domingo, 29 de abril de 2012

Casos de toponímia

(PUBLICADO NO JORNAL DO BAIXO GUADIANA, Nº 0 DE ABRIL E Nº 1 DE MAIO DE 2000, pags. 2)

Desde há muito que é assunto que nos preocupa. As variadas designações escritas que ao longo de mais de trinta anos nos têm aparecido nas leituras que continuadamente fazemos sobre o concelho de Alcoutim, colocam-nos em muitos casos, dúvidas, ainda que haja situações em que elas não aparecem, tratando-se de erros tipográficos ou de leitura.

A lembrança deste escrito teve origem num erro, hoje muito em voga no concelho e que para mim foi praticado antes de 1985, possivelmente por erro de leitura pois o documento em que o encontrámos pela primeira vez, foi feito por alguém que não conhecia o concelho e teria lido Lombada por Lombardos, talvez por influência da placa toponímica que nos indica aquele “monte” do vizinho concelho de Mértola.

O primeiro mapa do concelho que conheci, a nível de folheto turístico, foi publicado em Março de 1969 pela Câmara Municipal, por Luís Cunha.

As estradas eram bem poucas, as nacionais e uma ou outra pequena estradita municipal para servir determinado monte. Poucas mais indicações existem e feitas de uma forma muito genérica. Indicam-se algumas produções, localizam-se zonas de minas, a existência de caça aqui e ali e pouco mais.

A nível toponímico existem bastantes erros certamente motivados por quem fez a recolha e ou por quem os passou ao papel. Mais grave é, lamentava-se o Presidente da Câmara do facto de constar no folheto que ele próprio tinha feito a revisão o que de maneira nenhuma podia corresponder à realidade.

Analisando o folheto, encontrámos bastantes erros como Pateiro em vez de Pateira, Coutada da Sede por Corte da Seda, Torneira por Torneiro, Corte das Damas por Corte das Donas, Silveiras por Silveira, Coifo por Coito, Monte Martim, por Monte Marim, Letão por Lutão, Bentes por Bentos, Cavaca por Cabaços (?), Galegos por Galego, Alcaçarias por Alcarias, Tramelgo por Tremelgo e Estradas por Estrada.

Como se vê pela relação, são bastantes Singulares transformados em plurais, possivelmente algumas gralhas tipográficas e outras razões.

Após o 25 de Abril, das primeiras coisas que se fez foi meter máquinas a abrir caminhos por onde pudesse passar um tractor ou uma motorizada, já que o isolamento era total, principalmente na freguesia de Vaqueiros. As estradas começaram a aparecer. Começa a haver necessidade de passar para o papel as estradas feitas e projectadas, os furos artesianos abertos por todo o concelho e outras indicações importantes. O mapa a que me referi é ajustado às novas realidades e naturalmente são corrigidos os topónimos. Desapareceu Pateiro (Pateira é o verdadeiro) e apareceu Lombardos. Segundo informações que recolhi junto dos moradores e fregueses, sempre conheceram o local por Lombada e não Lombardos. Em nossa opinião, a pequena povoação com dois ou três fogos, poderia chamar-se Fonte Zambujo do Meio pois situa-se entre os seus homónimos de Cima e de Baixo, mas os seus fundadores e vizinhos, assim não quiseram pois entenderam que Lombada identificaria melhor o lugar. Lomba e seus derivados como Lombada, são topónimos muito vulgares no País e têm origem topográfica: lombada é uma lomba prolongada, sendo lomba uma leve encosta. Lombardos (Mértola) é único no País havendo Lombardo no concelho da Covilhã.

Confesso que durante os onze anos em que exerci a minha profissão em Alcoutim e em contacto diário com os topónimos do concelho, por dever de profissão, nunca me passou pelas mãos, que me lembre, tanto Lombada como Lombardos.

Hoje fala-se na Lombada por lá ter sido construído, devido à posição central, edifício escolar que servia os três lugares e que, encontrando-se desactivado desde 1982, foi adaptado a núcleo museológico, tendo por base “A construção da Memória”.

Já fui acusado por ter contribuído para essa troca pois no trabalho que publiquei em 1985 Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (…) ter incluído um mapa do concelho com a indicação de Lombardos.

Sem pretender tapar os erros que cometi nesse trabalho, tenho contudo de dizer que o mapa foi-me facultado pela Câmara Municipal, com o erro, e ao publicá-lo corroborei nele. Na descrição que faço da freguesia na página 370, não refiro Lombardos.

No valiosíssimo trabalho de Silva Lopes, “Corografia do Algarve” do século passado, indica-se Serros do Vinho por Serro da Vinha, Calrines por Clarines, Leitão por Lutão, Fremelgo por Tremelgo e Desperguiças por Preguiças.

Preocupa-nos no concelho e por motivos diferentes, outros casos de toponímia que a seguir abordaremos.

Os topónimos têm alguma semelhança com os antropónimos, principalmente no aspecto da indicação de matriz. Ambos vão sofrendo a transformação ortográfica com o decorrer dos tempos mas devem preservar as suas raízes, em muitos casos já difíceis de definir. Se hoje muitos topónimos são incompreensíveis, pensando que tem muito a ver com a sua adulteração no decorrer dos séculos.

Alguns dos casos que vamos apresentar, notámo-los logo que chegámos a Alcoutim, sendo o que mais se me evidenciou o de Martim Longo, duas palavras, ou numa só Martinlongo, ambas respeitando as regras ortográficas. Mas não é isso que está em causa, o que está em causa é saber qual é o verdadeiro topónimo.

Sempre escrevi Martim Longo da mesma maneira pois foi essa a indicação oficiosa que recebi e pela minha concepção toponímica a isso se ajustar.

Num escrito que fiz publicar na imprensa regional, em 1973, talvez por pensarem que estava errado, escreveram-no numa só palavra.


Lutão e Lotão são outro caso de dualidade de escrita mas não tem semelhança técnica com o anterior. Habituei-me a escrever com um “u” mas, analisada a situação, com um “o” poderá ter mais sentido toponímico.

E continuamos na freguesia de Martim Longo. Zorrinhos ou Zurrinhos, como se escreveu no Regulamento do Plano Director Municipal, publicado no Diário da República nº 285, Iª Série, de 12 de Dezembro? Se4mpre escrevi com um “o” e parece-me a mais consentânea com a realidade.

Arrizada, pequeno monte da freguesia que temos vindo a referir, vê-se normalmente grafado com um “z”, mas no Dicionário Corográfico de Portugal, de Amaral Frazão, aparece com “s”.

Monte Argil e Montargil é um caso semelhante ao da sede da freguesia a que pertence e para terminar os casos toponímicos que detectámos nesta freguesia, apresentamos um de tipo diferente. Afinal é Corte Serranos ou Corte Serrano?


Caso semelhante passa-se na freguesia de Alcoutim, onde aparece escrito Balurcos ou Balurco de Baixo (ou de Cima).

Em Vaqueiros anotámos dois casos. Galaxos ou Galachos e Traviscosa ou Troviscosa. Neste caso, quase não existe diferença já que a origem é a mesma, trovisco ou travisco, como é mais vulgar entre o povo.

Desconheço se existe algum registo oficial a nível nacional do nome de cidades, vilas, aldeias ou lugares ou se tal está previsto a nível concelhio. As minhas palavras, de leigo, são de alerta para a situação, procurando evitar desvirtuamentos.

Se efectivamente estão definidas as situações que apontei, penso que há que as fazer cumprir, começando pelos órgãos autárquicos, com naturalmente a Câmara Municipal à cabeça.


Continuo a pensar que deveria ser esta a entrar em contacto com os estabelecimentos de ensino e organismos oficiais no sentido de indicar a escrita correcta dos topónimos.

Se por outro lado as definições não estão estabelecidas e a confusão reina, é necessário que quem de direito e continuo a pensar ser a Autarquia, diligencie o esclarecimento devido, recorrendo aos meios ao seu dispor, não deixando de consultar técnicos das áreas em causa, historiadores, filólogos e linguistas, entre outros.

Depois dos esclarecimentos, é natural que uns continuem a escrever bem e outros mal, mas têm de ser os organismos oficiais a dar o exemplo.

Pela minha parte escreverei sempre como oficialmente me for indicado. O que existe é uma verdadeira anarquia escrevendo cada um como lhe apetece.

No futuro, ninguém poderá dizer que houve esquecimento!