segunda-feira, 23 de março de 2009

Balurcos (...) (3ªParte)

FACTOS E ACONTECIMENTOS DE CARIZ HISTÓRICO

ACHADOS ARQUEOLÓGICOS

No Barranco do Esteiro próximo do Balurco de Baixo foi recolhido por José Leite de Vasconcellos um instrumento de ferro, uma espécie de martelo que servia para cortar e martelar, ascia ou asciola que mede de comprimento 0,165 m e encontra-se no Museu Nacional de Arqueologia. (6)

Na Cerca das Oliveiras, próximo do Cerro dos Balurcos, foram identificadas cistas da Idade do Bronze. (7)

No Cercado foram encontrados fragmentos de cerâmica comum e vidrada, à superfície do terreno. Estes vestígios datam do período islâmico. (8)

ADMINISTRAÇÃO E POLÍTICOS

Desde sempre que naturais e moradores nos Balurcos desempenharam lugares políticos no poder autárquico, nomeadamente na Junta de Paróquia (hoje de Freguesia). Recolhemos alguns dados neste sentido.
Assim, em 1850, Bento Afonso, do Montinho do Cerro, pertencia à Junta de Paróquia, o que igualmente aconteceu em 1858/59.

Em 1852/53 exerciam essas funções José Romeira Sénior do Balurco de Cima e Manuel Gomes do Cerro. Este era em 1858 o maior contribuinte do concelho.

Em 1852 faziam parte da relação dos quarenta maiores contribuintes do concelho que votavam a eleição dos lugares políticos seis balurquenses, o que é um número apreciável em relação ao concelho. Eram eles, por ordem descendente de rendimentos, Manuel Gomes, do Cerro, Manuel Gaspar, dos Guerreirinhos, José Dias Romeira, do Balurco de Cima, Bento Afonso, do Montinho do Cerro, Domingos Gomes, do Cerro e José Cachopa, igualmente do Cerro. (9)

Em 1854/55 José Dias Romeira exercia as funções de Juiz Eleito.

A nível da Presidência da Câmara temos conhecimento do Comendador Manuel da Palma, do Cerro.

Foi Presidente da Assembleia Municipal de Alcoutim durante vários mandatos, José Afonso Pereira, há muito radicado na Casa Branca.

Tanto o Presidente da Junta como a Secretária da mesma, em exercício, são naturais e residentes nos Balurcos.

Por considerarmos o espaço mais adequado, incluiremos aqui os balurquenses que serviram a Santa Casa da Misericórdia, como seus tesoureiros. Em 1743/48, Vicente Mestre e em 1756/57, Francisco Pereira.

CEMITÉRIO DA FREGUESIA DE ALCOUTIM




[Cemitério da vila de Alcoutim, des. de José Varzeano]



Há mais de vinte anos publiquei num semanário regional (11) um escrito a que dei o título de O cemitério da Vila de Alcoutim, - da origem aos nossos dias e por isso não me vou repetir no âmbito geral, ainda que naturalmente tenha de fazer algumas referências de cariz abrangente para ajudar ao enquadramento e outras mais específicas em relação aos Balurcos.

Como é sabido as pessoas enterravam-se dentro dos templos ou no seu adro e isso efectuava-se conforme a condição social e o poder económico.

Tal prática provocava falta de condições sanitárias que se iam reflectir na saúde das pessoas pelo que o liberalismo tentou pôr cobro a tal situação mas que não foi fácil de realizar pela mentalidade das pessoas devido ao aspecto religioso e porque efectivamente o poder autárquico, pelo menos o de Alcoutim, não tinha condições económicas para o fazer.

Como a situação se ia agravando e o poder central apertava, a Câmara presidida por Paulo José Lopes reúne na Capela de Nª Sª da Conceição, em 22 de Dezembro de 1843 encontrando-se o Administrador do Concelho, António Joaquim Pinto, o Prior, P. António José Madeira de Freitas (tio) e o ajudador, a Junta de Paróquia presidida por Joaquim Madeira e um grupo de cidadãos representativo da freguesia, um por cada monte, excepto a Vila que tinha dois, as Cortes Pereiras, outros dois e os Balurcos tinham três que eram José Romeira, Manuel Gomes e Domingos Vaz Reis, sendo todos já nossos conhecidos, excepto o último.

É mais um facto justificativo da importância dos Balurcos, pelo menos a nível de freguesia.

Depois da apresentação da situação acabou por ser aprovado lançar uma derrama em função dos rendimentos de cada um e mandar fazer o cemitério, junto da capela de S. Sebastião, local onde ainda se encontra, apesar de ter crescido substancialmente nos últimos anos. Só o não foi mais porque hoje raramente os corpos vão para a terra, usando-se o que localmente se designa por catacumba.


CHEIA DO GUADIANA DE 1876



[Cheia de 1997,Foto oferecida pelo Dr.L.Mene-ses]



Ainda que os Balurcos estivessem absolutamente livres das enchentes do rio, a verdade é que elas igualmente os causticavam com os prejuízos que causavam, visto muitos balurquenses serem proprietários de várzeas no rio que lhes proporcionavam alguns mimos hortícolas e onde existia a maior quantidade de oliveiras, figueiras, romãzeiras e marmeleiros, isto para indicar só os mais característicos da região. A vinha existente também aí se situava.

Apresentaram-se junto da Câmara Municipal, Maria Vicente, Vª, José Romeira Sénior e José Romeira Júnior, Tomás Gonçalves, Romão Madeira, José Pereira, Manuel Revez, Francisco da Costa, José Cavaco Grandaça, Manuel Pereira e Maria Gonçalves, Vª. Os nomes indicados estão por ordem decrescente dos prejuízos apresentados. (10)

INTEMPÉRIE MORTÍFERA

Pelas vinte e uma horas do dia 17 de Março de 1883, pairou sobre a freguesia de Alcoutim uma fortíssima trovoada, resultando ter caído um raio no Monte dos Gurreirinhos e na casa de Manuel Gaspar, onde se encontravam várias pessoas, matou um homem, feriu outro, assombrou um terceiro e matou uma vaca que estava numa arramada próxima. (11)

GRANDE GUERRA DE 1914/18

Uma informação transmitida há muitos anos por quem também esteve nesta guerra (12), diz-nos que Basílio Pedro, do Monte dos Guerreirinhos foi preso pelos alemães, tal como um Gaspar, dos Balurcos. Estiveram seis meses na Alemanha em poder dos alemães.
Aqui deixo esta pequena nota que poderá ajudar a quem pretender desenvolver o assunto.

A REVOLTA DOS BALURCOS

Em Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (Subsídios para uma monografia) 1985, p. 349 refiro aquilo que me foi possível recolher oralmente com os erros e imprecisões naturais desta circunstância mas sempre com um fundo verdadeiro.

Não há muitos anos foi-me possível obter alguns dados precisos englobados num trabalho de investigação histórica e publicado em 2003.

Efectivamente ocorreram motins populares durante o mês de Setembro de 1918 por todo o Algarve, incluindo este nos Balurcos.

Acontece que lavradores recusaram-se a entregar o trigo no celeiro municipal pelo preço tabelado e isto para cumprimento da lei vigente, visto os produtores serem considerados apenas detentores de cereais panificáveis.

Para que tal viesse a acontecer foi necessário a intervenção das forças militares o que deu origem a confrontos, tendo morrido um popular e outro ficado ferido, obrigando ao pedido de reforços. (13)

Os pormenores que ficaram na tradição oral estão relatados na obra que referimos.

(continua)