Pequena nota
Com a abordagem à Ribeira do Vascão no que concerne ao seu trajecto no concelho de Alcoutim, completámos o que pretendíamos fazer, referir as ribeiras que se desenvolvem, pelos menos em parte por terras alcoutenejas.
Referimos a Ribeira de Cadavais ou de São Marcos, depois a de Odeleite, passando a seguir para a da Foupana.
Terminamos hoje com a do Vascão.
JV
Das quatro ribeiras do concelho de Alcoutim é a única que por ele não passa, visto que só a sua margem direita banha terrenos alcoutenejos em grande parte do seu trajecto, enquanto a esquerda o faz em relação a outros concelhos, nomeadamente o de Mértola.
Nasce na Serra do Malhão (Caldeirão) no sítio chamado Vale de Éguas, concelho de Loulé. No Inverno é caudaloso recebendo vários contributos, entre eles o Vascãozinho ou Vascanito, o que impede a sua passagem onde não há pontes, no entanto no Verão quase se seca, deixando, contudo, vários e grandes pegos.
A partir das proximidades da Casa Nova do Pereirão, freguesia de Martim Longo, serve de linha divisória entre o Algarve e o Alentejo.
A primeira ponte existente no concelho de Alcoutim é a que liga Casa Nova à freguesia de Santa Cruz, concelho de Almodôvar. Estava a funcionar em 1997 e foi adjudicada por 100 mil contos.
[Ponte da Casa Nova do Pereirão]
Até à foz não passa junto a qualquer povoação ainda que muitas do concelho de Alcoutim, tal como do de Mértola lhe fiquem perto.
O Monte do Pessegueiro fica-lhe relativamente próximo, indo acontecer o mesmo ao dos Castelhanos ambos da freguesia de Martim Longo.
Em 1991 já havia estrada pavimentada até à Ribeira do Vascão onde veio a ser construida uma ponte inaugurada em 1998, tendo por localidades mais próximas Castelhanos e Penedos (São Miguel do Pinheiro).
[A Ribeira do Vascão, aos Castelhanos. Foto JV, 1992]
Para trás ficou outra ponte que no sentido Martim Longo – Pessegueiro alcança-se por uma estrada à direita, antes de chegar ao maior monte do concelho de Alcoutim.
As três pontes referidas são tudo obras realizadas depois do 25 de Abril, anteriormente utilizavam os vaus que em algumas épocas do ano davam passagem como o que servia Diogo Martins (Mértola) e Lutão (Alcoutim).
A ribeira continua o seu curso, por vezes emaranhado, pela freguesia de Giões, onde perto do Cerro das Relíquias existe uma ponte que a liga a S. Bartolomeu da Via Glória.
Próximo do Monte de Clarines e na margem esquerda, por isso no concelho de Mértola, ficando-lhe perto o Monte de Besteiros, freguesia do Espírito Santo, há uma nascente de águas sulfurosas desde sempre muito procuradas pelas gentes das redondezas e mesmo de lugares distantes para cura dos seus males. Antigamente ia-se de burro e dormia-se numa cabana. Hoje, já lá se chega de automóvel e existe casa de alvenaria com vários quartos e competentes banheiras onde os doentes se podem instalar.
[A Ribeira do Vascão na Água Santa. Foto JV]
A nascente emerge de uma fissura na rocha da encosta. Tem uma construção, espécie de guarita, com bica, de onde a água deverá ser canalizada para os balneários e possivelmente para uma outra construção ao lado, que deverá corresponder ao local de aquecimento da água. Ambas as construções se encontram num plano acima dos balneários, construídos na cobertura destes. Dessa guarita, a água é também conduzida por calha para uma outra mais abaixo com duas bicas e daqui segue para a ribeira por canalização.
Segundo nos consta, encontra-se tudo encerrado certamente por imposição legal.
As águas são indicadas para tratamento de reumatismo, doenças de pele e digestivas.
Junto ao local existem algumas árvores frondosas que proporcionam, no Verão, boas sombras, tornando-se um lugar de laser.
É também nesta freguesia que tem como afluente o barranco do Malheiro que divide a freguesia de Giões da do Pereiro.
[A Ribeira do Vascão à Ponte das Sedas. Foto JV, 1992]
Até à sua foz vamos encontrar mais uma ponte que é a mais antiga de todas, conhecida por ponte de Sedas e situada na Estrada Nacional nº 122, que liga Vila Real de Santo António a Mértola e construída na primeira metade do século passado. Separa o Alentejo do Algarve.
Tendo um curso de cerca de 70 quilómetros vai desaguar no Rio Guadiana, do qual é um dos principais afluentes em território nacional tendo por povoação mais próxima o Monte do Vascão, antigamente designado por Fonte Almece.
[A Ribeira do Vascão na sua foz]
Na freguesia de Alcoutim, entre outros, recebe o barranco do Tamejoso.
Era bastante procurada para a pesca, nomeadamente para a apanha da apreciada lampreia, efectuada de maneira muito singular.
Até meados do século passado, espalhavam-se por todo o seu curso moinhos e azenhas que iam transformando o grão em farinha, principalmente de trigo, que originava o pão cozido nos fornos locais e que constituía a base da alimentação destes povos.
Estes engenhos movidos pela força da água, tal como os moinhos de vento o foram, irão ter uma abordagem própria.