(Publicado no Jornal Escrito nº 64, de Junho de 2004, p IV e encarte de O ALGARVE nº 4799)
Fidalgo da Casa de D. Afonso V, seu aposentador – mor, (1) conforme huma carta del Rey, feita em 25 de Setembro de 1451 e outra datada em Évora a 18 de Novembro do mesmo anno. (2)
Filho secundogénito do Senhor de Bobadela e Travanca, do mesmo nome e de D. Catarina de Sousa, neto paterno de Gomes Freire de Andrade, o 1º Senhor de Bobadela e de D. Leonor Pereira, que foi dama da rainha D. Filipa e materno de Martim Afonso de Sousa, 2º Senhor de Mortágua e de D. Maria de Briteiros. Era bisneto de Álvaro Pereira “marchal” de Portugal e Senhor da Terra da Feira. (3)
João Freire de Andrade devia ter nascido no primeiro quartel do século XV (cerca de 1415).
[Armas dos Andrade]
Consta que alguns anos antes das cartas outorgadas e referidas, tinha já exercido o “dito ofício” de aposentador - mor, mas o ter sido culpado de uma morte no Algarve, o fez ausentar para Castela e Ceuta, donde se recolheu ao Reino, beneficiando do perdão geral após a batalha de Alfarrobeira. (4)
A vida deste fidalgo parece ter sido um pouco agitada.
Em Castela (1434), num torneio, quebra três lanças com um dos “contenedores” (5) que ficou rapidamente vencido. Pediu então a Sueiro de Quiñones para lhe dar mais que fazer antes de deixar a teia pois fizera tão pouco para contemplação da sua dama, que por ela ali tinha ido.
Casa com D. Isabel Coutinho (cerca de 1442), viúva de D. Fernando de Cascais, que era filha de D. Pedro de Meneses, 2º Conde de Viana e de sua segunda mulher, a Condessa D. Beatriz Coutinho, mas de que não houve geração. D. Isabel já era falecida em 1450.
Nesta altura, D. João de Andrade era considerado pelo rei como pessoa que muito foi e é em nosso desserviço. (6) mas pouco depois, mais precisamente em 20 de Abril de 1444, foi expedida uma carta de perdão a seu favor, com a condição de ir servir sete anos para Ceuta, o que fez com muito valor pelo que o rei o nomeou, como vimos, aposentador - mor.
Obtém depois, em 7 de Novembro de 1458, por carta outorgada em Ceuta, que a vila de Alcoutim fosse um couto para quinze homiziados. Os autores dos crimes, não os podiam ter praticado num raio de 50 km da vila (6) carta que veio a ser confirmada a seu genro em 12 de Julho de 1497, passando de quinze para trinta e a distância para sete léguas. (7)
Em 1465 D. Afonso V tinha-lhe feito mercê do senhorio de Alcoutim, vila de que também foi alcaide - mor.
João Freire de Andrade casou em segundas núpcias com D. Leonor da Silva, filha de Pedro Gonçalves Malafaia, rico – homem, do Conselho e Vedor da Fazenda (8) de D. Duarte e embaixador a Castela e de sua mulher, D. Isabel Gomes da Silva.
Pedro Malafaia esteve igualmente em Ceuta. Também o pai de João Freire de Andrade, do mesmo nome, tomou parte como capitão na tomada da cidade.
Deste casamento nasceu D. Maria Freire de Andrade, sua herdeira que veio a ser a 1ª Condessa de Alcoutim e depois 2ª Marquesa de Vila Real.
Foi senhor de grande número de herdades e outros bens no concelho, tendo algumas delas, segundo penso, dado origem a pequenas povoações (montes) que lhe herdaram o nome e outras mantêm-se na toponímia rústica. São exemplos no primeiro caso, Palmeira e Zorrinhos e no segundo, Diogo Lopes ou Bacelar.
Estes bens vieram a constituir o Condado de Alcoutim e mais tarde, com outros, a Casa do Infantado, extinta em 1834 e os seus bens alienados à burguesia local em meados do século XIX.
João Freire de Andrade já era falecido em 8 de Julho de 1474, segundo Braamcamp Freire.
A ligação do Senhor de Alcoutim (e que ainda não o era) aos Meneses, não produziu descendência, o que veio a acontecer mais tarde com a de sua filha, a D. Fernando de Menezes, dando origem aos Condes de Alcoutim.
NOTAS
(1)-Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira - Aposentador - antigo oficial a quem competia tratar, pelo menos com um dia de antecedência, de tudo o que se relacionasse com a aposentadoria do rei e ainda guardar os privilégios e foros dos senhores das pousadas (Viterbo)
(2)-Geografia Histórica, Luís Caetano de Lima - Lisboa, 1736.
(3)-Portugal Antigo e Moderno, A.S.B. Pinho Leal - Vol. 11, pág. 955
(4)-"Elementos para o Estudo dos Coutos de Homiziados instituídos pela Coroa" - Portugalie Histórica - Vol. II, 1974.
(5)-Significa defensor, protector.
(6)-Brasões da sala de Sintra, Anselmo Braamcamp Freire - Coimbra, 1927
(7)-Castro Marim Quinhentista - O Foral Novo (de 1504) e o Tombo da Comenda (de 1509) , Hugo Cavaco, Edição C.M. de Castro Marim,2000
(8)-Funcionário da mais alta categoria a quem cumpria a administração da Fazenda Pública, in Dicionário de História de Portugal, Dir. de Joel Serrão, Livraria Figueirinhas,Porto.