["Monte" dos Jardos. Vista parcial. Foto JV, 2010]
Para se poder alcançar de veículo automóvel esta pequena povoação que sempre pertenceu à freguesia de Vaqueiros, antes do 25 de Abril, era impossível por absoluta falta de estradas e quando elas começaram a aparecer durou algum tempo a construção de pontes, sendo a primeira na ribeira de Odeleite designada por ponte dos Bentos e só depois foi possível, mais a Este, a dos Galachos por ficar próxima deste aglomerado populacional.
Lembramo-nos perfeitamente das grandes dificuldades que os habitantes do concelho daquela zona tinham em se deslocar à sede do concelho para tratar dos assuntos que só nela podiam na altura ter lugar.
Iam como podiam, a pé ou de burro, fazendo o percurso ainda de noite, até à estrada nacional nº 122 onde apanhavam o transporte público, regressando à tarde em sentido contrário.
Possivelmente por estas circunstâncias, ainda que a freguesia de Vaqueiros pertencesse a Alcoutim, as povoações situadas na margem direita da ribeira de Odeleite, como é o caso de Jardos, estavam afectas ao termo de Tavira, visto tornar-se mais fácil a ligação àquela cidade do litoral.
A divisão de freguesia por vários termos acabou com a legislação do regime liberal então instituído no país, mais precisamente em 1836.
Como quase sempre acontece, a informação escrita mais antiga que possuímos é a que nos transmite as Memórias Paroquiais de 1758 e nelas o cura de Vaqueiros, António de Barros, que respondeu ao questionário formulado, refere esta circunstância.
Em meados do século passado, crianças de povoações mais próximas da escola da Várzea tinham que optar pela do Zambujal, mais distante, visto na época invernosa a ribeira de Odeleite não dar passagem além de motivar situações de perigo.
A construção da estrada nº 508 veio servir toda esta região e depois de passarmos pela ponte dos Galachos, no sentido Sul, encontramos à direita um pequeno ramal de umas centenas de metros, asfaltado em 1992, leva-nos à pequena povoação que nos recebe num pequeno largo onde chegava o comércio ambulante.
Dava então nas vistas, quando a visitámos pela primeira vez, em fins dos anos 80, do lado direito uma grande figueira.
O “monte”, que se situa numa pequena elevação, tem acesso também por outra estrada, a 1050, na altura não asfaltada e proveniente do “monte” das Casas.
As Memórias Paroquiais a que já nos referimos, indicam-no como possuindo três vizinhos (fogos), ao nível de muitos outros na freguesia.
Silva Lopes, na Corografia do Algarve ignora-o, tanto quanto se refere à freguesia em si como na indicação dos fogos em 1839.
Em 1984 tinha dezoito habitantes em sete fogos, havendo um emigrante. Iluminavam-se na altura com quinze candeeiros a petróleo e foi um dos “montes” estudados para a instalação da energia fotovoltaica que veio a contemplar o monte do Vale da Rosa.
Veio a ser electrificado ao mesmo tempo do seu vizinho Preguiça, em 1989. (1)
Os arruamentos estão pavimentados tendo sido beneficiados em 2006, o que aconteceu também ao troço de acesso. (2)
[Troço de acesso em reparação]
Possui lavadouro público e a água foi levada ao domicílio em 2004. (3)
Caixas de correio em painel. Recolha de lixo.
São vários os erros detectados no concelho em placas toponímicas e aqui já referimos alguns. Também a que indica este monte tem JARDO e não JARDOS como temos sempre ouvido pronunciar e lido em documentação, aliás, como escreveu o Cura António de Barros em 1758.
Quanto ao topónimo, em dicionário da especialidade (4) só encontrámos indicado uma vez Jardos, precisamente o de Alcoutim, mas tem dois no singular masculino e um no feminino, além de outros que se presumem derivados, pelo que o topónimo não é inédito.
Jardo é um apelido conhecido em Portugal desde os primórdios da nacionalidade. A sua origem parece estar no francês jeune pelo que, falando-se de pessoas se traduzirá por loiro. Monte dos Jardos quererá dizer que pertencia a elementos da família Jardo ou de indivíduos alourados? (5)
Antigamente jardo era uma espécie de lã de cor cinzenta. (6)
Onde estará a razão do topónimo?
NOTAS
(1)-Jornal do Algarve de 30 de Março de 1989.
(2)-Alcoutim, Revista Municipal, nº 13 de Dezembro de 2006, pp 13 e 15.
(3)-Alcoutim, Revista Municipal, nº 11, de Janeiro de 2005, p. 9
(4)- Novo Dicionário Corográfico de Portugal, A.C. Amaral Frazão, Editorial Domingos Barreira, Porto, 1981, p399.
(5)-Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, José Pedro Carvalho, Horizontes/Confluência, 2º Vol 1993, p 823.
(6)-“A Freguesia de Vaqueiros (Alcoutim) - do abandono de séculos aos nossos dias”, José Varzeano, in Jornal do Algarve de 17 de Outubro de 1985.