segunda-feira, 25 de junho de 2012

Guerra Peninsular - 1ª Invasão Francesa (1807/1808)


Ao estabelecer o Bloqueio Continental, Napoleão exigia que Portugal fechasse à Inglaterra os seus portos, declarando-lhe guerra e mandando retirar o seu embaixador em Londres. Portugal não o fez, então a França e a Espanha assinam o Tratado de Fontainebleau (27.10.1807) no qual se projecta dividir Portugal em três partes.

Em 17 de Novembro de 1807 os franceses sob o comando do General Andoche Junot entram em Portugal e quando chegam a Lisboa já a família real tinha embarcado para o Brasil.
Junot
As tropelias dos franceses fazem-se sentir por onde passam e cada vez mais se cerceavam os direitos dos portugueses.
A agitação, apesar das medidas extremamente punitivas “decretadas” por el-rei Junot, começa a aparecer em vários pontos do País, de Lisboa ao Porto, de Trás-os-Montes ao Algarve, sendo Olhão a primeira terra algarvia a lançar o seu grito de revolta, o que aconteceu em 16 de Junho de 1808.

Naturalmente, o que aqui se pretende fazer é referir o que se passou em Alcoutim.


A presença dos soldados de Junot na vila de Alcoutim, mais propriamente, na Capela Real de Nª. Sª. da Conceição, é um facto que ficou registado no livro de contas daquela confraria. (1) Referente ao ano de 1808, existe um lançamento do seguinte teor:- despendeo com a limpeza do soalho da Igreja que tudo ficou immundo pela assistência dos franceses e caiadura de tudo (...) reis. Mais adiante, outro lançamento que reza assim: - despendeo com consertos no canto do adro (...) também devido à presença, digo violência (o sublinhado é nosso) dos franceses (...) .

É fácil deduzir que as tropas francesas transformaram a igreja em cavalariça, como era seu hábito.

As atrocidades cometidas não seriam poucas, já que o escrivão ao referir a presença emendou para violência.

Em 21 de Outubro de 1807 é expedida carta do Palácio Episcopal de Faro ao vigário de Alcoutim para remessa àquele Palácio da prata das igrejas do seu “distrito”, peças que deverão ser separadas por igrejas e acompanhadas de uma relação, ficando nos templos só o indispensável para o exercício do culto. O pároco de Giões, com alguns paroquianos, resolveu vender as peças para não ter o tal Francez couza alguma desta Igreja. (2)

Igreja ou Capela de Nª Sª da Conceição. Des. de JV


A sublevação do Baixo-Alentejo recebeu forte apoio da zona meridional, sendo Alcoutim, entre outros, um foco de penetração da revolta para o interior. (3)

Após o levantamento do lugar de Olhão é deliberado guarnecer Cachopo, então pertencente ao concelho de Alcoutim, de tropas e para onde foram enviadas munições. Coube ao Capitão António Fernando da Guarda Cabreira ministrar aos voluntários o ensino do manejo das armas tal a táctica de organização defensiva.(4) Para estar atento ao que se passava na Serra do Caldeirão e vigiar o que se desenvolvia na zona fronteiriça com o Alentejo, foi enviado com os seus homens o Capitão António Vaz Velho.(5)

O Coronel Maransin que estava sob as ordens do General Maurin e que se encontrava em Faro ocupou Alcoutim com a Legião do Meio-dia que acaba por abandonar pondo-se a caminho de Mértola que ocupa.

O Juiz de Fora de Alcoutim, que era partidário dos franceses, chega a Lisboa com a notícia alarmante de que os espanhóis tinham invadido o território da sua jurisdição, o que não era senão o resultado da derrota dos franceses na Andaluzia. (6)

Entretanto são eleitas, onde foi possível, juntas governativas, o que também aconteceu em Alcoutim, mas desconhecendo-se a sua constituição. (7)

Admitimos que José de Brito Magro, capitão-mor da Vila de Alcoutim, tivesse feito parte dessa Junta.

Em 5 de Agosto de 1808 ofereceu e entregou à Junta de Alcoutim 2000$000 réis, metade em papel e metade em metal. No dito mês de Agosto concorreu com 600$000 em metal, que entregou à Junta de Tavira para o fardamento do Regimento de Infantaria nº 14, colaborando assim para as urgências do Estado. (8)

Em 1809 o Bispo D. Francisco Gomes do Avelar como Governador Interino das Armas do Algarve deu o comando do Cordão do Guadiana ao tenente-coronel José da Costa Leal e Brito que mandou construir as baterias do Cortadouro, próximo de Alcoutim, a do Serro de Santa Bárbara (vulgo Serro da Mina), em frente do Castelo de Sanlúcar e a do Serro do Vascão.

Soldados franceses

Entretanto, é criada uma Esquadrilha do Guadiana a cargo do piloto-mor de Vila Real de Santo António, Veríssimo de Lima.

A Divisão do General Avril teve por missão, que não cumpriu, entrar na Andaluzia por Alcoutim. A presença das tropas inglesas nas proximidades da foz do Guadiana modificou o plano dos franceses.

Os algarvios vão avançando pelo Alentejo apoiando e fomentando os levantamentos locais até Lisboa.

Militarmente os franceses, comandados por Delaborde, são batidos na Roliça (17.8.1808) e no Vimeiro, comandados por Junot (21.8.1808) pelas tropas anglo-lusas, comandadas por Wellesley e em 30 do mesmo mês é assinada a Convenção de Sintra pela qual Junot e as suas tropas foram obrigados a sair de Portugal.

NOTAS

(1) - Livro de Despesas e Receitas da Real Confraria da Capela de Nª Sª da Conceição, iniciado em 1804, pág. 27 verso e 28.

(2) - A Escultura de Madeira no Concelho de Alcoutim do Século XVI ao Século XIX, Francisco Lameira e Manuel Rodrigues, 1985, pág. 22

(3) - História de Portugal, Joaquim Veríssimo Serrão, Vol. VII - pág. 49.

(4) – A Invasão de Junot no Algarve (Subsídios para a História da Guerra Peninsular – 1808 – 1814), Alberto Iria, Lisboa MMIV (edição facsimilada de 1ª datada de 1941) p. 114.

(5) – Idem, ibidem, p. 115

(6) – Idem, ibidem, p. 121

(7) – Idem, ibidem, p. 130

(8) – Gazeta de Lisboa de 14 de Junho de 1809