas assim, esta surfada inesquecível devo a ao meu amigo Leopoldo… thanks Leo.