Pequena nota
Sou por vezes
interrogado por leitores do AL como é possível manter uma escrita quase diária
sobre ALCOUTIM e o seu CONCELHO visto tratar-se de uma pequena vila lá para os
lados da Serra do Caldeirão e junto ao Guadiana.
Além da consulta em
bibliotecas e arquivos, não tanto como desejávamos e que já se desenrola há
mais de quarenta anos, procurei sempre olhar para as coisas com olhos de ver e
não despercebidamente. Talvez esteja aqui a razão de ter sempre algo para dizer
e escrever.
Ainda que tivesse
recolhido informação, muita deixei desaparecer mas a verdade é que eu só vivi
onze anos em Alcoutim e o meu trabalho não era este. Além da execução da minha
profissão era obrigado por lei a trabalhar para duas entidades das quais
recebia uma importância mensal quase simbólica!
Numa conversa
telefónica habitual com o nosso Amigo e Colaborador Gaspar Santos recordei a
existência de estes versos reproduzidos por uma alcouteneja que os ouviu em criança
e que nunca mais esqueceu.
Tive oportunidade há
muitos anos de os transmitir a um dos netos do autor que os desconhecia
completamente e que muito agradeceu dizendo que representavam bem a ideia com
que tinha ficado do seu avô.
A versalhada traduz
bem as vivências de Alcoutim na época e vários têm sido os “Quaresmas” que têm
passado pela Vila, uns de lá, outros de fora e com roupagens diferentes, ora de
oiro, ora de pechisbeque. E continuarão a passar...
O autor que se
identifica foi cabo da Guarda Fiscal, nasceu 1855 e faleceu em 1936.
Foi pai, entre outros
do professor Manuel José da Trindade e Lima que foi presidente da Comissão
Administrativa da Câmara Municipal de Alcoutim e professor na vila.
A alcouteneja que me
transmitiu os versos faleceu não há muito e de provecta idade.
Chamava-se Lucília
Pereira, vulgo Pimenta.
Esta publicação acaba
por ser uma maneira de a recordar.
JV
Venho a meu povo contar
Uma cena muito engraçada
O Quaresma foi ao cemitério
Entrou com o coveiro à cabeçada
O homem quando o viu pela frente
Em camisa e sem chapéu
Aterrorizado bradou
Valha-me aqui Deus do Céu.
Senhor Quaresma tenha tino.
Porte-se como um homem sério
Olhe que está praticando um crime
Dentro de um cemitério.
E é o Senhor Quaresma
Chefe de uma secretaria
Que vem ao cemitério
Praticar tal selvajaria!
Um homem que assim procede
Não devia ser nada
Devia de estar internado
No manicómio Bombarda.
Sei que o Senhor que diz
Que me tem um ódio fatal
Nada lhe levo por isso
Visto que o meu é igual.
Visto que o meu é igual
Ou talvez muito superior
É como o outro que diz
Amor paga-se com amor.
Quem estes versos fez
É velho mas não covarde
Nome, sobrenome e alcunha
JOSÉ FRANCISCO DA TRINDADE