Pequena nota
Possivelmente estes limites que apresentamos neste texto poderão ter sofrido alguma alteração que desconheço.
Não percorri “marco” a marco as linhas divisórias mas certamente que por estas zonas ainda existirá gentes que as conheçam e que poderá apontar alterações se efectivamente existirem.
Pensamos contudo que não deixa de ser interessante a transcrição do texto das actas que apresentam naturalmente a linguagem e escrita da época e já são decorridos 160 anos!
JV
O vereador fiscal da Câmara de Alcoutim em sessão municipal de 2 de Janeiro de 1850, chama a atenção para o facto de serem notórios os abusos e vexames cometidos pelos “rendeiros do ver”, tanto deste concelho como dos limítrofes, para com os habitantes dos “montes” confinantes e tudo devido à falta de uma linha divisória. Pede à Câmara que tome providências no sentido de se efectuar tal divisão, uma vez que o assunto não tinha ficado resolvido da primeira vez que tinha sido posto.
A Edilidade decidiu convidar as Câmaras de Tavira e Loulé, para consigo e com a presença de informadores virem a marcar a linha divisória entre os concelhos.
Marcado o dia 28 de Fevereiro de 1850 para a divisão com Loulé, a Câmara fez-se representar pelo Presidente, Dionísio Guerreiro, de Giões, vereador José da Costa Afonso, da Finca Rodilha, sendo também presentes o Administrador do Concelho, José Cláudio da Fonseca e o secretário da Câmara, Pedro José Roiz Teixeira.(1)
[A Herdade da Finca Rodilha nos dias de hoje e que foi propriedade de José da Costa Afonso, então vereador da Câmara de Alcoutim]
A divisão foi feita pela forma seguinte: à ponta do Barranco do Malfeitoso, direito à altura da Boavida; segue pelas águas vertentes a dar ao Serro do Pego do Redondo; daí direito ao Barranco do Sabolal; segue por este a cima direito ao Serro em frente das Casas do Malhão até à estrada que vem do Ameixial para Martim Longo; mete pela estrada abaixo até à partilha da Herdade do Pereirão e segue pela partilha desta abaixo a dar à Ribeira do Vascão.
“Para comodidade dos habitantes dos montes do Lourencinho, Casa Nova e Pereirão, demarcou-se para ficar livre e comum para pastagem dos gados dos ditos montes, o terreno que vai da altura do Malhão, isto pela parte do concelho de Loulé e pela parte do concelho de Alcoutim, pela partilha da Herdade do Pereirão ao nascente, direito ao Barranco do Freixo até dar ao Vascão”.
[Casa Nova do Pereirão nos dias de hoje. Foto JV, 2010]
No que respeita à divisão com o concelho de Tavira, na parte em que confina com a freguesia de Cachopo, a reunião teve lugar no dia 4 de Março e os representantes da Câmara foram os vereadores, José da Costa Afonso (da Finca Rodilha) e Manuel Luiz e os cidadãos, José António, do Tremelgo, Miguel Gliz (Gonçalves) Teixeira e João José Viegas, de Vaqueiros.
Começa a divisão ao Barranco do Malfeitoso, ribeira abaixo até ao Pego de Domingues, meia ladeira da umbria, onde está um marco, a dar à altura da umbria, onde está outro marco, a dar ao cabo de cima do Barranco do Zambujal, onde está outro marco; água corrente, sai do barranco do Zambujal à partilha da Herdade da Castelhana, onde está outro marco; a dar ao Serro da Castelhana, onde está outro marco; a dar às juntas (!) da ribeira; cumeada acima da Rocha do Sequeira onde está outro marco a dar ao Serro da Horta do Hergoaçal, aonde está outro marco; e a dar ao Serro do Val de Vascão, a dar ao Serro do Calvário, Val da Escaleira abaixo a dar à estrada aonde está um marco, a dar à altura do Serro da Amendoeira, daí ao Serro da Sobrancelha, cumeada abaixo a dar à Eira do Carapuço e dar à Eira da Perolada, Cumeada da Cabra assada, águas vertentes a dar à Foupanilha e barranco dos Pascoaes; águas correntes, Barranco das Estreadas acima até à altura, onde está um marco, águas vertentes até à cumeada de Monchique, onde está outro marco, Barranco das Amendoeiras abaixo, onde está outro marco, meias ladeiras a dar a eira das Amendoeiras, onde está outro marco, águas vertentes a dar ao Serro das Amendoeiras, onde está outro marco; metade pela corga dos Fragis a dar à ribeira e vai pelo barranco das águas acima a dar `a cumeada dos cardos, onde está outro marco a dar ao barranco dos Canais e vai pelo barranco acima a dar à partilha do limite das Taipas com o da Azinhosa, a dar à boca do Barranco do Tojo, pelo barranco acima a dar à partilha do limite de Marroquis, a dar à cumeada `a partilha de cima e dá partindo o limite das Alcarias com o da Cabeça Gorda e daí partindo o limite da Cabeça Gorda com o d’Alcaria e também o limite de Val da Rosa com o da Cabeça Gorda.
[Alcarias. Foto JV, 2010]
Ficou por demarcar, segundo o vereador, Manuel Luiz, o limite da freguesia de Vaqueiros com o de Santa Maria de Tavira em consequência dos comissionados por aquele concelho não se acharem habilitados com os necessários esclarecimentos.(2)
Nas pesquisas que continuámos, não conseguimos encontrar a formalização desta partilha.
NOTAS
(1)-Acta da Sessão da C.M.A. de 20 de Fevereiro de 1850. Já apresentámos neste espaço notas biográficas de Dionísio Guerreiro (2009.06.16)e Pedro José Roiz Teixeira, 2009.09.23) que eram irmãos. José da Costa Afonso era grande proprietário no concelho sendo na altura proprietário da grande herdade da Finca Rodilha. José Cláudio da Fonseca foi também Presidente da Câmara.
(2)-Acta da Sessão da C.M.A. de 14 de Março de 1850.