sábado, 8 de outubro de 2011

Ferro de engomar




Apresentamos hoje na nossa visitada rubrica de etnografia dois velhos ferros que foram usados no concelho de Alcoutim até depois do 25 de Abril, já que só a vila e os Balurcos usufruíam de electricidade a partir de 1965 e a mesma só esteve ao dispor do restante concelho depois de 1974.

Em casa de nossos pais existiram exemplares semelhantes a estes, ainda que existisse fornecimento de energia eléctrica onde vivíamos. Lembramo-nos perfeitamente, teríamos uns dez anos, quando o nosso pai surpreendeu a nossa mãe com um ferro eléctrico, muito tosco para os nossos dias e que nos parece ainda estar a ver. Aliás, durou muitos anos e custou 100$00, uma pequena fortuna para a época. A pega era de madeira e pintada de vermelho e penso que não possuía qualquer regulador de calor, era ligar e desligar.

Os ferros que as fotos apresentam não estão completos. Ao primeiro e mais antigo falta-lhe a pega de madeira, substituída por um pau de esteva, para “turista” ver. Além desta falta-lhe um protector de lata, em semicírculo que servia para evitar o calor que o interior emanava pela combustão do carvão.

Este ferro, em forma de quilha de barco, era composto por duas partes principais, a que constituía uma espécie de reservatório onde se colocava a acendalha, normalmente carqueja e sobre ela o carvão, a outra era a tampa que prendia por meio não uniforme ao corpo e que em muitos modelos se fazia por uma pequena argola que trancava numa espécie de cano e constituía a grosso modo uma chaminé por onde ia saindo o anidrido carbónico proveniente da combustão.

Na parte traseira oposta ao “bico”, havia uma pequena abertura por onde circulava o ar para assim o carvão ir podendo arder e aquecer o ferro, cuja base era polida para poder fazer o trabalho a que se destinava ou seja, passar a roupa, tornando-a mais apresentável para vestir. A parte da retaguarda tinha uma pequena peça que procurava evitar que alguma brasa mais pequena pudesse sair queimando o tecido, o que por vezes acontecia, como bem nos lembramos em casa de nossos pais e que deixava a nossa mãe bastante arreliada, inutilizando a peça.

O outro exemplar representado é mais moderno e por isso, mais evoluído na sua concepção. Não apresenta chaminé nem abertura traseira (?) já que a “respiração” ou seja, a passagem do ar, cujo oxigénio alimenta a combustão é feita por buracos feitos ao seu redor e junto à base, mas com uma posição recolhida para evitar a caída de brasas e aberturas de formato triangular e feitas na tampa. Havia modelos que tinham junto ao “bico” uma peça com o feitio de um galo com a qual, por intermédio de um movimento, fechava ou abria o ferro.

Ainda que o “combustível” fosse o mesmo, notavam-se consideráveis vantagens neste modelo.

Ambos eram naturalmente feitos de ferro forjado.

Quando necessário levavam uma abanadela para proceder à sua ventilação.

Havia sempre um descanso para colocar o ferro, como o primeiro exemplar apresenta.

Pequena nota

Estes exemplares fazem parte do “museu” do Sr. António Mestre no monte da Corte Tabelião, freguesia e concelho de Alcoutim, tendo solicitado a permissão para fotografar e que nos foi concedida.