sábado, 7 de março de 2009

A pelengana


Na casa do alcoutenejo comum, o pequeno proprietário agricultor que em ocasiões especiais tinha de abandonar o seu monte à procura de trabalho onde pudesse adquirir uns tostões para fazer face à vida, deslocava-se em emigrações periódicas para o Alentejo, nomeadamente para a zona de Serpa-Moura, outros para as Fincas do país vizinho de onde traziam uns duros e bastantes para as Minas de S. Domingos, ainda que o trabalho fosse muito duro, podiam ganhar mais uns patacos, os utensílios de cozinha eram muito poucos e rudimentares.

Panelas e tigelas de barro, caçoilas, alguidares de vários tamanhos, sertãs de ferro, um ou outro prato grande (hoje designado por prato de arroz) e pouco mais.

O meu visitante/leitor sabe que eu não nasci nem fui criado por estas paragens pelo que só apanhei alguns resquícios destas vivências, pois naturalmente algumas transformações se operaram.

Uma das peças que encontrei em actividade foi a pelengana, termo que desconhecia completamente e para o qual pedi uma explicação que me foi dada com a admiração de eu não o conhecer.

Tendo eu tido sempre interesse por estas coisas, a minha observação continuou a fazer-se tanto para esta peça como para todas as outras que não conhecia e que não se usavam na zona onde nasci e fui criado ou que então tinham outros nomes e funções um pouco diferentes.

É natural que tivesse procurado dicionários que me pudessem fornecer mais elementos e verifiquei que a utilização do termo é muito variada o que acontece igualmente à ortografia. Pode dizer-se e escrever:- palangana, pelangana, plangana (1) e mesmo pelengana, que eu por aqui sempre ouvi e utilizo no título e como é referido no Dicionário do Falar Algarvio, 2ª Edição aumentada, de Eduardo Brazão Gonçalves, Algarve em Foco – Editora, 1996, p. 147.

A palavra palangana, que normalmente encabeça a entrada nos dicionários, é segundo os mesmos de origem Castelhana, tendo por base o Latim palanga.

São muitos os significados que pode ter: tabuleiro onde são levados os assados à mesa; grande tigela, alguidar, bacia (no Brasil) e no Minho, infusa ou cântara.

As pelenganas em Alcoutim eram peças de base redonda, muitas decoradas dos mais variados motivos e com bordos ligeiramente inclinados como a representada na fotografia, que tem seguramente mais de sessenta anos. Para se lhe chamar pelenganas, tinham de ser vidradas.

Não serviam diariamente mas sim em dias de nomeada. Era nelas que se vazavam, e isto para utilizar o verbo que me foi referido, os jantares de grão, feijão, fava ou couve, feitos ao fogo lento de lenha e numa panela de barro.

Apesar de todas as transformações operadas na vida dos alcoutenejos, as pelenganas continuam em uso, muitas bem velhinhas, mas outras novas pois os comerciantes ambulantes continuam a trazê-las pois sabem que se vendem com facilidade.

NOTA
(1) – http:// www.kinhost.com.br