Escreve
José Miguel Nunes
“Hoje em dia o mais fixe que há é ser surfista”, era esta a
frase que ilustrava um “post” no “facebook” de alguém pela qual nutro grande
respeito e admiração, por tudo o que representa para o surf nacional, onde mais
em baixo complementava: “mas há 30 anos, há 20 anos, há 10 anos atrás, nós os
surfistas éramos vistos como uns párias e uns vagabundos da praia”.
É bem verdade. Como
isto mudou!!!
Só a título de exemplo, ainda me lembro de na discoteca mais
“in” da zona oeste, os surfistas não poderem entrar, só porque eram surfistas.
Como isto mudou!!!, ou de se fazerem campeonatos em Peniche, alguns deles
internacionais, e até nem é preciso recuar assim tantos anos, e de não haver
nada aberto na praia para se poder beber um café ou comprar uma garrafa de água.
Como isto mudou!!!
Curiosamente alguns dos que há uns anos tinham atitudes como
as descritas, são agora uns fervorosos defensores do surf em Peniche. Como isto
mudou!!!
Se é absolutamente necessário tirar proveito deste recurso
natural que temos, potenciá-lo e aproveitá-lo em benefício da economia local,
como aliás tenho defendido, é também absolutamente necessário que se tenha
algum cuidado e não nos deixemos levar pela febre economicista e mediática do
vale tudo.
Não nos esqueçamos que o surf para além da componente
comercial, tem também a outra vertente, a do puro lazer, a do puro prazer.
Começa a haver a tendência para esquecer esta vertente do
surf, começa a haver a tendência para esquecer todos aqueles que não precisam
do surf para nada, a não ser para descomprimirem depois de um dia intenso de
trabalho.
Não mediatizemos tudo, não englobemos tudo no mesmo saco,
preservemos também algum do “élan” que o surf tem e que não pode, nem deve ser
perdido, pois se isso acontecer acabaremos por prejudicar também a vertente económica
de forma irreversível.
O surf é muito mais do que campeonatos e conferências de
imprensa, o surf é muito mais do que “surfcamps” e “surfscholls”, o surf é
também um estilo de vida, com particularidades muito próprias que merecem ser
preservadas.
Obviamente que quem tem negócios com base no surf, sente
alguma dificuldade em não cair na tentação de esquecer a preservação em
detrimento do lucro, de certo modo pode até ser compreensível, não
justificável, mas compreensível que o faça. Caso bem diferente é quem nos
representa institucionalmente, nesse caso não é, nem compreensível, nem
justificável, e devemos exigir que nos proteja relativamente ao avanço
desenfreado que se está a dar nesta área, e se o exemplo deve vir de cima,
então que sejam eles os primeiros a dá-lo, e em Peniche, infelizmente nem
sempre é isso que acontece.