Pequena Nota:
Como os nossos visitantes/leitores já repararam, temos vindo a publicar em tema próprio alguns apontamentos sobre montes do concelho, sendo isto uma continuação do que vínhamos fazendo na imprensa regional.
O que vamos abordar hoje, Balurcos, é dos mais importantes do concelho de Alcoutim e consequentemente tem mais para dizer, ainda que fique muito por referir nalguns assuntos, por falta de recolha e investigação, o que pensamos fazer numa próxima oportunidade.
Além disso torna-se muito extenso para publicação de uma só vez, visto tratar-se de onze folhas A/4 a que se acrescentará o espaço motivado pela inserção de ilustrações.
Nestes termos informamos os nossos visitantes/leitores que este título vai ser dividido em várias partes, o que será assinalado em numeração árabe.
INTRODUÇÃO
No âmbito dos nossos estudos que temos vindo a realizar sobre as pequenas povoações do concelho de Alcoutim, chegou a vez de o fazermos em relação a este conjunto de pequenas povoações que sempre tiveram uma vida interligada.
No concelho de Alcoutim predomina o povoamento de tipo concentrado, sendo a freguesia de Vaqueiros aquela que apresenta uma maior disseminação de fogos concentrados em pequenos núcleos habitacionais muitas vezes com uma família dominadora. Várias razões a isso motivaram mas que por agora não serão abordadas.
As pequenas povoações, aqui designadas por “montes” pelo menos desde meados do século XVIII, quando muito, dividem-se em duas, o monte de cima e o monte de baixo.
Temos contudo duas excepções a nível concelhio, onde o povoamento está mais separado, como acontece nas Cortes Pereiras e aqui nos Balurcos. Em ambos os casos, são estas as designações que se impõem. Quem quiser ir por exemplo ao Monte Longo diz que vai às Cortes Pereiras e quem desejar ir ao Deserto, diz que vai aos Balurcos. Os pequenos montes que se agregam funcionam como se fossem bairros nas povoações de maiores dimensões.
E a prova do que estamos afirmando faz-se por exemplo com a cobertura do saneamento básico (água e esgoto) que foi feita simultaneamente em qualquer um dos aglomerados populacionais o que devido à dispersão onerou bastante o encargo.
TOPONÍMIA
Pela nossa parte entendemos que o conjunto daquelas povoações deve ser designado por Balurcos e não Balurco como se ouve muitas vezes dizer. Tenho feito essa pergunta a muitos balurquenses, uns apresentam o singular, outros o plural e há aqueles que dizem que não sabem mas gostavam de saber.
Se me é permitido ter opinião, entendo que o conjunto deve ser designado por Balurcos enquanto o monte de Cima deveria ser Balurco de Cima e o de baixo, Balurco de Baixo.
Além destes temos a Casa Branca, o Deserto, o Cercado, o Cerro com o seu Montinho e o pequenino monte dos Guerreirinhos, muitas vezes designado por Guerreiros dos Balurcos para o distinguir dos Guerreiros do Rio. De uma maneira geral a estes topónimos associa-se Balurcos como designação dominadora.
Poderá dizer-se que os Balurcos se situam a cerca de oito quilómetros de Alcoutim, sendo o primeiro aglomerado que se encontra, o Balurco de Baixo, passando-lhe junto a EN 122. Tomando a EM 1057 vamos encontrando aqui e ali os outros montes, uns mais próximos da estrada, outros um pouco mais afastados. O último e neste sentido é o Balurco de Cima que ficará a cerca de dez quilómetros da sede do concelho.
No nosso trabalho publicado em 1985, Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio, Subsídios para uma monografia, nada dissemos quanto ao topónimo Balurcos pois a procura que efectuámos nas obras da especialidade e que estavam ao nosso alcance, nada nos informou.
A primeira explicação para o topónimo foi-nos dada por José Victor Adragão em ALGARVE, Novos Guias de Portugal, Editorial Presença, 1985 a páginas 183, escreveu: Já perto do Guadiana, uma região quase desértica recebeu mesmo o nome de Balurco, o que, parece, quer dizer “areia grossa” (…).
Não nos parece ser uma zona tão desértica, existem no concelho zonas muito mais áridas como acontece principalmente nas freguesias de Pereiro, Giões e mesmo Martim Longo.
Igualmente “areia grossa”parece-nos não se ajustar à zona.
A 2ª edição do Dicionário do Falar Algarvio, (1) traz-nos o significado de balurco, assim explicado: pau redondo e comprido que se introduz no olho da mó para a desmontar. A explicação ajusta-se bem a esta zona de cerros consideráveis e onde, aproveitando o vento se construíram vários moinhos de que restam o da Casa Branca e o do Deserto que funcionaram ainda nos nossos dias. Pensamos que é plausível esta explicação.
Balurcos ou Balurco é único no país.
Iremos abordar agora os outros topónimos.
[Balurco de Baixo visto da Casa Branca]
Deserto terá a ver com o adjectivo deserto? A razão para o seu aparecimento é que ninguém a conhece, mas de certeza que ela existiu. Há pelo menos mais três lugares no país com o mesmo nome, nos concelhos de Coruche, Ansião e Estremoz.
Cercado como topónimo tem por base o substantivo masculino cercado. Em toda esta zona chama-se cercado a um terreno de algumas aptidões agrícolas cercado por muros que naturalmente eram feitos de pedra solta, dificultando o acesso ao terreno que normalmente estava arborizado devido às benfeitorias feitas pelo homem. O gado, principalmente o caprino, que devido ao seu dente era o principal inimigo.
No Dicionário que normalmente utilizamos (2) só é indicado este como nome de povoação, ainda que haja outros topónimos semelhantes no sul do país.
Cerro é por demais evidente um topónimo que está relacionado com a configuração do terreno. Como nome de povoação estão identificados nove, sendo dois no concelho de Alcoutim mas se tomarmos em consideração o topónimo composto, existem mais umas dezenas.
Parece-nos que teria algum sentido se fosse designado por Balurco do Meio como por vezes acontece com três povoações próximas.
Montinho é muito simples e vulgar no país e sem qualificativo existem quarenta e seis povoações, aumentando o número consideravelmente quando é composto. Montinho é diminutivo de monte que aqui é usado como pequena povoação, logo o montinho deverá ser menor, o que por vezes não acontece.
Casa Branca é topónimo muito vulgar no país e mesmo no Brasil para onde o teríamos levado, a denominação terá vindo de uma primeira construção pintada ou melhor dizendo, caiada de branco que teria dado origem ao aglomerado.
[Casa Branca, 1989]
Encontrámos referência a dez e nas quais não se encontra esta. A sua grande maioria situa-se no sul do país.
Guerreirinhos ou Guerreiros dos Balurcos, parece-nos estar relacionado com a família fundadora do pequeno monte já que Guerreiro é nome de família muito vulgar no país, especialmente no sul e que certamente nas suas origens tem a ver com a actividade bélica.
Além de Guerreiros do Rio, existem mais duas povoações com o nome de Guerreiros, uma no concelho de Almodôvar e outra no de Loures.
(continua)