segunda-feira, 11 de junho de 2012

Como isto mudou!!!




Escreve


José Miguel Nunes


“Hoje em dia o mais fixe que há é ser surfista”, era esta a frase que ilustrava um “post” no “facebook” de alguém pela qual nutro grande respeito e admiração, por tudo o que representa para o surf nacional, onde mais em baixo complementava: “mas há 30 anos, há 20 anos, há 10 anos atrás, nós os surfistas éramos vistos como uns párias e uns vagabundos da praia”.

É bem verdade. Como isto mudou!!!

 Só a título de exemplo, ainda me lembro de na discoteca mais “in” da zona oeste, os surfistas não poderem entrar, só porque eram surfistas. Como isto mudou!!!, ou de se fazerem campeonatos em Peniche, alguns deles internacionais, e até nem é preciso recuar assim tantos anos, e de não haver nada aberto na praia para se poder beber um café ou comprar uma garrafa de água. Como isto mudou!!!

 Curiosamente alguns dos que há uns anos tinham atitudes como as descritas, são agora uns fervorosos defensores do surf em Peniche. Como isto mudou!!!

 Se é absolutamente necessário tirar proveito deste recurso natural que temos, potenciá-lo e aproveitá-lo em benefício da economia local, como aliás tenho defendido, é também absolutamente necessário que se tenha algum cuidado e não nos deixemos levar pela febre economicista e mediática do vale tudo.

 Não nos esqueçamos que o surf para além da componente comercial, tem também a outra vertente, a do puro lazer, a do puro prazer.

 Começa a haver a tendência para esquecer esta vertente do surf, começa a haver a tendência para esquecer todos aqueles que não precisam do surf para nada, a não ser para descomprimirem depois de um dia intenso de trabalho.

 Não mediatizemos tudo, não englobemos tudo no mesmo saco, preservemos também algum do “élan” que o surf tem e que não pode, nem deve ser perdido, pois se isso acontecer acabaremos por prejudicar também a vertente económica de forma irreversível.

 O surf é muito mais do que campeonatos e conferências de imprensa, o surf é muito mais do que “surfcamps” e “surfscholls”, o surf é também um estilo de vida, com particularidades muito próprias que merecem ser preservadas.

 Obviamente que quem tem negócios com base no surf, sente alguma dificuldade em não cair na tentação de esquecer a preservação em detrimento do lucro, de certo modo pode até ser compreensível, não justificável, mas compreensível que o faça. Caso bem diferente é quem nos representa institucionalmente, nesse caso não é, nem compreensível, nem justificável, e devemos exigir que nos proteja relativamente ao avanço desenfreado que se está a dar nesta área, e se o exemplo deve vir de cima, então que sejam eles os primeiros a dá-lo, e em Peniche, infelizmente nem sempre é isso que acontece.