segunda-feira, 30 de março de 2009

D. Maria Freire de Andrade, 1ª Condessa de Alcoutim

(Publicado no Jornal Escrito Nº 73, de Julho de 2006, encarte de O Algarve nº 4867)

[A Casa dos Condes em 1969, Foto J.V.]

Era filha de João Freire de Andrade, Senhor de Alcoutim, nascido à volta de 1415 e de D. Leonor da Silva, mais nova do que o marido cerca de quinze anos.

D.Maria Freire devia ter nascido próximo de 1470.

É o segundo matrimónio dele, pois era viúvo de D. Isabel Coutinho (ou Meneses) com quem teria casado em 1 de Outubro de 1442, quando esta já era viúva. D. Isabel era filha única de D. Pedro de Meneses, 2º Conde de Viana, o do “aleo” e de sua mulher, a condessa D. Beatriz Coutinho.

Do primeiro casamento de João Freire, não houve descendência.

Maria Freire era neta paterna de outro João Freire de Andrade, 2º Senhor de Bobadela e de D. Catarina de Sousa e materna de Pedro Gonçalves Malafaia, vedor da Fazenda de D. João I e de D. Isabel Gomes da Silva.

João Freire de Andrade já era falecido em 8 de Julho de 1474. O Senhorio de Alcoutim foi confirmado a sua filha em 22 de Setembro daquele ano.

D. Afonso V retirou a D. Maria Freire a dízima da alfândega de Alcoutim, dando-lhe em contrapartida dezasseis mil reais de tença.

A 13 de Julho de 1481 fez-lhe doação da dízima de todos os espelhos, aguilhós, pentes, cofres, arcas e de todas as outras coisas de que el-rei havia dízima na alfândega de Alcoutim. A Infanta D. Joana tinha a mesma mercê em relação à alfândega de Lisboa.

Há divergências quanto à data do seu casamento com D. Fernando de Meneses, filho do 1º marquês de Vila Real e que teria nascido em 1463.

A filha de Freire de Andrade era considerada formosíssima, tendo D. Fernando casado por amor, contra a vontade de seu pai mas com o aval do rei D. Manuel, seu primo.

Enquanto A. Braamcamp Freire aponta uma carta de D. Manuel I datada de 15 de Novembro de 1496, como a da criação do título de Conde de Alcoutim, pretendem outros que o mesmo tivesse sido criado em 13 de Junho de 1497, como nos indica pelo menos a Nobreza de Portugal e a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.


[Muralha do Castelo de Alcoutim, 1986, foto J.V.]

A História del Reyno de Portugal de Manuel de Faria y Sousa, de 1730, em títulos que deu D. Manuel, sem referir data, diz:- À los Primogénitos de los Marqueses de Villareal, El de Condes de Alcoutim.

Na Carta Régia de D. Manuel em que se faz nomeação do fronteiro-mor do Algarve e datada de 25 de Novembro de 1496, já se refere ao seu muito amado primo, D. Fernando de Meneses, como Conde de Alcouty o que joga com a data apresentada nos Brasões da Sala de Sintra.

Dona Maria Freire de Andrade foi Senhora e 1ª Condessa de Alcoutim e depois 2ª Marquesa de Vila Real. O Condado de Alcoutim era vasto em território, abrangendo muitas herdades espalhadas por todo o seu termo e os seus titulares possuíam variadíssimas e importantes mercês.

Em 16 de Abril de 1487 dá-se um conflito de fronteira entre Alcoutim e Sanlúcar. Cerca de duzentos homens atravessam o Guadiana numa caravela artilhada e pertença de D. Leonor, mãe de D. Maria Freire, comandada por Valentim Arrais e em nove ou dez barcos. Os sanluquenhos refugiam-se na igreja e dá-se o saque à povoação, regressando a Alcoutim e trazendo todos os barcos que se encontravam em condições.

A tudo isto assistiam D. Leonor e D. Maria, com outras alcoutenejas, das janelas da sua pousada, que presumo fossem da hoje designada “Casa dos Condes” que efectivamente ainda agora tem essa posição privilegiada.

Queixam-se os espanhóis a quem de direito, afirmando e segundo testemunhos que o facto deu-se por instigação de D. Leonor, além da caravela, era notória a presença dos seus criados, enquanto mãe e filha, ao serem consultadas sobre o assunto informam que os de Sanlúcar foram os começadores, não querendo entregar um ladrão com o furto, como lhes foi requerido e eram obrigados a fazê-lo.

Não se tratou de caso único, ao longo dos séculos foram, como é compreensível, habituais estes casos, ora de um lado, ora do outro, o que aconteceu por toda a zona fronteiriça em que havia proximidade de povoações.
Em 7 de Janeiro de 1516, D. Manuel fez-lhe doação, sendo já Marquesa, de doze arrobas de açúcar por ano.

Cataldo Sículo, humanista siciliano dirigiu à primeira condessa de Alcoutim, 2ª Marquesa de Vila Real, uma epístola em termos elogiosos excepcionais. Fez parte do pequeno número de portugueses com quem se correspondia e nos quais se incluiu o seu marido e o próprio rei D. Manuel.

Sobreviveu a seu marido que faleceu em Almeirim em 1523. Em 17 de Abril de 1526 foi-lhe passada carta de confirmação de uma tença que seus herdeiros venderam em 3 de Junho de 1532, sendo consequentemente já falecida nesta data.

Além de D. Pedro de Meneses que sucedeu a seu pai no título (2º Conde de Alcoutim - 3º Marquês de Vila Real), foram pais de, pelo menos, mais quatro filhos.
Ficamos pensativos quando ouvimos nacionais e estrangeiros no local próprio (entenda-se - Casa dos Condes, na vila de Alcoutim) solicitarem os porquês que de uma maneira geral e salvo uma raríssima excepção, não têm resposta!
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SOUSA, Manuel de Faria e, História del Reyno de Portugal , 1730
FREIRE, Anselmo Braamcamp, Brasões da sala de Sintra , 3 Volumes - apresentação e notas de Luís Bivar Guerra,IN-CM
RAMALHO, Américo da Costa, Estudos sobre o Século XVI , 1982
Nobreza de Portugal , Dir. de Afonso Martins Zúquete - 1961
Dicionário Ilustrado da História de Portugal , Publicações Alfa, 1985
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
RUBIO, Juan Luis Carriazo, "Violencia Y Relaciones Fronterizas : Alcoutim Y Sanlúcar de Guadiana a Fines Del Siglo XV "in - Actas v.l Porto - 1998, IV Jornadas Luso-Espanholas de História Medieval.