terça-feira, 24 de abril de 2012

Afonso Vicente foi um grande monte da freguesia de Alcoutim [13]

O LENDÁRIO


A SAIA CURTA DA PATEIRA

 



O lendário foi sempre um assunto que nos interessou e já algumas vezes o temos referido nalguns escritos.

Como quase sempre acontece nestes assuntos, as opiniões não são coincidentes, com diferenças no tempo e na descrição, quase sempre e obviamente, pouco definidas. O que todos referem é que ouviram falar na Saia Curta da Pateira!

Uns afirmam que sempre ouviram falar nisso, outros que é uma coisa relativamente recente. Quem tem razão, não sei.

Quem ronda hoje os oitenta anos, e mesmo quem já os passou, em jovens era-lhes metido medo com a aparição da Saia Curta da Pateira, se de noite passassem pelos sítios que ela notoriamente frequentava e que se situavam entre o moinho da Pateira, nas proximidades de Afonso Vicente e o Carapeto, hoje na berma da estrada, a caminho das Cortes Pereiras.

Sabe-se que vestia toda de branco e que a saia era curta e daí a sua identificação. Os malefícios que ela tinha causado ou causava, é que nunca consegui identificar pois quando se chega a essa explicação, ninguém adianta nada.

Ainda hoje, entre os poucos habitantes de Afonso Vicente e aqueles que lá nasceram, quando calha, é referida a Saia Curta da Pateira, conforme o espírito de cada um e as circunstâncias em que se fala.
Muito recentemente e para tentar encontrar mais alguma informação, perguntei a três naturais do monte se já tinham ouvido falar nela. Um, disse que nunca tinha ouvido tal coisa, (afastou-se muito cedo do monte) outro, o mais novo, que isso eram coisas do antigamente e o mais velho, rindo-se, “esclareceu”: - eles não sabem nada! A Saia Curta era de Afonso Vicente e tinha encontros nocturnos e amorosos com o lobisomem, das Cortes Pereiras, ao Carapeto!

Chegando entretanto um natural e residente nas Cortes Pereiras, não conhecendo a estória, acabou por afirmar que depois desta conversa percebeu porque é que um dia tinha visto sair do Carapeto, uma espécie de estrela cintilante que desapareceu a caminho de Santa Marta!

Quem é que sabe acrescentar mais a esta lenda que se não ficar escrita, se perderá com o decorrer do tempo? (1)

LENDA DO COIRO DE BOI

 



A lenda que se segue é extremamente sucinta mas nem por isso deixa de ter interesse a sua referência.

Já lá vão mais de trinta anos que a ouvi contar e ainda há pouco tempo a ouvi referir novamente.

Para os lados de Afonso Vicente – Santa Marta, a caminho do termo de Mértola, entre o Curral das Palhotas e a Umbria das Casas, está enterrado o coiro de um boi cheio de libras ou moedas de oiro.

Seria pelo que se diz, uma fortuna descomunal que nenhum arado ainda conseguiu localizar, nem mesmo muito mais recente as máquinas agrícolas que por lá têm trabalhado.

Dizem os crentes que está bem mais fundo e daí ninguém ainda o ter encontrado, mas um dia quando menos se esperar, será!

Há quem afirme que isto é verdade, pois consta, como muitas outras coisas, do livro de São Cipriano que por aqui teve os seus acérrimos cultores, não há muitos anos.

O livro de São Cipriano era muito respeitado nesta zona e é um livro que grande parte da população mais idosa já ouviu falar e que de uma maneira geral respeitam.

Ainda não consultei o livro! (2)


LENDA DO MOINHO DE Dª ANA


Esta pequena lenda foi-nos contada em Afonso Vicente (3) e já lá vão uns anos. O narrador ouviu-a contador à mãe natural desta povoação que por sua vez a tinha ouvido contar aos seus avós igualmente daqui originários.

O açude do moinho de Dona Ana, na margem esquerda da Ribeira do Vascão e por isso do concelho de Mértola, ia-se todos os anos embora pelo que tinha que ser reparado anualmente originando grandes despesas.

Numa situação desesperada e para tentar resolver o problema a proprietária (D. Ana?) teria oferecido à santa da sua devoção metade do rendimento que obtivesse.

Diz a lenda que o açude nunca mais se foi embora!


GUERRILHAS – ESTÓRIA E LENDA


No período conturbado das lutas entre liberais e absolutistas o sistema de guerrilha foi muito utilizado e a serra algarvia, nomeadamente a do Caldeirão utilizada para essa acção pois possibilitava bons esconderijos.

É tradição que a serra, naturalmente conservadora se inclinava para a posição política de D. Miguel que tinha bom apoio na igreja conservadora, ainda que houvesse nesta bastante gente liberal, leia-se de esquerda.

O concelho de Alcoutim, então com seis freguesias tinha à testa deles pelo menos cinco padres progressistas e um que admito conservador, o de Martim Longo.

Existem por todo o concelho estórias mais ou menos lendárias sobre “factos” ocorridos e Afonso Vicente não escapou a elas, hoje talvez desconhecidas dos seus poucos moradores.

Ao aperceberem-se da aproximação dessas hostes, os afonso-vicentinos montavam os burros levando algo que pudessem comer e escondiam-se nos barrancos tendo a preocupação de atar uma pedra ao rabo dos burros para que assim não zurrassem denunciando a sua localização. A verdade é que quando um burro zurra, levante sempre o rabo!

Roubo é sempre roubo mas a violência praticada sobre as pessoas, principalmente sobre as mulheres, suplanta tudo.

Vamos contar novamente a estória que ouvimos a uma natural desta povoação e há muito falecida.:- :Passando por ali uma hoste de “malhados”, lobrigou à porta de seus pais uma donzela e logo se propõem levá-la. Aflito, o pai, impotente para salvá-la, concorda com o chefe do grupo mas que, antes, teriam de comer e beber em sua casa para festejar o acontecimento. Com o desenrolar da festa, o chefe acabou por reconsiderar e deixar a moça, prestando-se o pai a ceder sempre a sua casa, quando por ali voltassem. (4)

NOTAS

(1) – Blogue Alcoutim Livre, A saia curta da Pateira, postagem de 23 de Setembro de 2008.
(2) – Blogue Alcoutim Livre, A lenda do Coiro de Boi, postagem de 2 de Janeiro de 2009.
(3) -. Manuel Joaquim dos Santos, natural e residente em Afonso Vicente.
(4) – Estória-Lenda contada pela sra. Ana da Costa, de Afonso Vicente.