Ao estabelecer o Bloqueio Continental, Napoleão exigia
que Portugal fechasse à Inglaterra os seus portos, declarando-lhe guerra e
mandando retirar o seu embaixador em Londres. Portugal
não o fez, então a França e a Espanha assinam o Tratado de Fontainebleau (27.10.1807) no qual se projecta dividir Portugal em
três partes.
Em 17 de Novembro de 1807 os
franceses sob o comando do General Andoche Junot entram em Portugal e quando
chegam a Lisboa já a família real tinha embarcado para o Brasil.
Junot |
A agitação, apesar das
medidas extremamente punitivas “decretadas” por el-rei Junot, começa a aparecer em vários pontos do País, de Lisboa
ao Porto, de Trás-os-Montes ao Algarve, sendo Olhão a primeira terra algarvia a
lançar o seu grito de revolta, o que aconteceu em 16 de Junho de 1808.
Naturalmente, o que aqui se pretende fazer é referir o que se passou em Alcoutim.
É fácil deduzir que as tropas
francesas transformaram a igreja em cavalariça, como era seu hábito.
As atrocidades cometidas não
seriam poucas, já que o escrivão ao referir a presença emendou para violência.
Em 21 de Outubro de 1807 é
expedida carta do Palácio Episcopal de Faro ao vigário de Alcoutim para remessa
àquele Palácio da prata das igrejas do seu “distrito”, peças que deverão ser
separadas por igrejas e acompanhadas de uma relação, ficando nos templos só o
indispensável para o exercício do culto. O pároco de Giões, com alguns
paroquianos, resolveu vender as peças para
não ter o tal Francez couza alguma desta Igreja. (2)
Igreja ou Capela de Nª Sª da Conceição. Des. de JV |
A sublevação do
Baixo-Alentejo recebeu forte apoio da zona meridional, sendo Alcoutim, entre
outros, um foco de penetração da revolta para o interior. (3)
Após o levantamento do lugar
de Olhão é deliberado guarnecer Cachopo, então pertencente ao concelho de
Alcoutim, de tropas e para onde foram enviadas munições. Coube ao Capitão
António Fernando da Guarda Cabreira ministrar aos voluntários o ensino do
manejo das armas tal a táctica de organização defensiva.(4) Para estar atento
ao que se passava na Serra do Caldeirão e vigiar o que se desenvolvia na zona fronteiriça
com o Alentejo, foi enviado com os seus homens o Capitão António Vaz Velho.(5)
O Coronel Maransin que estava
sob as ordens do General Maurin e que se encontrava em Faro ocupou Alcoutim com
a Legião do Meio-dia que acaba por abandonar pondo-se a caminho de Mértola que
ocupa.
O Juiz de Fora de Alcoutim,
que era partidário dos franceses, chega a Lisboa com a notícia alarmante de que
os espanhóis tinham invadido o território da sua jurisdição, o que não era
senão o resultado da derrota dos franceses na Andaluzia. (6)
Entretanto são eleitas, onde
foi possível, juntas governativas, o que também aconteceu em Alcoutim, mas
desconhecendo-se a sua constituição. (7)
Admitimos que José de Brito
Magro, capitão-mor da Vila de Alcoutim, tivesse feito parte dessa Junta.
Em 5 de Agosto de 1808 ofereceu
e entregou à Junta de Alcoutim 2000$000 réis, metade em papel e metade em metal. No dito mês de
Agosto concorreu com 600$000 em metal, que entregou à Junta de Tavira para o
fardamento do Regimento de Infantaria nº 14, colaborando assim para as
urgências do Estado. (8)
Em 1809 o Bispo D. Francisco
Gomes do Avelar como Governador Interino das Armas do Algarve deu o comando do
Cordão do Guadiana ao tenente-coronel José da Costa Leal e Brito que mandou
construir as baterias do Cortadouro, próximo de Alcoutim, a do Serro de Santa
Bárbara (vulgo Serro da Mina), em frente do Castelo de Sanlúcar e a do Serro do
Vascão.
Soldados franceses |
Entretanto, é criada uma
Esquadrilha do Guadiana a cargo do piloto-mor de Vila Real de Santo António,
Veríssimo de Lima.
A Divisão do General Avril
teve por missão, que não cumpriu, entrar na Andaluzia por Alcoutim. A presença
das tropas inglesas nas proximidades da foz do Guadiana modificou o plano dos
franceses.
Os algarvios vão avançando
pelo Alentejo apoiando e fomentando os levantamentos locais até Lisboa.
Militarmente os franceses,
comandados por Delaborde, são batidos na Roliça (17.8.1808) e no Vimeiro,
comandados por Junot (21.8.1808) pelas tropas anglo-lusas, comandadas por
Wellesley e em 30 do mesmo mês é assinada a Convenção de Sintra pela qual Junot
e as suas tropas foram obrigados a sair de Portugal.
NOTAS
(1) - Livro de Despesas e Receitas da Real
Confraria da Capela de Nª Sª da Conceição, iniciado em 1804, pág. 27 verso
e 28.
(2) - A Escultura de
Madeira no Concelho de Alcoutim do Século XVI ao Século XIX, Francisco
Lameira e Manuel Rodrigues, 1985, pág. 22
(3) - História de
Portugal, Joaquim Veríssimo Serrão, Vol. VII - pág. 49.
(4) – A Invasão de
Junot no Algarve (Subsídios para a História da Guerra Peninsular – 1808 – 1814),
Alberto Iria, Lisboa MMIV (edição facsimilada de 1ª datada de 1941) p. 114.
(5) – Idem, ibidem, p. 115
(6) – Idem, ibidem, p. 121
(7) – Idem, ibidem, p. 130
(8) – Gazeta de Lisboa
de 14 de Junho de 1809